segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"As principais políticas públicas do Dr. Epitácio Pessoa


*Artigo de Romero Cardoso

Epitácio Pessoa nasceu na região mais seca do Brasil, no pequeno lugarejo chamado de Umbuzeiro, localizado na imensidão árida do cariri paraibano.

Em 1915, quando de uma grande e marcante estiagem, conseguiu vencer monsenhor Walfredo Leal na célebre campanha para o senado.

Com esse feito, o Dr. Epitácio destronava uma das mais importantes oligarquias.

Durante a peregrinação política pela Paraíba, intensificou o contato com a populações interioranas que sofriam com os rigores do estio prolongado.

Quatro anos depois, no ano de 1919, era convocado pelos correligionários Republicanos para cumprir mandato de três anos na Presidência da República, devido à impossibilidade do titular e seu vice em completar o prazo normal.

O triênio Epitácio coincidiu com a mais extraordinária fase econômica pós-primeira guerra mundial. As matérias-primas eram compradas a preços módicos principalmente devido a necessidade da velha Europa em se reconstruir após os conflitos catastróficos.

A movimentada bolsa de valores novaiorquina, substituta do austero e tradicional centro londrino, era o termômetro econômico-financeiro daquela época de euforia inimaginável.

As divisas geradas com exportações mexeram bastante com a imaginação do confiante paraibano.

Com certeza, Epitácio Pessoa deve ter se lembrado das cenas de pobreza crônica, dos desfiles de retirantes famélicos e do clamor incontido dos ermos e esquecidos afligidos pelas grandes secas, sobremaneira a que marcou sua caminhada histórica rumo à representação no senado.

Para estruturar sua base oligárquica, Epitácio Pessoa confiou nas promessas instituídas por Campos Sales, com ênfase à política de compromissos alicerçada no mandonismo local. Portanto, era a esse que deveriam ser enfatizadas as políticas públicas ousadas que sonhavam em beneficiar uma região esquecida e marginalizada.

As principais políticas públicas do Dr. Epitácio consistiam em destinar dinheiro público para a construção de açudes no semi-árido do Nordeste brasileiro, incluindo também a estruturação de um porto fluvial no rio Sanhauá, na capital paraibana, visando cortar o cordão umbilical que ligava economicamente esse estado aos de Pernambuco e Rio Grande do Norte.

Foram contratadas empreiteiras norte-americanas. O mandonismo local estava responsável pela condução das políticas públicas que se tornaram carro-chefe do lúcido programa de governo defendido no triênio em que o paraibano Epitácio Pessoa esteve a frente da gestão federal brasileira.

O conluio da representação do imperialismo ianque com a ganância desmedida dos chefes políticos impediu acintosamente que o Nordeste, principalmente sua porção semi-árida, fosse beneficiada com reservatórios hídricos que significariam, ainda na década de vinte, esperança de melhor qualidade de vida para um povo altamente sofrido.

O porto que deveria ser construído na antiga Parahyba, hoje João Pessoa, não passou de um trapiche cinicamente montado por algum marceneiro das imediações da mata do buraquinho, contratado pelos chefes políticos nos quais Epitácio Pessoa depositou sua plena confiança.

Piadas à parte, na verdade tolheu-se o sonho da burguesia urbana da capital paraibana em ser beneficiada com extraordinária acumulação de capitais propiciada pelo comércio das exportações e importações, enriquecendo da mesma forma que os Pessoa de Queiroz em Pernambuco.

O crédulo Epitácio Pessoa chegou a acreditar que diversas fotografias do porto de Recife que eram a do tão sonhado ancoradouro do capim, por onde deveria ser escoada a produção paraibana.

Diversos personagens de Ariano Suassuna, agraciados com pomposos títulos de nobreza em louvadas obras que integram preciosas produções literárias do movimento armorial, participaram da irresponsável onda de corrupção que grassou a Paraíba no início do século passado.

A indicação de Epitácio para que os sobrinho João Pessoa assumisse o governo paraibano visava imprimir moralização administrativa, pois a forma como o grande político havia se comportado quando ministro do Supremo Tribunal Militar conferia-lhe todas as prerrogativas a fim de ocupar o cargo importante que o tio havia-lhe confiado.

Como forma de contestação ao governo do austero chefe do executivo paraibano, foi deflagrada em 28 de fevereiro de 1930, prolongando-se até o dia 26 de julho do mesmo ano, estupenda manifestação do mandonismo local à ordem estabelecida que ficou conhecida como "Revolta de Princesa".

Arthur Bernardes, mineiro que precedeu Epitácio Pessoa, ficou escandalizado com a situação apresentada no que diz respeito ao alto índice de corrupção, desestruturando as políticas públicas que caracterizaram o governo anterior.

Ganância, egoísmo e ausência de valores infelizmente se uniram para impedir que o Nordeste brasileiro fosse beneficiado pela lucidez de um dos maiores estadistas brasileiros.

*José Romero Araujo Cardoso, pombalense - Geógrafo, professor-Adjunto do Departamento de Geografia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. 
CONTATO: romero.cardoso@gmail.com

Fonte: enviado pelo autor

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