sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Devastar ecossistema e biodiversidade é mais oneroso do que preservá-los



Manter os ecossistemas preservados é menos oneroso que devastar. Essa é uma das conclusões do relatório "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade para Políticas Locais e Regionais", apresentado ontem em Curitiba. O relatório faz parte de uma série de estudos que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) está lançando para a Conferência da Biodiversidade (COP-10) em Nagoya, Japão, em outubro.

O estudo, encomendado pelo G-8 + 5 (grupo dos países mais industrializados mais Brasil, África do Sul, China, Índia e México) e conhecido em inglês como Teeb, traz uma série de exemplos de regiões que lucraram com o uso responsável dos recursos naturais. Destaca 120 exemplos de decisões políticas que alteraram realidades degradantes ao meio ambiente, contando com a participação da comunidade - como a cidade de Curitiba, no Brasil. O objetivo do relatório é chamar a atenção para os benefícios econômicos globais da biodiversidade e somar forças que permitam ações concretas.

A devastação ambiental representa perdas de US$ 2 trilhões a US$ 4,5 trilhões por ano, segundo o estudo. "Ver o tamanho econômico dos ecossistemas e deixá-los de fora das contas nacionais é um erro. Deixando isso invisível, você está criando uma falta de consciência", afirmou o economista indiano Pavan Sukhdev, coordenador do estudo.

Segundo ele, as comunidades pobres e rurais, que vivem em torno de florestas e dela retiram parte do sustento, são as que mais sofrem. No Brasil, ele estimou o número em 20 milhões de pessoas. "A biodiversidade é uma necessidade para os pobres e não apenas uma ligação afetiva para os ricos", afirmou Sukhdev.

Na questão da Amazônia, o economista acentuou que vale o "princípio do perigo". Segundo ele, a perda da Amazônia pode reduzir o suprimento de água e causar um prejuízo de US$ 1 trilhão para a produção agrícola de Brasil, Paraguai e Argentina. "Temos de tomar medidas de precaução para evitar que isso aconteça, pois é melhor errar pelo lado da precaução", diz.

O economista afirmou que o Brasil é uma "superpotência" em biodiversidade. O representante do Ministério do Meio Ambiente, Bráulio Dias, concordou com a avaliação do economista, salientando que a biodiversidade no país ainda é tratada como potencial. "Temos as mais extensas florestas e convivemos com taxa grande de desmatamento, além de um aumento no desmatamento no Pantanal, que começa a preocupar", afirmou Dias.

Açaí

Como contribuição, o cientista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre apresentou a possibilidade de agregar valor à produção do açaí como alternativa a outras culturas que degradam a Floresta Amazônica.

Segundo ele, o açaí permite renda de US$ 206 a US$ 2.272 por hectare ao ano, contra US$ 100 a US$ 400 por hectare no caso da madeira ou de US$ 100 a US$ 200 por hectare ao ano para a soja. A pecuária renderia apenas US$ 20 a US$ 70 por hectare ao ano. No entanto, Nobre ressaltou que o produto sai do campo por US$ 200 e chega aos supermercados na Califórnia por US$ 70 mil. O valor é agregado por outras empresas do Sudeste e Sul do Brasil ou de outros países e não beneficia o produtor.

Estudos serão lançados até a COP no Japão

O relatório "A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade" faz parte de uma série de cinco estudos que as Nações Unidas lançam até a Conferência da Biodiversidade (COP-10), em Nagoya, Japão, em outubro.

O objetivo do relatório é mensurar o papel dos ecossistemas e da biodiversidade na economia e alertar governantes e empresas para que se desenvolvam sem destruir o ambiente. O relatório é realizado por 140 especialistas de 40 países, com apoio financeiro da Comissão Europeia, Alemanha, Grã-Bretanha, Holanda, Noruega e Suécia.

(Evandro Fadel)

Fonte: Jornal da Ciência/O Estado de SP

Edital apoiará projetos de repatriamento de dados da flora brasileira



O Edital 56/2010 é uma parceria entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e com as fundações estaduais de amparo à pesquisa (FAPs). 

O objetivo é promover o resgate e a disponibilização das informações, para o Brasil e para o mundo, das amostras da flora brasileira coletadas até o século 20, por missões estrangeiras e depositadas no RBG de Kew no MNHN de Paris. 

As propostas serão aceitas até o dia 25 de outubro. Devem envolver projetos individuais ou em redes temáticas com o foco em pesquisas integradas ao processo de repatriamento, que contribuam para a ampliação do conhecimento e maior colaboração entre grupos brasileiros e o RBG Kew e MNHN. 

Serão investidos aproximadamente R$ 17 milhões. Cada proposta aprovada receberá o valor máximo de R$ 200 mil para projetos individuais, e de R$ 600 mil para projetos de redes, para gastos com capital, custeio e bolsas, no prazo máximo de 36 meses. 

O objetivo é apoiar projetos que visem contribuir para o resgate, uso e disponibilização on-line das informações, no Herbário Virtual para o Conhecimento e Conservação da Flora Brasileira (Reflora). 

Consulte o edital completo em:

http://www.cnpq.br/editais/ct/2010/056.htm
Fonte: Assessoria de Comunicação do CNPq

MCT cria conselho consultivo para a região Nordeste


Criado por meio de portaria do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) publicada no Diário Oficial da União em 8 de setembro, o Conselho Consultivo da Representação Regional do ministério no Nordeste será composto por representantes de órgãos, instituições e entidades públicas e privadas que atuam na promoção, gestão e fomento de atividades de pesquisa, de desenvolvimento de novas tecnologias e inovação; de entidades da sociedade civil consideradas relevantes para o progresso científico e tecnológico do Nordeste; bem como de representantes de colegiados do poder legislativo.

A SBPC poderá indicar um representante escolhido dentre os Secretários Regionais dos Estados do Nordeste, para mandato de dois anos. Também comporá o conselho, pelo mesmo período, o vice-presidente Regional Nordeste da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

O conselho consultivo terá as seguintes atribuições:

- propor políticas, programas e ações de interesse estratégico, no campo de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), para o desenvolvimento da região Nordeste a serem implementadas por agências de fomento nas esferas federais, estaduais e municipais, associando, no que couber, a atividades de cooperação com as unidades de pesquisa instaladas no Campus MCT Nordeste;

- definir mecanismos de acompanhamento e avaliação de resultados das ações e programas dos diversos agentes de apoio e fomento às atividades de CT&I, em particular das políticas de CT&I dos estados da região Nordeste, com ênfase aos aspectos sócioeconômicos;

- identificar e estimular articulações regionais que visem novas áreas de atuação para o desenvolvimento tecnológico regional, bem como propor programas que visem consolidar os projetos já existentes, potencializando a ação do Ministério na região como um todo e, em particular, maximizando a atuação do Campus MCT Nordeste nos Estados da região;

- sugerir a elaboração e execução de diagnósticos e de estudos prospectivos para subsidiar a formulação de políticas e a definição de estratégias de desenvolvimento regionais;

- subsidiar o Ministério na identificação de instituições atuantes no campo de CT&I, sediadas na região, com reais potencialidades de participação no Programa de Entidades Associadas as Unidades de Pesquisa do MCT.

Os integrantes do conselho deverão aprovar o regimento interno, que disciplinará seu funcionamento.

Leia a íntegra da portaria no seguinte link:
http://portal.in.gov.br/in/extra/arquivos/DOU1_Extra_172A.pdf
Fonte: Jornal da Ciência

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Brasil regionaliza formação de doutores


Universidades, públicas ou privadas, de 13 Estados brasileiros do Norte, Nordeste e Centro-Oeste não haviam formado sequer um doutor até 1999. Uma década mais tarde, esse quadro mudou bastante.

A formação de mestres e doutores nessas três regiões cresce proporcionalmente mais do que no Sul e Sudeste, elevando sua participação no mapa atual da pós-graduação e da produção científica do país, graças ao maior fluxo de recursos do governo federal e de agências estaduais de fomento à pesquisa.

A desigualdade na oferta de programas de mestrado e doutorado, contudo, persiste - fator que retarda o desenvolvimento e os avanços do sistema educacional, do nível básico ao superior.

O cenário regional revela forte concentração nos Estados mais ricos: em 2009, 79% dos pesquisadores brasileiros saíram das universidades do Distrito Federal, do Sul e do Sudeste, 15% das instituições de ensino superior do Nordeste e 6% das regiões Norte e Centro-Oeste; a mesma relação há dez anos apresentava distorção maior: 88%, 9% e 3%, respectivamente.

Para Danielle Carusi, pesquisadora do Centro de Estudos sobre Desigualdade e Desenvolvimento da Universidade Federal Fluminense (Cede-UFF), o atraso na criação de programas de pós-graduação e a falta de investimento nos anos 1980 reprimiram uma grande demanda no interior do país.

"Estamos num momento de retomada, o que é positivo porque descentraliza cada vez mais a formação educacional do eixo Rio-São Paulo e contribui para o desenvolvimento regional", avalia a economista.

Odenildo Sena, diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), reconhece a descentralização da aplicação de recursos federais em favor da produção de conhecimento no interior do país, mas ressalva que o momento é de "correr atrás do prejuízo".

"As melhores universidades e os melhores centros de pesquisa e de inovação tecnológica estão em São Paulo. Como competir com isso, enquanto estamos no centro da maior biodiversidade do planeta, com milhares de espécies de peixes e plantas medicinais à espera de classificação, e nos falta capital intelectual para transformar isso em conhecimento, em riqueza?", questiona.

Outra explicação para a desigualdade é histórica, diz Emídio Cantídio, diretor de programas e bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência de fomento à pesquisa do Ministério da Educação (MEC).

"A pós-graduação no Brasil é muito jovem, dos anos 1950, 1960. Começou com o nascimento das agências de fomento governamentais [Capes, CNPq e Fapesp] e se desenvolveu mais rapidamente no Sudeste, no Rio e em São Paulo, onde as universidades eram tipicamente de pesquisa."

No resto do país foi adotado um modelo de universidade focado na graduação. "Havia poucos mestres e doutores, titulação não era obrigação para dar aula. Os professores eram mais ligados ao mercado de trabalho e isso não permitia levar adiante programas de pós-graduação", lembra Cantídio, que fez parte de uma grande leva de acadêmicos brasileiros que se doutoraram no exterior nos anos 1970.

A partir desse período, os programas de pós-graduação começaram a se espalhar. Foram criadas exigências de qualificação e produção de pesquisa, seguidas primeiramente por universidades do Sul e Sudeste e, com maior atraso, por instituições do Norte e Centro-Oeste.

Goiás, por exemplo, formou seu primeiro doutor em 2000, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em 2006. Em Rondônia, o primeiro doutorado foi concluído há apenas dois anos, com a apresentação de uma pesquisa reconhecida internacionalmente sobre o controle epidêmico da malária na região amazônica.

Já Acre, Amapá, Tocantins e Roraima, todos com universidades particulares, estaduais e federais consolidadas, ainda não entraram nessa lista - Acre e Roraima são os únicos Estados do país ainda sem programas de doutorado em andamento. "A primeira pesquisa de mestrado no Acre começou em 2006, se leva algum tempo para chegar ao curso de doutorado", explica Cantídio.

O diretor da Capes acrescenta que um conjunto de políticas foi criado nos últimos anos para fortalecer a pós-graduação em regiões desfavorecidas, priorizando linhas de pesquisa com perfil regional e apostando no aumento da distribuição de bolsas de estudo.

O projeto federal Bolsa para Todos prevê que 100% dos doutorandos das regiões Norte e Centro-Oeste e grande parte dos mestrandos recebam auxílio no curto prazo. "Isso precisa ser impulsionado, é uma ideia que pressiona os pesquisadores e profissionais a permanecerem na região e ajuda no desenvolvimento, qualificando a demanda por investimentos produtivos", avalia Danielle.

De acordo com levantamento do Valor, com base em dados da Capes, entre os mais de 220 programas de mestrado e doutorado identificados hoje nas regiões Norte e Centro-Oeste destacam-se pesquisas interdisciplinares que associam direito, ciências agrárias, energia, planejamento urbano, diversas modalidades de engenharia, saúde e várias outras áreas a temas relacionados ao ambiente.

O único doutorado do Amapá, por exemplo, intitula-se biodiversidade tropical, curso que prepara pesquisadores e profissionais altamente qualificados para o aproveitamento sustentável da floresta amazônica. Além disso, há programas tradicionais, como ciências da computação, ciências sociais, administração e cursos na área de educação, cujo o alvo é melhorar a educação básica.

"Só é preciso tomar cuidado com a qualidade dos cursos oferecidos", pondera Danielle. A maioria dos programas de pós-graduação das regiões Norte e Centro-Oeste tem conceitos inferiores em comparação com as avaliações de qualidade dos cursos consolidados do eixo Sul/Sudeste. "Os cursos são avaliados a cada três anos, portanto é preciso esperar pela evolução", explica Maria das Graças Nascimento Silva, pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Universidade Federal de Rondônia (Unir).

Primeiro doutor de RO deu "muitas voltas"

A trajetória acadêmica do médico paulista Mauro Tada até o doutoramento pode ser tomada como referência para ilustrar o quadro de desigualdade regional no setor de pós-graduação e produção científica no Brasil. Em 2008, ele entrou para a história de Rondônia como o primeiro doutor titulado no Estado, mas precisou "dar muitas voltas".

Graduado pela Universidade de Brasília (UnB) em 1986 e apaixonado por medicina tropical, Tada prestou concurso e se tornou servidor público de Rondônia, onde pôde conduzir pesquisas sobre malária em Costa Marques, cidade na divisa com a Bolívia. A universidade mais próxima dali estava a mais de 500 quilômetros.

Na Secretaria Estadual de Saúde, ele dirigiu o Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (Cepem), mantido por recursos federais e de entidades internacionais. "Fui um privilegiado porque trabalhei com apoio e no maior laboratório ao ar livre para estudar malária. Não faltam recursos para a área de saúde e ambiente na nossa região, até o Bill Gates investe aqui, mas não há o mesmo interesse em outras áreas", conta Tada.

Mesmo com apoio, o pesquisador não conseguiu dar sequência aos estudos formais em Rondônia. Se deslocou para Minas Gerais para fazer uma especialização de dois anos e voltou para a UnB para o mestrado em medicina tropical, concluído em 1995. "Não havia estrutura nas universidades daqui e até hoje faltam pessoas com nível para formar novos doutores, é um processo demorado", pondera Tada.

O médico só deu início ao doutorado em 2005, desta vez em Porto Velho - a Universidade Federal de Rondônia (Unir) estava estreando a pós-graduação em biologia experimental, que atualmente abre dez vagas por ano. O primeiro trabalho de doutorado do Estado, sobre novas técnicas de controle da malária, detectou portadores assintomáticos da doença nas comunidades ribeirinhas do rio Madeira e hoje orienta políticas públicas de prevenção.

"Passamos por uma série de dificuldades: o custo de vida aqui é muito alto, há problemas de comunicação com o resto do país, problemas para o levantamento da bibliografia, numa situação comum jamais podemos pensar no que eu fiz", diz Tada, em referência à segurança financeira que tem por ser funcionário público e fazer parte de um centro de pesquisas reconhecido internacionalmente.

"Um médico concursado ganha mais de R$ 9 mil e pode se virar sem bolsa, mas é difícil um biólogo ou qualquer outro pesquisador tocar o trabalho com auxílio de R$ 3 mil por mês." Atualmente, o piso das bolsas de estudo das duas principais agências de fomento federais (Capes e CNPq) é de R$ 1,8 mil e R$ 3,3 mil para programas de mestrado e doutorado, respectivamente.

Para minimizar problemas de desigualdade na pós-graduação, Tada sugere a adoção de um "fator amazônico", ou seja, um mecanismo para garantir mais recursos públicos para bolsas de estudo e fomento à pesquisa nas regiões Norte e Centro-Oeste. "É necessário que se coloque em evidência a regionalização e os gastos para cada local. Muitos pesquisadores ganham apenas para sobreviver."

Inaugurada em 1982, a Universidade Federal de Rondônia só começou a oferecer cursos de pós-graduação em 2001, com o mestrado em biologia experimental. Atualmente são oito cursos de mestrado e um de doutorado.

Segundo a pró-reitora de pós-graduação e pesquisa Maria das Graças Nascimento Silva, a Unir tem investido em parcerias com universidades do Sudeste para ampliar o quadro de professores-doutores da Unir e, assim, criar novos programas de pós-graduação e núcleos de pesquisa.

"Eles fazem o doutorado em universidades de fora do Estado, mas voltam para cá para darem sequência ao trabalho. O próximo passo é abrir nossos próprios cursos, já que não teremos mais fugas de massa crítica como no passado", conta ela.

Maria das Graças informa ainda que a Unir espera da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) autorização para a abertura de três novos programas de doutorado (literatura, matemática e engenharia agrária) e sete de mestrado (desenvolvimento regional, administração de empresas, psicologia, letras, ciências da linguagem, geografia e educação).

"O próximo passo é melhorar o conceito dos nossos cursos para torná-los mais competitivos em relação ao resto do país, aí sim podemos dizer que a desigualdade está sendo reduzida", afirma.
(Luciano Máximo)
(Valor Econômico, 9/9)

Nota da Redação: A reportagem acima, reproduzida do jornal "Valor Econômico", deu informação incorreta sobre os valores das bolsas de mestrado e doutorado oferecidas pelo CNPq e pela Capes. O valor correto é R$ 1.200 (mestrado) e R$ 1.800 (doutorado) e não R$ 1.800 e R$ 3.300, respectivamente.

Fonte: Jornal da Ciência

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Brasil é campeão mundial em focos de incêndio

Com mais de 50 mil pontos de fogo em 2010, o Brasil ocupa a incômoda posição de campeão em queimadas no mundo. Dos 18 países monitorados diariamente pelo Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Bolívia vem em segundo lugar, com 8.843 focos de incêndio em todo o país.

Este ano, por conta do clima seco e das altas temperaturas, a propagação do fogo tem sido mais frequente no Brasil, especialmente na região central, nos Estados do Mato Grosso, Tocantins e Goiás, que responderam por 22 mil do total de focos registrados de janeiro a agosto.

Segundo o coordenador do Programa de Monitoramento de Queimadas do Inpe, Alberto Setzer, agosto foi um mês que apresentou o índice mais alto de registro de queimadas deste ano, com 28.608 focos, mais de quatro vezes maior que no mesmo período de 2009. Comparando os números de janeiro a agosto deste ano com os de 2009, a diferença também é grande e aponta para um crescimento de 157% nas queimadas.

"Esses valores são basicamente uma indicação ou termômetro do que ocorre e se referem somente à detecção com o satélite NOAA-15 no horário do fim da tarde". Setzer explica que o número de casos de queimadas e incêndios é muito maior, pois com apenas um satélite de referência, é possível detectar cerca de 20% do que está ocorrendo em termos reais.

"Embora sejam números expressivos, em 2007 tivemos uma situação até pior, com 59.915 focos de queimadas entre os meses de janeiro e agosto. O tempo este ano tem favorecido o uso e a propagação do fogo, mas o maior vilão da história é o próprio homem", explica.

Na comparação com outros países da América do Sul, o pesquisador lembra que também é preciso levar em conta o fato de o Brasil ter uma extensão territorial bem maior que os demais países.

A Bolívia, segundo Setzer, é bem menor que o Brasil, mas o problema das queimadas lá é até pior. Paraguai, norte da Argentina, sul da Venezuela e da Colômbia e o México também são citados pelo pesquisador como locais com alto índice de queimadas. Nos últimos três anos, o Brasil vem até reduzindo o número de focos de incêndio.

Em 2007 foram registrados 202.299 focos, número que no ano seguinte caiu para 134.864. Ano passado houve uma queda de 63% em relação a 2008, com um total de 69.717 focos de queimadas.

No Brasil, segundo Setzer, mais de 99% das queimadas são provocadas pelo homem, com o objetivo de limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos, colheita manual de cana de açúcar e vandalismo, entre outras. Do ponto de vista global, segundo o pesquisador, as queimadas são associadas com modificações da composição química da atmosfera e as maiores contribuições do Brasil para a mudança do clima do planeta são provenientes do fogo na vegetação.

"As queimadas também se tornaram tema de saúde pública", diz ele. O Ministério da Saúde, informa, criou um banco de dados especial com informações sobre queimadas para orientar suas ações e minimizar problemas de aumento nas internações e mortes causadas pelas queimadas.

O monitoramento das queimadas feito pelo Inpe, considerado o mais completo e abrangente do mundo, utiliza dados de nove satélites diferentes, que produzem e distribuem, quase em tempo real, mais de 200 imagens por dia de detecção de focos de queima da vegetação. Os e-mails de alerta são enviados seis vezes ao dia para 3 mil usuários. Para usuários especiais dos dados, como os órgãos de controle e fiscalização das queimadas, as informações são liberadas menos de 20 minutos após seu recebimento e processamento.

Na segunda, o Ministério do Meio Ambiente decretou estado de emergência ambiental em 14 Estados e no Distrito Federal por causa do grande número de focos de queimadas. Com o decreto, se for preciso, os Estados podem contratar brigadistas para combater o fogo sem necessidade de licitação.

(Virgínia Silveira)

Fonte: Valor Econômico

Para reduzir mensalidade, faculdades superlotam classes e laboratórios


Instituições particulares adotam modelo de curso de graduação mais barato. Com um número maior de pessoas por sala de aula, é possível diminuir gastos com infraestrutura e professores. O ingresso de estudantes da classe C no ensino superior brasileiro está levando muitas universidades e faculdades particulares a investir num modelo econômico de curso, que associa mensalidades reduzidas com classes muito grandes, formadas em geral por mais de 100 alunos.

A estratégia permite que as instituições fechem as contas no azul, mesmo cobrando mensalidades entre R$ 300 e R$ 500. Com salas maiores, caem os gastos com infraestrutura e, principalmente, o investimento em corpo docente - quanto maiores são as turmas, menos professores são necessários.

O modelo, porém, é polêmico. Alguns alunos aprovam, pela vantagem da mensalidade mais barata. Outros reclamam da bagunça nas aulas, da dificuldade para ouvir os professores, da pouca atenção para cada aluno e da falta de condições apropriadas em laboratórios.

Ao entrar em Educação Física da Universidade Paulista (Unip) no ano passado, Carolina Paiva, de 21 anos, não imaginava que a quantidade de colegas de sala representaria uma barreira ao aprendizado. No laboratório de anatomia, os mais de 100 alunos tinham de se espremer em volta do professor e do único exemplar de corpo.

"As aulas práticas também não eram produtivas. Para tudo era preciso ficar esperando", conta. Segundo a estudante, a situação melhorou este ano porque a alta evasão reduziu a turma quase pela metade.

Aluno do 3º ano de Ciências da Computação na Universidade Nove de Julho (Uninove), Caio Leandro Alves Madeira, de 20 anos, conta que no início do curso, quando sua turma tinha 80 alunos, faltavam até carteiras na sala e as aulas eram muito tumultuadas. "Não é como nos EUA, onde as salas são cheias, mas todo mundo é interessado", diz. Como resultado, muita gente desistiu do curso, sobrando apenas cerca de 30 alunos. "Está bem melhor, mas ainda hoje, nas aulas práticas, ficamos em dois por computador."

Ademir Fonseca, de 40 anos, no último ano de engenharia elétrica da Uninove acredita que sua sala, com 70 alunos, tem um "tamanho bom". Ao menos para aulas expositivas. "O problema mesmo é nos laboratórios. Tem sempre pouco equipamento. Falta até cadeira para todo mundo."

A turma de contabilidade de Agnon Antônio da Silva Junior, na FMU, começou com quase 100 estudantes. "Fica uma bagunça", diz.

A reclamação é a mesma de Fernanda Zanco, de 21 anos, no 3º ano de administração na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). "Com 80 alunos, se o professor faz uma piada, leva dez minutos até acalmar a classe", diz.

Para o consultor em ensino superior Ryon Braga, o problema não está no tamanho das turmas em si, mas em como a instituição de ensino monta seu projeto pedagógico. "Na aula expositiva, não importa se são 50 ou 500. Mas nas universidades são necessários também momentos de interação e discussão. Nisso as classes devem ser divididas. Não dá para ter debate em uma sala com 80", afirma.

Justificativa

Procuradas pela reportagem, a Unip e a Uninove não quiseram se pronunciar sobre o tema e as condições da sala. Para o presidente da Anhanguera Educacional, Antônio Carbonari Netto, o modelo das salas numerosas é necessário e positivo se for adotado com cuidado.

"Claro que precisa ter estrutura para atender a todos. Mas não se pode ter aula teórica para só 30 ou 40 alunos; é desperdiçar um bom professor", explica. "Muitos ainda não mudaram o paradigma, mas se você tem bons professores, ninguém reclama de estar em uma sala grande."

Segundo a FMU, "algumas turmas, pontualmente, estão sendo divididas para atender a um melhor aproveitamento pedagógico e acadêmico". A Fecap informou que o tamanho médio das turmas é de menos de 50 alunos. "Acreditamos que o sentimento não representa a opinião da grande maioria de nosso corpo discente", diz a nota.

Criação de novas salas provocou debate na USP

A criação de novas salas para evitar a superlotação fez parte de uma obra maior que provocou polêmica e um intenso debate na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) no início do ano. A instituição costumava ter 130 alunos por classe nos primeiros anos do curso.

Uma iniciativa do ex-diretor e atual reitor da universidade, João Grandino Rodas, retirou do prédio principal da faculdade uma das bibliotecas. A intenção era criar salas de aula no local, para dividir as turmas dos primeiros anos.

A reforma em um prédio tombado, e sem consulta prévia aos corpos de professores e estudantes, provocou protestos. Mesmo assim, parte da reestruturação do prédio continuou a ser feita - e as classes dos 1º e 2º ano agora têm, em média, 60 alunos.

Exemplos

No entanto, classes com um número muito grande de estudantes continuam a fazer parte do cotidiano de algumas instituições públicas, estaduais e federais. E, em alguns casos, também são motivo de reclamação dos alunos.

Algumas universidades optam por uma turma grande nos primeiros anos de curso, quando todos os estudantes devem cursar as mesmas disciplinas. É o caso dos cursos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). As turmas são grandes e acabam sendo reduzidas pela metade apenas nas aulas de laboratório, o que já gerou muitas manifestações.

O mesmo acontece na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). No curso de Medicina, as aulas expositivas dos primeiros anos são ministradas em classes com 120 alunos.

No entanto, na hora de ir ao laboratório ou nas aulas práticas, a turma é dividida uma ou mais vezes, dependendo da necessidade da matéria. De acordo com os estudantes, uma peça no laboratório de anatomia em geral fica a disposição de 10 alunos.

(Luciana Alvarez)

Fonte: O Estado de SP

Começa processo de construção do Centro de Lançamento de Alcântara (MA)


Em solenidade marcada para esta quinta-feira (9/9), às 11h, em Alcântara (MA), será lançada a pedra fundamental das obras de construção do centro de lançamento da binacional brasileiro-ucraniana Alcântara Cyclone Space (ACS).

Participam do evento o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, representantes da Agência Espacial Brasileira (AEB/MCT), os diretores da ACS, Roberto Amaral e Oleksandr Serdyuk, e do Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeronáutica (DCTA).

As autoridades também visitam as obras da nova Torre Móvel de Integração (TMI) e a nova Sala de Controle do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA).

As obras do sítio de lançamento da ACS devem começar ainda este ano. Atualmente, é feita a supressão vegetal nos 500 hectares do terreno que abrigará o complexo espacial. A expectativa da binacional é lançar o primeiro foguete Cyclone-4 em fevereiro de 2012.

A nova Torre Móvel é apontada como uma das plataformas mais modernas do mundo para veículos espaciais do porte do Veículo Lançador de Satélite (VLS). Com o término dos trabalhos de construção e montagem, começarão os testes funcionais com a utilização de um mock-up (maquete em escala real) do VLS.

Já a Sala de Controle (CCT), do CLA, foi modernizada para atender, principalmente, os requisitos para o lançamento do Cyclone-4.

As atividades de implantação do novo centro começaram em 2009, e incluíram, também, a modernização do Centro de Controle Avançado (Casamata) e mais 21 posições operacionais distribuídas pelo CLA, como radares, telemetria, tratamento de dados, meteorologia, subestações de energia, central telefônica, central elétrica, sistemas de comunicação por microondas, telecomando, prédios operacionais do Setor de Preparação e Lançamento, portarias, bombeiros, casa de apoio, etc.

Estão incluídos, ainda, na modernização a sala de segurança de voo, a sala de segurança de superfície, o auditório do CCT (ampliado de 50 para 70 posições), a sala data center, sala de gerenciamento de crise e sala de chaveamento. As obras custaram R$ 22,3 milhões.

Fonte: Assessoria de Comunicação do MCT



Matemático brasileiro ganha prêmio por estudos sobre a teoria do caos


Um dos mais importantes prêmios científicos europeus foi concedido pela primeira vez a um brasileiro. O matemático Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências, está entre os vencedores dos Prêmios Balzan, idealizado pela fundação homônima.

Palis foi agraciado pelo seu trabalho com sistemas dinâmicos. O pesquisador do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) notabilizou-se por sua defesa da teoria do caos, que, segundo seus estudos, poderia ser usada até para administrar fenômenos aparentemente descontrolados, como o aquecimento global.

Também foi divulgado ontem o nome dos outros vencedores: o italiano Carlo Ginzburg foi agraciado por seu estudo da História europeia; o alemão Manfred Brauneck, pela pesquisa sobre teatro. O japonês Shinya Yamanaka, por sua vez, destacou-se pelo trabalho com células-tronco.

Cada um receberá o equivalente a R$ 1,6 milhão. Palis, em Londres, agradeceu aos colegas pelo reconhecimento:

- Muitas vezes este prêmio fica restrito aos europeus. No máximo, sai daquele continente para ser entregue a um americano. Por isso foi tão surpreendente ser lembrado - contou ao Globo. - A ciência brasileira vive um progresso excepcional. Quero dividir este momento com meus colegas do país, não só os matemáticos. Sou um produto deste meio, que está em franca evolução.

Fenômenos naturais poderiam ser controlados

Doutor honoris causa em universidades do Chile e da Inglaterra, Palis acredita que fenômenos naturais como o aquecimento global, embora respondam a um modelo de sistemas caóticos, podem ser controlados. Sua evolução varia de acordo com a condição inicial. Se a "partida" de um determinado sistema for diferente, sua evolução pode se dar de forma totalmente distinta.

Esta conclusão tem como base a teoria do caos, cuja origem remonta aos estudos do matemático francês Henri Poincaré (1854-1912). De acordo com levantamentos realizados a partir daí, boa parte dos fenômenos seria previsível, caso sua situação inicial fosse conhecida.

Palis, no entanto, reconhece a impossibilidade de controlar todos os fatores de um sistema caótico - o movimento dos astros ou a expansão de endemias, por exemplo. O brasileiro justificou essa dificuldade três anos atrás, em uma conferência em Madrid, afirmando que "a incerteza é muito comum em nossas vidas".

A Fundação Balzan, baseada em Milão e Zurique, entregará os prêmios em Roma, no dia 19 de novembro. A entidade foi criada em 1956 por Angela Lina Balzan em homenagem a seu pai, Eugenio. O jornalista italiano fugiu de seu país em 1933, para evitar que seu periódico fosse transformado em um meio de propaganda fascista.

A cada ano, a fundação determina as áreas prestigiadas com o prêmio. No ano que vem, será a vez de estudos sobre primórdios do Universo, História antiga, Iluminismo e biologia teórica.

(Renato Grandelle)

Fonte: Jornal da Ciência/O Globo

Caso da Receita: PF e mídia vão agir de forma republicana?


por Luiz Carlos Azenha

Houve violação de sigilo na delegacia da Receita Federal em Mauá. Isso é liquido e certo. Como venho escrevendo, desde que surgiram as denúncias, é preciso cuidado. Assim como o sigilo fiscal é garantido constitucionalmente, o mesmo vale para a presunção de inocência.

1) Pode ter sido um esquema político (do PT? do próprio PSDB?); 2) Pode ter sido um esquema de bandidagem pura e simples; 3) Pode ter sido um caso plantado para utilização num momento eleitoral como este.

Como eu frisei anteriormente, embora nunca tenha participado de campanhas eleitorais, a não ser como jornalista, sei que em torno delas flutua um submundo: arapongas, ex-arapongas, policiais, ex-policiais, operadores, leões de chácara e outros tipos. Como informação é um dado essencial em qualquer campanha, é apenas natural que se busque informação sobre os adversários. É a origem dos dossiês que frequentam as campanhas brasileiras desde sempre.

Este é um submundo de alianças tênues, que flutuam de acordo com o poder (e o dinheiro). A informação hoje usada contra um partido pode se voltar contra outro, e vice-versa.

Além de investigar os petistas suspeitos, se houver, é importante que a Receita e a Polícia Federal considerem também os fatos conforme a conjuntura de setembro do ano passado, que é quando os vazamentos aconteceram. O que se passava, então? Uma disputa interna no PSDB entre os grupos políticos de Aécio Neves e José Serra. Meses antes, num jornal paulista, foi publicado o famoso artigo Pó pará, governador?, assinado por aliado de José Serra. No início de novembro, Aécio Neves foi acusado de bater numa acompanhante, em público.

O melhor texto que conheço a respeito foi escrito pelo Leandro Fortes, da CartaCapital. Foi reproduzido no Viomundo, na época: O dossiê do dossiê do dossiê. Leiam. Serve para refrescar a memória de todos.

Escreveu o Leandro Fortes, então:

“Em uma entrevista que será usada como peça de divulgação do livro e à qual CartaCapital teve acesso, Ribeiro Jr. afirma que a investigação que desaguou no livro começou há dois anos. À época, explica, havia uma movimentação, atribuída ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), visceralmente ligado a Serra, para usar arapongas e investigar a vida do governador tucano Aécio Neves, de Minas Gerais. Justamente quando Aécio disputava a indicação como candidato à Presidência pelos tucanos. “O interesse suposto seria o de flagrar o adversário de Serra em situações escabrosas ou escândalos para tirá-lo do páreo”, diz o jornalista. “Entrei em campo, pelo outro lado, para averiguar o lado mais sombrio das privatizações, propinas, lavagem de dinheiro e sumiço de dinheiro público.”

Amaury tem dito e reiterado que seu livro inclui apenas documentos oficiais e que não se baseia em quebras de sigilo. Mas será que o “outro lado” a que se refere o jornalista ficou apenas por conta dele? Teria havido outros operadores? Poderiam ser eles os responsáveis pelo que aconteceu em Mauá?

Gostaria muito que tudo ficasse devidamente esclarecido, se possível antes do primeiro turno. Seria melhor para a democracia brasileira. Temo, no entanto, que as informações virão à tona incompletas e deformadas pelos interesses políticos e partidários do momento. Mantido o padrão de 2006, teremos uma investigação midiática centrada apenas nos alvos que interessam a José Serra. Resta esperar uma ação rápida da PF, que não deixe pedra sobre pedra.

Fonte: NovaE

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Avanço da energia eólica afeta biomassa



Usineiros e especialista dizem que competição com centrais eólicas é desigual devido a incentivos do governo. Produtores de energia eólica surpreenderam no último leilão. 

O sucesso da energia eólica nos leilões do governo está incomodando os produtores de biomassa e provocando uma disputa entre os geradores desses dois segmentos. Para os produtores de biomassa, é desigual a competição entre a energia produzida com o vento e a resultante da queima do bagaço da cana-de-açúcar. 

"Só a energia eólica tem financiamento do Banco do Nordeste [BNB] de pai para filho", diz Zilmar de Souza, assessor de bioeletricidade da Unica (associação dos produtores de cana), lembrando que a maioria dos projetos de bioeletricidade está no Centro-Sul do país. 

Das 70 centrais eólicas contratadas nos leilões de fontes alternativas da semana passada, 55 estão no Nordeste. Só 12 projetos de biomassa foram selecionados. O preço médio da energia eólica contratada ficou em R$ 130,86 por MWh, ante R$ 144,20 da biomassa. 

Além do custo diferenciado nos financiamentos, Souza diz que incentivos fiscais para a instalação de usinas no Nordeste tornaram a energia eólica mais barata. O Rio Grande do Norte, por exemplo, oferece isenção de ICMS às empresas do setor. 

"Existe uma competição entre fontes diferentes que têm custos e localizações diferentes", afirma Nivalde de Castro, coordenador do Gesel (grupo de estudos do setor elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro). 

Já Ricardo Simões, presidente da Abeeólica (associação brasileira de energia eólica), diz que o grande financiador desses projetos é o BNDES, que também apoia as usinas de cana. "Eventualmente há um financiamento do BNDES mais BNB, mas não vejo muita diferença no custo dos projetos nesse aspecto", afirma. 

Efeito crise 

Segundo Simões, o ganho de competitividade da energia eólica no país está diretamente relacionado à crise econômica. "Na Europa, o setor está estagnado, e os fabricantes de equipamentos viram o Brasil como a nova fronteira no setor", diz. 

Com o aumento da oferta pelos fabricantes e a queda do dólar, o preço dos equipamentos -que representam de 70% a 80% do custo da energia eólica- caiu. Além disso, os produtores de eólica assumiram taxas de retorno menores em seus empreendimentos. "As nossas margens estão inferiores às de biomassa", diz Simões. 

Castro, da UFRJ, afirma que, como a maioria dos projetos de eólicas tem grandes grupos internacionais por trás, como Iberdrola e Suez, é mais fácil assumir margens mais apertadas em nome de preservação do mercado. 

Potencial 

Estima-se que há, no campo, potencial para produção de energia elétrica equivalente a uma Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, com 14 mil MW de capacidade. Mas a participação dos derivados de cana na oferta de energia pouco avançou nas últimas décadas. Passou de 13%, em 1984, para 18%, no ano passado, segundo dados do "Anuário de Energias Renováveis" da AgraFNP, lançado nesta semana. 

Para José Goldemberg, especialista em energia e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, faltam incentivos para a bioeletricidade. "O governo deveria encorajar a modernização das usinas, dando condições para o setor introduzir a energia de biomassa a preços mais baixos no mercado", afirma. Hoje, das 434 usinas de cana instaladas no Brasil, apenas 100 exportam energia elétrica para o sistema. 

Usineiros precisam reduzir as margens em biomassa, diz EPE 

Os produtores de cana precisam reduzir a expectativa de retorno dos projetos de bioeletricidade para oferecer energia a preços mais baixos. A avaliação é do presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim. 

"Não se pode querer o mesmo retorno de uma commodity, como o açúcar, em uma atividade que oferece uma receita estável, como o setor elétrico", afirma. 

Para Tolmasquim, como a geração de energia a partir da biomassa é um subproduto da atividade principal das usinas -produção de açúcar e álcool-, o resultado da atividade em bioeletricidade funciona como um "hedge" (espécie de seguro) de receita para o setor. 

Portanto, ele sugere que os usineiros não podem esperar a mesma margem da venda de commodities. "A venda de energia é quase uma aplicação em renda fixa", compara. 

Ele rebate as insinuações de que existem subsídios para a produção de energia eólica no Nordeste. "O financiamento que o BNDES oferece é excelente", argumenta. 

O resultado dos últimos leilões de fontes alternativas, diz Tolmasquim, revelou uma "evolução extraordinária" da energia eólica, com preço mais atrativo do que as térmicas a gás, a R$ 140 o megawatt-hora (MWh). 

O presidente da EPE garante que a produção de energia a partir da queima do bagaço e da palha da cana-de-açúcar tem espaço garantido na matriz energética brasileira. "Seria uma irracionalidade não aproveitarmos o potencial energético da cana." 

Tolmasquim afastou a possibilidade de o governo fazer leilões separados para diferentes tipos de energia alternativas, a fim de evitar uma disputa direta entre as fontes. "Fontes distintas em um mesmo leilão evitam que conluios possam ser formados", afirma. 

(Tatiana Freitas)

Fonte: Jornal da Ciência/Folha de SP

Brasil amplia a fronteira marítima da área do pré-sal


Mudança incorpora área de 960 mil km2 à zona de soberania nacional no mar, hoje de 3,5 milhões de km2. Medida, que não conta com aval da ONU, amplia direitos do Brasil para exploração de petróleo e gás.

O Brasil decidiu não esperar o aval da ONU (Organização das Nações Unidas) para expandir, além das 200 milhas náuticas, as fronteiras de sua soberania sobre recursos minerais como petróleo e gás no fundo do mar.

A partir de uma resolução interministerial publicada na última sexta-feira, qualquer nação ou empresa que queira prospectar recursos minerais na Plataforma Continental Brasileira terá de pedir autorização ao governo.

Segundo a Folha apurou, a decisão foi tomada após consulta da Petrobras, que poderá ter até 50% do capital nas mãos da União assim que for concluído o processo de capitalização em curso. Hoje, a União detém 39,8% da empresa.

A mudança incorpora 960 mil km2, quase quatro vezes o Estado de São Paulo, à zona de soberania nacional, hoje de cerca de 3,5 milhões de km2. É uma área cobiçada em razão da possível existência de novas reservas de petróleo na área do pré-sal.

Direito do mar

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, abre a brecha para que países reivindiquem direitos sobre o oceano a até 350 milhas náuticas de sua costa. Além, portanto, da Zona Econômica Exclusiva, de 200 milhas.

Para que essa incorporação ocorra, os países signatários da convenção precisam entregar à ONU um mapeamento de sua plataforma continental, espécie de extensão submarina do território soberano.

O Brasil encaminhou esse pedido à ONU em 2004, mas, três anos depois, a organização rejeitou a proposta, após questionamento dos EUA.

Depois, a ONU requisitou que o governo brasileiro reformulasse o pleito.

A ONU não aceitou incluir 190 mil km2 distribuídos desde o Amazonas até a região Sul do país. Segundo a Marinha, o Brasil discordou e pretende apresentar nova proposta até 2012.

Consultada pela Petrobras, porém, a Cirm (Comissão Interministerial para os Recursos do Mar) entendeu que o país não precisa esperar a chancela da ONU.

Agora, cabe à ANP (Agência Nacional de Petróleo) decidir sobre as pesquisas de recursos minerais na área. Procurada, a ANP não se manifestou.

Um decreto de 1988 e uma lei de 1993 já definiam que qualquer investigação científica na plataforma continental só poderia ser feita por outras nações com autorização do governo e acompanhamento da Marinha, e que o Brasil exerce direitos de soberania sobre ela para fins de exploração de recursos naturais.

Além disso, o país se ancora no fato de que a ONU não estabelece condições e limitações de soberania sobre a plataforma continental.

Geologia da confusão

Plataformas continentais são extensões planas ou quase planas do leito submarino, que terminam nos abismos oceânicos. Elas são formadas por rochas sedimentares - exatamente o tipo de rocha na qual se formam o petróleo e o gás natural. Daí o interesse estratégico da Petrobras nessas regiões.

O único país que concluiu o levantamento de sua plataforma antes do Brasil foi a Rússia.

O pleito da Rússia também foi questionado, uma vez que incluía porções do Ártico em disputa entre EUA, Canadá, Dinamarca e Noruega.

Em 2007, a Rússia mandou um minissubmarino ao Ártico para lançar no fundo do mar uma bandeira russa - simbolizando a suposta soberania do país sobre os recursos minerais da região.

A expedição causou um incidente diplomático com o Canadá, que chamou o feito de "impostura".

País quer elevar domínio na costa do NE

A área marítima que o governo brasileiro incorporou estende mar adentro boa parte das fronteiras de onde estão hoje os principais campos de petróleo descobertos pelo país na última década.

Os campos Tupi, Carioca, Guará e Júpiter, ao longo da costa Sudeste-Sul, estão situados bem no limite da zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas.

O país também está determinado a ampliar sua soberania da região do Cone do Amazonas, entre a costa do Nordeste e os limites com a Guiana Francesa.

(José Ernesto Credendio e Claudio Ângelo)

Fonte: Folha de SP