sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Organização Educacional Farias Brito chega em Mossoró

                                                             Diretora Helenita Castro

A Organização Educacional Farias Brito, que atua no vizinho estado do Ceará, desde 1935, está chegando em Mossoró através de um convênio com o Centro Educacional Elita Carlos - CEDEC. Uma equipe de professores daquele estabelecimento, que hoje já tem até o curso de nível superior, esteve visitando vários colégios de Mossoró e terminou escolhendo o CEDEC para iniciar a atuação na cidade.

O Farias Brito foi fundado em 1935 pelo educador Adualdo Batista. Inicialmente funcionou na Rua Barão do Rio Branco, depois na Av. Duque de Caxias e, atualmente, se divide em quatro núcleos: Aldeota, Central e Seis Bocas (FB Baby e FB Júnior Seis Bocas), além além da Faculdade Farias Brito e da Sede FB Sobralense. Após Adualdo Batista, os professores Ari e Hildete assumiram a administração do Colégio Farias Brito, continuado posteriormente pelos filhos Tales, Hilda e Dayse. 

A atuação do Farias Brito em Mossoró se dará através do CEDEC, segundo a sua diretora Helenita Castro, inicialmente na 3ª série do ensino médio, com a adoção do material didático, participação dos seus professores nas salas de aula em Mossoró e dos professores de Mossoró em treinamentos, nas unidades de Fortaleza.

Outra atuação do grupo cearence será a implantação em Mossoró do seu curso pré-vestibular direcionado exclusivamente para os candidatos do curso de medicina. Segundo a diretora do CEDEC, em Fortaleza, a maioria dos aprovados para esse curso são oriundos do Farias Brito. Helenita disse que o material didático, do cursinho e do ensino médio, levará em consideração as questões das provas dos processos seletivos da UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e UFERSA – Universidade Federal Rural do Semiárido.
 
Fonte: CEDEC - (84)3321-3000

O lixo, agora entre avanços e dúvidas, Washington Novaes


"Haverá multas pesadas, de até R$ 50 milhões, para quem lançar resíduos sólidos em locais como praias ou não der destinação adequada a resíduos perigosos"

Washington Novaes é jornalista. Artigo publicado em "O Estado de SP":

Dois dias antes do último Natal, ao regulamentar por decreto-lei a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que já sancionara, o então presidente da República, acertadamente, incluiu a não geração do lixo, a redução, a reutilização, a reciclagem e o tratamento de resíduos sólidos como opções prioritárias, antes de se pensar em incineração.

Restabeleceu, assim, a direção correta, ameaçada pelo Senado, que, ao aprovar o projeto da política, suprimiu dispositivo que só permitia a queima de resíduos sólidos quanto esgotadas as outras opções. O projeto deveria ter voltado à Câmara dos Deputados - já que fora modificado. Mas não se fez isso, como já acontecera com a Lei da Ficha Limpa. O projeto foi à Presidência e ali sancionado, sem nenhum reparo.

Agora, corrige-se a má direção, mas ainda com uma ameaça no ar: o decreto-lei deixa uma brecha ao estabelecer que "a recuperação energética" de resíduos sólidos "deverá ser disciplinada em ato conjunto dos Ministérios do Meio Ambiente, das Minas e Energia e das Cidades", no máximo, em 180 dias.

Embora ovacionado pelos membros de cooperativas de catadores ao assinar o decreto durante congresso que reunia seus membros, o então chefe do governo federal deixou essa brecha, que pode até prejudicá-los. Porque cabe perguntar: que acontecerá no ato disciplinador, sabendo-se a força dos lobbies de empresas de incineração de lixo, quase todas ligadas a megaempreiteiras da área de construção, hoje com forte influência nas mais altas políticas brasileiras, principalmente nas áreas de energia, projetos habitacionais e até meio ambiente (vide licenciamento de controvertidas hidrelétricas na Amazônia)? Corretamente, porém, o decreto distingue da incineração de resíduos o aproveitamento em biodigestores ou a utilização de gases oriundos da decomposição de matéria orgânica em aterros sanitários.

De qualquer forma, além de estabelecer aquelas prioridades, o decreto-lei prevê penalidades se não cumprida a obrigação de coleta seletiva (44% dos municípios brasileiros não a fazem) e a logística reversa que torna obrigatório o retorno aos fabricantes de itens como pilhas, pneus e produtos eletrônicos, entre outros. Haverá multas pesadas, de até R$ 50 milhões, para quem lançar resíduos sólidos em locais como praias ou não der destinação adequada a resíduos perigosos.

Será obrigatória a substituição de lixões (existentes em pelo menos 50% dos municípios) por aterros, assim como a elaboração de planos de gestão também nos municípios e Estados. A coleta em qualquer lugar precisará, no mínimo, separar lixo orgânico (úmido) do lixo seco, para facilitar a reciclagem. E as cooperativas de catadores - há cerca de 1 milhão deles no País - terão linhas preferenciais de financiamento.

É um terreno no qual precisamos avançar muito e com urgência. As usinas de reciclagem do poder público no País só reciclam entre 1% e 2% do lixo domiciliar e comercial (o total é de pelo menos 230 mil toneladas diárias, segundo o IBGE 2002).

A situação - como tem sido dito tantas vezes neste espaço - só não é mais dramática graças à atuação desse milhão de catadores, que, sob sol e chuva, sete dias por semana, recolhem e encaminham a empresas que os reciclam mais de 30% do papel e papelão e parcelas consideráveis do plástico, do vidro, do pet, do alumínio e de outros materiais.

Mas os catadores precisam de projetos integrados em que, com financiamentos públicos, tenham equipamentos adequados de coleta seletiva (caminhões com contêineres separados para lixo úmido e seco), convênios remunerados pelas prefeituras, além de usinas de reciclagem onde possam transformar papel e papelão em telhas revestidas de betume (para substituir com vantagens as de amianto), reciclar o PVC e produzir mangueiras pretas, compostar o lixo orgânico e transformá-lo em fertilizante, moer o vidro e encaminhá-lo para recicladoras, assim como latas de alumínio.

Onde isso é ou já foi feito (como em Goiânia), a redução de lixo encaminhado ao aterro chega a 80%, com enorme economia para o poder público, livrando-o da dependência de grandes empresas, que hoje recebem mais de R$ 15milhões por dia para coletar e levar os resíduos para aterros ou lixões.

Esse processo permite também evitar o desperdício de materiais. Já se mencionou aqui estudo da Unesp de Sorocaba concluindo que 91% dos resíduos contidos no lixo de Indaiatuba (mais de 100 toneladas/dia) seriam reaproveitáveis ou recicláveis. Permitiria ainda aliviar parcialmente o drama das grandes cidades brasileiras, quase todas com seus aterros esgotados ou próximos disso e, alegadamente, sem recursos para implantar novas unidades.

A partir daí, surge a pressão das empresas de incineração. E por esse caminho o Recife já parte para uma usina de incineração de 1350 toneladas diárias (no momento, com licença ambiental embargada pelo município do Cabo). Unaí (MG) tomou o mesmo caminho. Barueri já está promovendo licitação para incinerar 750 toneladas diárias. São Sebastião ameaça seguir o mesmo rumo, assim como Brasília e a Baixada Fluminense (nesta, inclusive, com um projeto em Santa Cruz para incinerar resíduos perigosos).

Muitos estudiosos da área, como Cícero Bley Jr., já se cansaram de citar os problemas da incineração: custos muito altos, emissão de cancerígenos como furanos e dioxina (a não ser que a temperatura esteja acima de 900 graus - o que é difícil com a mistura de lixo úmido, que baixa a temperatura), produção de escória altamente perigosa (com metais pesados e outros tóxicos, que são carreados para os rios), geração de gases em proporção maior do que em usinas termoelétricas - entre outros problemas. Não é acaso que a resistência a esse processo cresça no mundo e já haja países que o proíbam. Sem falar em dependência tecnológica.

Vamos ver agora o que farão os três Ministérios encarregados de regulamentar a "recuperação energética" de resíduos.

Fonte: O Estado de SP

Neurocientista Miguel Nicolelis é nomeado para a Academia de Ciências do Vaticano

Instituição conta com cerca de 80 acadêmicos de várias partes do mundo, 
nomeados pelo Papa

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis foi nomeado pelo Papa Bento XVI como membro ordinário da Pontifícia Academia das Ciências. Nicolelis é professor da Universidade de Duke, em Durham (EUA) e diretor-científico do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS).

A nomeação foi divulgada pelo Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé nesta quarta-feira, 5 de janeiro.

Fundada em 1603, em Roma, a Pontifícia Academia de Ciências foi a primeira academia científica do mundo, tendo como um dos históricos membros Galileu Galilei.

Atualmente, a instituição conta com cerca de 80 acadêmicos de várias partes do mundo, nomeados pelo Papa, sob indicação do corpo acadêmico.

O geneticista Crodowaldo Pavan, falecido em 2009, e o médico Carlos Chagas Filho (1910-2000) também integraram a academia do Vaticano.


Fonte: Jornal da Ciência

Brasil é destino cada vez mais atraente para jovens cientistas, diz Economist


Em sua edição desta semana, a revista britânica The Economist afirma que o Brasil vem se tornando um destino cada vez mais atraente para a realização de pesquisas científicas e acadêmicas.

A revista traz dados que mostram o crescimento dessa área no país e cita iniciativas do governo que impulsionaram a pesquisa, que é um dos líderes mundiais em pesquisa, especialmente nas áreas de medicina tropical, bioenergia e biologia botânica.

No entanto, afirma que o maior trunfo do Brasil são as possibilidades oferecidas pelas universidades brasileiras para que os pesquisadores possam avançar.

"Você pode ter seu próprio laboratório aqui e pode até começar uma linha de pesquisa totalmente nova. Aqui, você é um pioneiro", afirma a geneticista botânica da Unicamp, na publicação.

Além disso, a revista destaca o fato de que as bolsas para pesquisadores iniciantes têm um valor equiparável aos padrões mundiais, mas faz uma ressalva: o mesmo não acontece para acadêmicos mais experientes.

Incentivo

"No entanto, a Fapesp está tentando (mudar esse cenário). A instituição publicou um anúncio na revista científica Nature sobre um programa de dois anos para se estudar em universidades de São Paulo", afirma a publicação.

"E apesar de a maioria das respostas ter vindo de cientistas de início de carreira, são os mais experientes que estão sendo chamados para conversar. E a Fapesp a espera que durante esses dois anos, eles aprendam o português e - alguns deles - decidam ficar no país."

Segundo a revista, o Brasil formou 500 mil alunos no ensino superior e 10 mil PhDs em um ano - dez vezes mais do que há 20 anos. O país também aumento sua participação no volume total de estudos científicos publicados no mundo: de 1,7% em 2002 para 2,7% em 2008.

A Economist afirma ainda que fazer parte da iniciativa científica global está ligado também ao orgulho nacional. "Ao investir em ciência em seu próprio território, países tropicais garantem que não são apenas os problemas das nações ricas e temperadas que são resolvidos".

Fonte: Jornal da Ciência

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Antropoceno, a era geológica em que o homem 'desregulou' a Terra

Glaciólogo francês Claude Lorius publica livro sobre a relação do homem 
com o planeta nos últimos 200 anos

Há 200 anos a Terra vive uma nova era geológica, o Antropoceno, que começou quando o homem tomou o controle do planeta, acelerou as emissões de C02 e 'desregulou a máquina do mundo', afirma o glaciólogo francês Claude Lorius, um pioneiros dos estudos sobre o clima, em seu novo livro "Voyage dans l'Anthropocène" (Viagem ao Antropoceno, em tradução livre).

Escrito em parceria com o jornalista Laurent Carpentier, a obra discorre sobre a modificação do clima, a acidificação dos oceanos, a erosão dos solos e a biodiversidade ameaçada.

"O homem é um agente determinante da vida sobre a Terra", explica o especialista de 78 anos que, em 2008, recebeu o prêmio "Blue Planet" por seu trabalho.

"Se existe um indicador da atividade humana, esse é o gás carbônico. Se queimamos uma floresta, fazemos uma fábrica funcionar, dirigimos um carro, tudo isso é CO2", assinala Lorius.

O conceito de Antropoceno - uma nova época geológica do Quaternário, consecutiva ao Holoceno, que começou há 10.000 anos -, foi desenvolvido em 2002 pelo geoquímico holandês Paul Crutzen e desde então abriu um espaço na comunidade científica, indica Lorius.

Para Crutzen, o Antropoceno começa no ano 1784, quando James Watt inventou a máquina a vapor.

O Antropoceno poderá ser acrescentado oficialmente à tabela dos tempos geológicos no 34o. Congresso Internacional de Geologia que será realizado de 5 a 10 de agosto de 2012 em Brisbane, Austrália, indica Lorius.

"Para nós, no entanto, esta nova era já é uma realidade", acrescenta o especialista em geleira, que contribui desde os anos 50 para o estudo da evolução do clima mediante a análise das bolhas de ar presas no gelo há milênios.

Lorius foi um dos primeiros a vincular o aumento das temperaturas e a crescente concentração de CO2.

"Tivemos uma sorte extraordinária. Acontece que a Antártica era o melhor lugar para se dar conta de que havia um problema global com o clima", explica.

Mais de 50 anos depois, o cientista admite, no entanto, que se sente pessimista quanto ao modo que a humanidade está se organizando.

"Os cientistas podem demonstrar que o planeta é único e indivisível, que só há uma atmosfera, um oceano, mas não podem demonstrar aos homens que é de interesse comum preservar o planeta", assinala.

"Reunir interlocutores com interesses tão diversos não é uma questão de ciência e sim de educação e filosofia", conclui Lorius. (AFP)

Fonte: IG

China detém desertificação


A China está ganhando aos poucos a batalha contra a desertificação, mas ainda vai levar pelo menos 300 anos até que o país recupere as terras perdidas para a areia, anunciou na terça-feira (4/1) o governo chinês.

Levantamento recente mostra que mais de um quarto do território chinês está degradado ou foi perdido para as dunas e cascalho como resultado da combinação de clima seco, séculos de plantio descontrolado e décadas de demanda excessiva por água e solo pela maior população do mundo e sua economia de rápido crescimento.

Ao anunciarem os resultados da pesquisa, autoridades florestais informaram que a desertificação se estabilizou, mas afirmaram que os esforços para recuperar o terreno perdido devem ser reforçados.

Apesar de a China estar conduzindo a maior campanha de plantio de árvores do planeta, providenciando a realocação de milhões de "ecomigrantes" e impondo restrições à condução de rebanhos e ao uso da terra, o relatório revela que "a tendência de desertificação não foi fundamentalmente revertida".

Há alguns pequenos sinais de melhoria, no entanto. Nos cinco anos até 2010, as autoridades estimam que a área desértica do país foi reduzida a um ritmo anual de 1.717 quilômetros quadrados. O resultado é 40% melhor que o verificados no quinquênio 2000-2005, o primeiro a apresentar algum tipo de ganho contra a desertificação na história da China.

Mas pelo menos 1,7 milhão de quilômetros quadrados da China - uma área maior do que o estado do Amazonas - ainda estão cobertos pelas dunas e cascalho do Deserto de Gobi. E um território ainda mais amplo sofre com a erosão causada pela água e vento ou com a salinização da terra. O governo chinês estima que 530 mil quilômetros quadrados poderão ser recuperados por meio do reflorestamento, proteção e regeneração natural.

Fonte: O Globo

Inovação: Números escondem uma realidade ainda pior, diz Protec


O presidente da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, é mais radical do que o economista David Kupfer ao criticar o comportamento da indústria brasileira no quesito inovação. Para ele, o resultado da Pintec esconde uma realidade ainda pior.

"A Pintec confunde inovação com modernização." Para Nicolsky, o crescimento da taxa de inovação expresso na pesquisa do IBGE decorre da compra de máquinas mais modernas pelas empresas. "Elas não inovam. Compram um equipamento mais moderno com inovação incorporada", disse.

Nicolsky acha que no Brasil os estudantes querem ser inventores ao estilo professor Pardal, o famoso personagem de Walt Disney, sempre debruçado sobre uma revolucionária descoberta científica. "Os estudantes querem fazer ciência e só vão para as empresas como prêmio de consolação", afirmou.

Para ele, que durante muito tempo trabalhou em empresas, o próprio sistema de incentivos, começando pelas subvenções da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é mais voltado para a academia. A maior prova, segundo Nicolsky, foi que quando o edital de subvenções de 2010 introduziu exigências que bloqueavam o acesso a empresas de origem acadêmica, houve forte redução no número de interessados.

O presidente da Protec considera que inovação é algo bem mais simples do que a busca por inventos mirabolantes. "É melhorar de alguma forma o seu produto ou o seu processo para tornar o produto melhor e mais barato", resume.

Tanto Nicolsky como Kupfer consideram que está faltando no sistema de incentivos brasileiros mais estímulo para que as empresas assumam o risco, que é alto, de pesquisar. A concessão de financiamentos, mesmo baratos, por exemplo, seria um caminho pouco produtivo, a não ser que acompanhada de mecanismos de compartilhamento da possibilidade grande de fracasso inerente a toda pesquisa.

O economista Antonio Barros de Castro, também professor da UFRJ, ex-presidente do BNDES, reconhece que entre os estudiosos da temática da indústria no Brasil "ninguém se entusiasmou" com o resultado da Pintec. Segundo ele, o mais impressionante é que na 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em maio deste ano, "ficou evidente que o Brasil vem acumulando forças para um possível desejado ingresso na economia do conhecimento".

Entre os sinais desses esforços, ele enumerou o aumento da verba do MCT "de US$ 600 milhões para US$ 2 bilhões em uma década" e a multiplicação de órgãos, tanto na esfera federal como na estadual e na municipal, voltados para o incentivo à busca da inovação.

"Sessenta por cento dos gastos com inovação na América Latina vêm do Brasil", resume Castro, que acrescenta: "Os resultados, porém, são bastante modestos". Ele acha que o furacão China inibe o apetite inovador do empresário e sugere, como vem fazendo há muito tempo, que o Brasil busque adensar as cadeias produtivas em áreas nas quais pode ser líder, como o petróleo em águas profundas e o etanol. (Chico Santos e Heloísa Magalhães)

Fonte: Valor Econômico

Para analistas, inovação segue em passo lento

Tem razão o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, ao conclamar, no seu discurso de posse, as empresas brasileiras a investir "muito mais" em inovação. Enquanto isso não ocorrer, é mera retórica esperar que o país supere o nível de uma economia medianamente industrializada e de baixa intensidade tecnológica. Essa é a única unanimidade entre acadêmicos, analistas, instituições e órgãos de governo.

Os resultados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) referentes a 2008, recentemente divulgados pelo IBGE, foram recebidos com decepção ou reservas por parte de analistas de fora e até de setores ligados ao Estado. BNDES e Finep, principais responsáveis pelo fomento à inovação no país, viram avanços. A Pintec 2008 é o retrato mais recente e completo do estágio em que se encontra o Brasil na área da inovação.

Apesar de a taxa de inovação na indústria (percentual que representa o total de indústrias ouvidas dividido pelo total das que disseram ter introduzido pelo menos uma inovação) ter passado de 33,4% em 2005 para 38,1% em 2008, o economista David Kupfer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos principais estudiosos da evolução industrial do país, constatou que quando visto mais de perto, com lupa, o resultado não é tão auspicioso quanto possa parecer.

Ele constatou que das 100,5 mil indústrias pesquisadas, apenas 4,2% realizaram atividades internas de pesquisa e desenvolvimento em 2008, ante 5,6% na Pintec de 2005. O dado é o principal indicador do esforço inovativo feito pelas empresas industriais.

"Eu gosto de ver mais as variáveis de esforço do que de resultado", disse Kupfer, que escreveu artigo no Valor analisando os números. Ressalvando a necessidade de que seja feito um mergulho mais profundo nos números da Pintec, ele alinhou outros dados que, na sua opinião, corroboram sua relativa decepção.

Sempre comparando 2008 com 2005, os gastos da indústria de transformação com pesquisa e desenvolvimento (P&D) caíram de 2,8% para 2,6% do faturamento. A proporção de pessoas ligadas a atividades de P&D em relação ao pessoal total caiu de 0,80% para 0,69%, e o número de mestres e doutores aumentou apenas de 4.280 para 4.340 em três anos.

Em análise da Pintec publicada na última edição do boletim "Radar", do Ipea, os pesquisadores Luiz Ricardo Cavalcante e Fernanda De Negri mostram pontos de concordância com Kupfer. "Embora bastante intuitiva e passível de comparações internacionais, a taxa de inovação é um indicador limitado pelas dificuldades metodológicas associadas à própria aferição da inovação e por sua dependência de fatores como a estrutura de mercado", dizem os analistas.

Para deixar claro o que significa essa relação com a estrutura do mercado eles afirmam que se, hipoteticamente, em um universo de três empresas duas disserem que inovaram, a taxa de inovação é de 67%. Mas se elas se fundirem, buscando aumentar suas escalas de P&D, o universo da pesquisa passa a ser de duas empresas e a taxa de inovação cai para 50%.

Os técnicos ressaltam a constatação feita por Kupfer de que a percentagem de empresas que realizaram esforços internos de P&D encolheu de 5,6% para 4,2%, destacando que a queda foi sistemática ao longo das quatro edições trianuais da Pintec. Na versão 1998-2000 o número era 10,29%, caindo para 5,86% na de 2001-2003 e aprofundando a queda nas versões de 2003-2005 e 2006-2008.

Segundo a análise dos técnicos do Ipea, é "pouco provável" que em 2010 tenha sido alcançada a meta estipulada pela Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) de que os gastos empresariais com P&D chegassem a 0,65% do Produto Interno Bruto (PIB). A conclusão é baseada no avanço obtido no período de 2005 a 2008.

De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a Pintec mostrou um crescimento de 10%, com o total dos gastos empresariais na área passando de 0,49% para 0,54% do PIB. Os analistas do Ipea compararam o avanço brasileiro com o de outros países e concluíram que o esforço brasileiro, embora expressivo, está sendo muito pequeno quando considerada a necessidade que o país tem de investir para reduzir o fosso tecnológico entre ele e os países que estão na fronteira tecnológica.

Os 10% de avanço brasileiro em relação a 2005 foram inferiores aos 12% dos Estados Unidos, aos 21% da China, aos 23% da Espanha, e aos incríveis 145% de Portugal, onde a taxa de investimento das empresas em P&D passou de 0,31% para 0,76% do PIB. Com base nos dados analisados, os técnicos do Ipea calculam que aumentando os investimentos no ritmo atual o Brasil precisaria de 20 anos para chegar aos níveis europeus.

Para Kupfer, a decepção veio também por conta da falta de resultados mais expressivos em um período no qual a economia brasileira cresceu em ritmo mais acelerado. De 2006 a 2008 o PIB brasileiro expandiu-se a uma média anual de 5,1%. "Parece que a indústria brasileira não investe em inovação na fase ruim porque está ruim e também não investe na fartura porque está farto", provocou.

Na sua visão, as grandes empresas internacionais tendem a introduzir no Brasil inovações disponíveis no grupo, investindo aqui mais no "D" de desenvolvimento do que em P&D. Segundo ele, a indústria farmacêutica mundial investe de 10% a 15% do faturamento em P&D, enquanto o esforço interno no Brasil não passa de 0,8%.

"É igual à indústria gráfica, que é o que a indústria farmacêutica acaba sendo no Brasil", provoca. Kupfer, um dos autores do célebre "Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira" de 1993 (coordenado por Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz), ressalta a necessidade de aprofundar o exame setorial dos dados da Pintec.

A Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) não quis se pronunciar. O gerente-técnico-regulatório da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Henrique Tada, disse que, embora as múltis invistam mais, os laboratórios nacionais já "assimilaram a ideia de que é preciso inovar" e vêm investindo de forma crescente em medicamentos.

Segundo ele, o Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos, que vai para a quinta edição este ano, tem sido um evento cada vez mais concorrido, refletindo o crescimento do esforço inovador da indústria. (Chico Santos)

Fonte: Valor Econômico

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Bioinvasor pode causar megaextinção


Esqueça os meteoritos, os supervulcões ou os raios gama do espaço. Uma nova pesquisa diz ter flagrado a causa de uma das maiores extinções do passado, e ela é bem menos apocalíptica: uma invasão biológica.

Esse tipo de invasão é cada vez mais comum hoje, quando a ação humana carrega cada vez mais espécies exóticas para todos os cantos da Terra. Essas espécies, sem inimigos naturais, viram pragas quase incontroláveis, substituindo plantas e bichos nativos com folga.

Daí a importância do novo estudo, assinado por Alycia Stigall, da Universidade de Ohio (EUA). Ao estudar a extinção em massa do fim do Devoniano, fase da história do planeta que terminou há cerca de 360 milhões de anos, a pesquisadora mostrou que espécies invasoras podem desestabilizar os mecanismos que garantem a saúde da biodiversidade.

A megaextinção do Devoniano faz parte da tradicional lista das "Big Five", os cinco grandes sumiços de espécies que já atingiram a Terra.

No caso do Devoniano, os fósseis mostram que a catástrofe atingiu principalmente os mares. Cerca de 70% dos animais marinhos teriam sumido, entre as quais gigantescos recifes de coral, formados por espécies totalmente diferentes das atuais.

O esquisito, no entanto, é que análises recentes andavam apontando uma taxa de sumiço de espécies (por unidade de tempo) não muito diferente da normal nos oceanos dessa época. Alguma coisa, portanto, não batia.

Para explicar a discrepância, Stigall analisou levantamentos de várias espécies de bichos marinhos, entre os quais moluscos bivalves (com duas conchas, como as ostras e os mariscos), braquiópodes (também criaturas de concha, mas que não são moluscos) e crustáceos predadores, primos distantes de siris e caranguejos.

Ao examinar o que acontecia com as espécies ao longo do tempo, a pesquisadora percebeu que, na verdade, não foi a taxa de extinção que aumentou: foi a de surgimento de espécies novas que diminuiu. Além disso, havia um padrão geográfico nisso tudo que, segundo Stigall, ajudou a entender o mistério.

É que, entre os caminhos mais comuns para o surgimento de uma espécie, está o aparecimento de barreiras entre dois grupos de animais (um novo rio ou uma nova cadeia de montanhas, por exemplo). Essas populações ficam separadas, não cruzam mais entre si e, com o tempo, viram espécies distintas.

Quando um cientista observa fósseis ao longo do tempo, esse tipo de evento fica claro se primeiro há só um tipo de fóssil e, mais tarde, dois tipos "filhos" ocupando áreas geográficas menores. E é exatamente isso que some no fim do Devoniano.

A explicação: eventos geológicos, de fato, cortaram as barreiras entre espécies nesse período. Para todos os efeitos, os oceanos do mundo viraram uma coisa só, de forma que espécies exóticas invadiram o território de outras com facilidade.

Resultado: concorrência desleal, da qual poucas criaturas muito versáteis saíram vitoriosas, fazendo a biodiversidade marinha encolher.

O estudo está na revista científica "PLoS One" e pode ser lido de graça na internet. (Reinaldo José Lopes)

Fonte: Folha de SP

Brasileiros ganham projeção internacional

O neurocientista Miguel Nicolelis pode receber um prêmio Nobel por seu trabalho sobre o mal de Parkinson. Outro brasileiro, o físico Daniel Vanzella, descobriu que a energia contida no vácuo é capaz de destruir estrelas. Gilberto Ribeiro desenvolve um resistor de memória capaz de mudar radicalmente o mercado de armazenagem de dados.

Ainda é raro encontrar cientistas e pesquisadores brasileiros como os da lista acima, que ocupam o topo da pirâmide acadêmica ou de inovação empresarial. O reconhecimento recente do trabalho deles, no entanto, mostra que há uma percepção internacional positiva sobre o trabalho de profissionais brasileiros, o que pode se traduzir em ganhos para a ciência no país.

Nos próximos meses, hospitais brasileiros podem abrigar a próxima fase do trabalho de Miguel Nicolelis sobre o Mal de Parkinson. Pela primeira vez, o tratamento proposto pelo neurocientista será testado em seres humanos. Em avaliação, estão instituições médicas em São Paulo e nos Estados Unidos.

Atualmente, Nicolelis divide seu tempo entre o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e o Centro de Neurociência da Universidade Duke, na Carolina do Norte (EUA). No ano passado, ele recebeu o prêmio NIH Director's Transformative R01, que concede US$ 4,4 milhões para aplicação em pesquisa, e o Director's Pioneer Award, de US$ 2,5 milhões. Os prêmios estão entre os mais cobiçados no meio científico e costumam indicar potenciais candidatos ao Nobel. Nicolelis foi o primeiro cientista a receber as duas premiações no mesmo ano.

Os recursos serão usados na pesquisa para a cura do mal de Parkinson, desenvolvida desde 2006. Nicolelis e sua equipe já haviam desenvolvido uma técnica para tratar a epilepsia, a partir de estímulos elétricos em regiões periféricas do sistema nervoso, quando perceberam que havia semelhanças no padrão de comportamento do cérebro dos portadores das duas doenças, conta o cientista.

Com a constatação, cobaias passaram a receber medicação para apresentar sintomas como os do mal de Parkinson. Depois, a equipe implantou uma prótese na medula espinhal das cobaias, que disparava estímulos elétricos. A paralisia muscular e os demais sintomas desapareceram.

Esse trabalho tem sido realizado tanto na Universidade de Duke como no IINN-ELS. "Já foram feitos testes com camundongos e primatas. Agora buscamos um parceiro clínico para fazer testes em pacientes", afirma Nicolelis. "Em dois anos será possível ter uma resposta categórica sobre o tratamento", diz.

Outra pesquisa surpreendente é comandada pelo físico Daniel Vanzella, professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e do Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP). Vanzella e o doutorando William Lima publicaram, em abril, um estudo sobre a "energia escura" na "Physical Review Letters", a mais respeitada revista de física do mundo.

O artigo teve uma grande repercussão. Embora pareça uma fantasia tirada da série de filmes "Star Wars", a energia escura intriga o meio científico há muito tempo. Na física, existem duas grandes teorias sobre o universo: a da Relatividade Geral, que descreve a organização do universo em grande escala (estrelas, galáxias etc) e a Quântica de Campos, que focada na chamada pequena escala (ligações químicas, átomos etc). Físicos no mundo tentam, ainda sem êxito, unir as duas teorias. Vanzella e seu aluno se atiraram a esse trabalho com uma análise da "energia escura". Essa força, que faz o universo se expandir de forma acelerada, exerce uma forte pressão negativa, que seria contrária à gravidade.

Os cientistas partiram do princípio de que o vácuo é preenchido por partículas virtuais, como prótons, elétrons e fótons, que surgem e desaparecem em uma fração de segundo. Imaginava-se que a flutuação dessas partículas, por ser muito rápida, não gerava efeitos nos materiais macroscópicos. Vanzella e Lima descobriram, porém, que sob algumas circunstâncias o crescimento da energia do vácuo pode ocorrer de maneira exponencial e descontrolada, podendo destruir até uma estrela de nêutrons (a matéria mais densa já encontrada no universo).

Vanzella iniciou a pesquisa na Universidade de Wisconsin, nos EUA, mas só chegou à essa conclusão em São Carlos. Agora, ele procura responder, em seu pós-doutorado, o que ocorre com uma estrela quando a energia do vácuo "desperta". "Essas são questões conceituais sobre os fundamentos da física, mas que vão ajudar a trazer um melhor entendimento sobre a natureza", afirma Vanzella.

Antes de Vanzella, outro apreciador do espaço ganhou renome. Em 2006, Marcos Pontes, tenente-coronel da Força Aérea Brasileira (FAB), hoje na reserva, participou de uma missão à Estação Espacial Internacional (ISS), com oito experimentos em microgravidade de universidades e institutos brasileiros. "No espaço, [nós, astronautas] somos as mãos e os olhos dos cientistas; executamos os experimentos", diz Pontes. Atualmente em Houston, na sede da Nasa, ele aguarda nova convocação para missões espaciais. "Espero ansiosamente por essa escalação", diz. (Cibelle Bouças)

Nas companhias, talentos ajudam a criar produtos

Não é só nos laboratórios de ciência que o trabalho de profissionais brasileiros tem encontrado eco. Nos últimos tempos, vários nomes vêm se destacando na fronteira da inovação, a aplicação da pesquisa científica na criação de produtos capazes de facilitar a vida das pessoas ou criar novos hábitos de consumo.

Alex Kippman é um desses exemplos. Na Microsoftdesde 2001, ele foi um dos principais responsáveis pela criação do Kinect. Uma das principais apostas recentes da companhia, o sensor de movimentos conecta-se ao console de videogame Xbox 360 e permite interagir com os jogos só com o movimento das mãos, sem nenhum tipo de joystick.

Durante três anos, Kippman comandou a equipe de desenvolvimento do sistema, que chegou ao mercado em novembro. O projeto foi originalmente batizado de Natal, em homenagem à capital do Rio Grande do Norte, onde ele passou parte da infância. "Em latim, Natal quer dizer novos começos", diz Kippman.

Ele desembarcou nos Estados Unidos há 14 anos para cursar a universidade. A paixão pelos games, que começou aos cinco anos, motivou a mudança de país. "Eu queria ajudar a inventar a área e não só consumir o que era vendido", diz. Recrutado pela Microsoft ainda na faculdade, ele não se interessou muito a princípio. "Não era muito fã da empresa", conta.

Uma visita à sede da companhia em Redmond, no Estado de Washington, o fez mudar radicalmente de ideia. Desde então, Kippman trabalhou em diversas áreas da Microsoft, até ser convidado para comandar o desenvolvimento do novo controle.

Para o pesquisador, o fato de o Kinect dispensar o joystick abrirá novos mercados no futuro. "Um contingente de 40 milhões a 100 milhões de pessoas no mundo inteiro têm dificuldades para entrar no mundo do entretenimento por conta dos controles."

No laboratório da Hewlett-Packard (HP), em Palo Alto, na Califórnia, Gilberto Ribeiro está à frente do desenvolvimento técnico e científico de uma descoberta que pode mudar a forma como informações são armazenadas e processadas pelos computadores: o resistor de memória, ou "memristor".

Sob o comando de Ribeiro já estiveram 30 profissionais. Hoje, eles são 10. O pesquisador está envolvido no projeto há dois anos. Sua principal responsabilidade é avaliar onde e como a tecnologia será aplicada.

Entre os principais usos do componente estão a criação de formas de armazenamento de dados e a construção de computadores que funcionem nos mesmos moldes e velocidade do cérebro humano.

Antes de trabalhar na HP, Ribeiro esteve durante nove anos no Laboratório Nacional de Luz Síncontron (LNLS), em Campinas (SP). A mudança de endereço ocorreu depois que a verba para seus projetos foi cortada. "Percebi que era hora de buscar alguma coisa fora do país", afirma. Apesar de ter mudado para os EUA, Ribeiro mantém a ligação com o Brasil. Por intermédio dele, a HP firmou um acordo com o LNLS para trabalhar no desenvolvimento do "memristor". (Gustavo Brigatto)

Falta de dinheiro, mão de obra e plano de carreira dificultam avanço no país

A produção científica no Brasil evoluiu de maneira contraditória no ano passado. O país ganhou uma posição no ranking SCImago de publicações científicas, elaborado pela SCImago Journal & Country Rank, subindo para a 14ª posição, com 34.145 publicações. O volume foi 12,4% maior que o registrado no ano anterior. O resultado, no entanto, ficou aquém da posição econômica do país - atualmente a oitava maior economia do mundo, com possibilidade de subir uma posição em 2011.

Ao mesmo tempo, o Brasil caiu 14 posições no ranking global de inovação tecnológica em 2010, passando a ocupar a 68ª colocação, de acordo com o Índice de Inovação Global, elaborado pela escola de administração Insead, em parceria com a Confederação da Indústria Indiana (CII).

Recursos financeiros escassos, déficit de mão de obra qualificada para algumas áreas da ciência e ausência de planos de carreira para pesquisadores nas universidades são alguns dos fatores que dificultam uma evolução mais célere da pesquisa científica brasileira, de acordo com os cientistas entrevistados pelo Valor.

Segundo dados preliminares do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 2010 os investimentos públicos e privados em pesquisa e desenvolvimento chegaram a R$ 44 bilhões, representando 1,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2009, os investimentos foram de R$ 51, 2 bilhões, o equivalente a 1,63% do PIB. Conforme o mais recente estudo comparativo de países divulgado pelo ministério, em 2008, o dispêndio em pequisa e desenvolvimento per capita no Brasil era de US$ 121,4 por habitante ao ano, ante U$ 1.307,60 nos Estados Unidos, US$ 1.168,50 no Japão, US$ 931,80 na Coreia, US$ 164,80 na Rússia e US$ 90,80 na China.

"A ciência ainda é um esporte de elite no Brasil", afirma o neurocientista codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University e diretor do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, Miguel Nicolelis. Na avaliação do cientista, nos últimos anos houve uma recuperação dos investimentos nas universidades, mas ainda faltam estímulos à pesquisa. Ele observa que a maioria dos pesquisadores brasileiros trabalha nas universidades públicas, mas não consegue se dedicar em tempo integral à pesquisa. "São todos professores e têm de dedicar 360 horas por semestre à licenciatura. Esse modelo atual tem de ser repensado", diz Nicolelis.

De acordo com dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, 2,6% da população ocupada (240,5 mil pessoas) no Brasil atua na área de pesquisa e desenvolvimento. Mas, desse total, só 133,3 mil são pesquisadores de fato. Dentre os pesquisadores, 56,8% estão nas universidades lecionando; outros 37,3% trabalham com pesquisa aplicada no setor privado e 5,1% estão concentrados nos institutos de pesquisa do governo.

O professor do Instituto de Física Teórica da Unesp e do Instituto de Física de São Carlos da USP, Daniel Vanzella, afirma que a falta de um plano de carreira para dedicação exclusiva à pesquisa não é o único problema nas instituições públicas. "A compra de equipamentos e material para a realização de pesquisas é feita por licitação. E como boa parte do material é importado, as pesquisas normalmente sofrem atrasos", observa Vanzella.

O astronauta Marcos Pontes afirma que a escassez de recursos financeiros, somada à falta de planos de carreira para pesquisadores e à pouca interação entre os setores público e privado fazem com que a pesquisa no país se desenvolva de maneira lenta. "Existe defasagem em áreas como nanotecnologia, materiais, dispositivos eletrônicos e microgravidade", diz. Ele observa que o crescimento econômico tem atraído investimento estrangeiro para a pesquisa, mas diz que é necessário estruturar melhor o sistema educacional. (Cibelle Bouças)

Fonte: Valor Econômico

Novo decreto regulamenta relação com fundações de apoio


Mais detalhado que o anterior (5.205/2004), o decreto 7.423 dispõe sobre o registro e credenciamento da instituição como fundação de apoio, o relacionamento com a instituição apoiada, a concessão de bolsas, os contratos e convênios e o acompanhamento e controle da execução dos contratos, entre outros pontos.

De acordo com o texto do decreto, a fundação registrada e credenciada como fundação de apoio visa dar suporte a projetos de pesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científico e tecnológico de interesse das instituições apoiadas e, primordialmente, ao desenvolvimento da inovação e da pesquisa científica e tecnológica, criando condições mais propícias a que as instituições apoiadas estabeleçam relações com o ambiente externo.

A medida considera como desenvolvimento institucional os programas, projetos, atividades e operações especiais, inclusive de natureza infraestrutural, material e laboratorial, que levem à melhoria mensurável das condições das Ifes e demais ICTs, para o cumprimento eficiente e eficaz de sua missão.

Ainda segundo o decreto, a atuação da fundação de apoio em projetos de desenvolvimento institucional para a melhoria de infra-estrutura deverá limitar-se às obras laboratoriais, aquisição de materiais e equipamentos e outros insumos especificamente relacionados às atividades de inovação e pesquisa científica e tecnológica.

Fonte: Jornal da Ciência

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Primeira prova nacional para professores será em 2012, diz Haddad

Pronto para passar mais um Ano Novo em Brasília, o ministro da Educação, Fernando Haddad, garante que até gosta da época deserta da cidade - modificada pela posse presidencial de Dilma Rousseff este ano, que promete agitar este sábado, 1º de janeiro de 2011.

Segundo ele, a última semana de todos os anos na capital é boa para "garimpar recursos no orçamento" para a área que lidera, a educação. "Sempre consigo algo. Até dia 31, estou com esperança", disse, sorridente, em entrevista exclusiva ao iG.

Bacharel em direito, com mestrado em economia e doutorado em filosofia, Haddad está à frente do ministério desde julho de 2005. Antes, em 2004, havia sido secretário-executivo do então ministro Tarso Genro. Aos poucos, ganhou a confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu perfil técnico e exigente (segundo confirmam funcionários da pasta). Em inúmeros eventos públicos, Lula fez questão de tecer elogios à atuação do ministro e garantir que as melhorias no ensino foram possíveis por conta do estilo Haddad de gerenciar.

Mesmo em momentos difíceis como na aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009, quando uma prova foi roubada, e na edição deste ano da avaliação, em que houve problemas gráficos nas provas, Lula saiu em defesa do pupilo. Em despeito das críticas, reclamações e especulações sobre a permanência de Haddad no cargo, Lula defendeu e aconselhou a presidenta eleita Dilma Rousseff a mantê-lo no Ministério da Educação. Para ele, Dilma não "aceitou" seu nome, mas o escolheu.

Para o novo período, Haddad diz que Dilma pediu atenção especial à valorização e melhorias na carreira dos professores. No início do ano, o ministro apresentará uma proposta que, para ele, deve mexer com o valor, o papel e a remuneração dos professores. Um documento com as características consideradas essenciais para um bom professor. Essa matriz servirá para a elaboração de uma prova nacional de concurso de ingresso na carreira docente. A primeira edição deve ocorrer no primeiro trimestre de 2012.

Em entrevista ao iG, Haddad disse que aguarda o aval dos técnicos para a aplicação de duas edições do Enem no ano que vem. Garantiu que não tem expectativas políticas para depois do governo Dilma e que não pretende ficar pouco tempo na pasta. "Não sinto isso como necessidade (candidaturas políticas depois)", afirmou. "Eu opero por projeto, não por calendário", disse.

Confira os trechos da entrevista:

- Quando o senhor assumiu o ministério quais eram seus objetivos?

Eu tenho a felicidade de, em março de 2007, ter anunciado o Plano de Desenvolvimento da Educação na presença do presidente Lula e disse como a educação estaria ao final de seu governo. Se recuperar minha apresentação, você verá que nós cumprimos rigorosamente o que pactuamos com a sociedade. Houve processo forte de expansão e interiorização da rede federal para recuperar o papel da rede para o desenvolvimento social do país. Na educação básica, a centralidade que a qualidade ganhou com um sistema de avaliação por escola, divulgação dos resultados com transparência, fixação e cumprimento das metas. Tudo isso está feito.

- E quais são os planos do senhor para os próximos anos?

A presidenta Dilma incorporou ao seu discurso a ideia de que temos de atuar da creche à universidade. Pode parecer uma obviedade, mas nem sempre foi assim. A política de foco e fragmentada prevalecia sobre uma visão abrangente e sistêmica. Espero que isso seja mantido. Entendo que há três questões a serem priorizadas. A primeira é a educação infantil, porque nunca houve uma atenção do MEC em relação à qualidade da oferta, só à quantidade. O segundo é a diversificação do ensino médio, que precisa se integrar com o trabalho, a cultura e o desporto. Na perspectiva da escola de tempo integral, a integração com essas áreas é essencial para oferecer perspectivas múltiplas de atendimento ao jovem. A escola não precisa ser padrão para ser excelente. Ele pode ter excelência e ser diversa, ser múltipla.

- O currículo precisa ser mais flexibilizado para permitir que os jovens optem mais livremente pelo que vão estudar?

Penso que sim. O ensino médio inovador, em grande medida, vai nessa direção e ele está em curso como projeto piloto em 600 escolas. Eu penso que o jovem deve ter a oportunidade de ter um segundo turno de aulas no qual as questões de cultura, desporto e trabalho sejam centrais. Não pode ser uma duplicação do currículo.

- A União terá de contribuir muito para isso financeiramente?

A União sempre tem de interferir. A indução exige inovação. Às vezes, a questão não é de recurso. O ProUni, programa de alcance extraordinário, não custou nada diante do alcance que ele tem. Nós apenas regulamentamos uma lei, as contrapartidas das isenções constitucionais. Nem sempre é preciso dinheiro. Às vezes, é necessária uma reforma institucional. Mas claro que, com mais recursos, podemos fazer muito mais.

- A presidente eleita fez algum pedido especial para a sua gestão à frente do ministério?

A questão do magistério está muito presente no discurso dela e na conversa dela comigo. Acredito que a mudança dos currículos é importante e está em curso, mas o ritmo deveria ser acelerado. Tomamos duas providências importantes e pouco discutidas. A primeira é que não é pouca coisa um país federativo fixar um piso nacional para a categoria na constituição, como fizemos. Em segundo, a União assumiu a responsabilidade pela formação gratuita dos professores, seja no Fies, na modalidade que o professor que trabalha em escola pública não paga o financiamento, seja nas universidades públicas. Isso precisa ser mais explorado. O calendário eleitoral impediu a divulgação disso. No ano que vem, queremos fazer uma forte publicidade para que os professores e os jovens que queiram ser professores tomem conhecimento que eles têm à formação.

- Com essas iniciativas, o senhor acredita que serão suficientes para mudar a imagem que a carreira tem entre os jovens?

Vamos anunciar no começo do ano a matriz de uma prova nacional de concurso para a carreira docente. Trabalhamos durante mais de dois anos nisso. Mandamos equipes para oito países no mundo para sabermos como funciona o processo de formação e de seleção de professores nesses países e concluímos que precisamos ter uma prova nacional de concurso para ingresso na carreira docente que sinalize o que se espera de um bom professor. A prova será aplicada a quem se interessar e, depois, os gestores poderão abrir editais para selecionar os docentes com as notas dessa prova. Queremos que os prefeitos e os governadores possam oferecer boas condições de carreira para atrair os melhores profissionais do Brasil. O prefeito tem pouco estímulo para reestruturar a carreira. Estamos dando as condições de eles mudarem o sistema de ensino. Essa prova vai incidir sobre as condições de carreira.

- O senhor acredita que ela vai influenciar também os cursos de graduação?

Vai rebater na formação, evidentemente, a partir do momento que você define uma matriz que diz quais os conhecimentos que um professor deve ter. As provas têm esse fim. Os países com alto desempenho nos exames internacionais têm um excelente processo de ingresso à carreira e nós não temos isso. O estágio probatório é um expediente pouco explorado no Brasil, ao contrário do que deveria ocorrer. No caso do docente, isso é essencial. Muitas vezes você tem conhecimentos teóricos, mas a atividade exige vocação específica para o exercício da profissão. Tem um programa de incentivo à docência que está dando muito certo. Durante a licenciatura, o estudante, o professor universitário e o da escola que o recebe como estagiário recebem bolsas. A instituição formadora e a escola pública interagem na formação desse licenciando.Os resultados são extraordinários.

- A partir de quando a prova nacional vai funcionar?

A matriz será colocar em discussão do comitê de governança no início do ano, que vai aprovar a matriz de conhecimentos que serão exigidos na prova. A partir daí, começaremos a elaboração dos itens e queremos aplicar a primeira edição no primeiro trimestre de 2012.

- O senhor acredita que, com isso, os melhores alunos serão atraídos para o magistério?

É um processo. Estou surpreso com os depoimentos que recebo do programa de iniciação à docência. Ele está quebrando paradigmas. A interiorização das universidades também vai mexer nisso. As possibilidades para os jovens que querem exercer a profissão serão ampliadas.

- O novo Plano Nacional de Educação, que será discutido no Congresso em 2011, trouxe metas antigas e ainda difíceis de serem superadas pelo país, como o analfabetismo. É possível erradicá-lo? Seria preciso adotar algum tipo de incentivo financeiro para isso?

Estamos falando de pessoas com idade média de 55 anos. É uma dívida que temos com a população que não teve oportunidade educacional na idade correta, mas realmente é uma tarefa muito complexa. Essa população está dispersa pelo território, mora no campo, tem idade avançada e problemas de visão. O esforço terá de combinado com ações fora as do MEC, mas tenho dúvidas sobre esse tipo de incentivo. A dificuldade esbarra em obstáculos que, muitas vezes, são instransponíveis para o indivíduo. Se não tivermos uma combinação de políticas, não dará certo. Mas estou confiante de que, em 2015, vamos reduzir a taxa para 6,7% em 2015.

- Olhando para trás, o senhor se arrepende de alguma decisão que tomou em relação ao Enem? Acredita que deveria ter esperado o banco de itens ser ampliado para lançar duas ou mais edições em um mesmo ano e evitar dores de cabeça?

Eu não vejo esses episódios com o grau de dramaticidade que a imprensa costuma reportar. Tivemos um episódio de falta de segurança em uma gráfica, que é a maior do país. O MEC adiou a prova para fazê-la com segurança e corrigiu um problema do setor privado. O episódio deste ano, de abrangência muito menor, com outra gráfica, que é uma multinacional com faturamento de US$ 20 bilhões no mundo, foi um equívoco causado por excesso de segurança. O procedimento que atrapalhou o controle de qualidade dos lotes foi a impressão das provas sem que o operador da máquina visse o que estava sendo impresso. O setor corrigiu um erro do setor privado novamente. Erros poderão acontecer em uma prova de escala como essa. Estamos em uma construção e essas gráficas vão se preparar melhor. Quanto mais concorrentes tivermos, melhor para contratação do poder público.

- No ano que vem já teremos duas edições do Enem?

Falta uma reunião com os parceiros para que eles atestem a capacidade técnica de realizar duas edições. Em caso positivo, a decisão política está tomada. Se eles derem sinal verde, teremos duas edições. Quanto mais edições melhor.

- Nesses dois momentos, as críticas foram tão grandes e houve muita gente dizendo que o senhor não continuaria no ministério. O que o senhor sentiu?

Fiquei um mês sem ler jornal, assistir TV e ouvir rádio. O que eu fazia era ligar no telefone 0800 do MEC, que recebe as reclamações. Perguntava como estavam as coisas e me diziam que não estava calmo. Então pensei, vamos resolver. O Brasil real está conectado pelo telefone com o Ministério da Educação. Então eu me desliguei do resto. Com o Brasil real, a questão era contornável.

- Podemos esperar outro Plano de Desenvolvimento da Educação para o ano que vem?

Esse foi o nome que demos para o Plano Plurianual da Educação, que no ano que vem terá de ser refeito. O Plano Nacional da Educação terá de ser traduzido nos planos plurianuais da União, de Estados e de municípios.

- O presidente Lula pediu à Dilma que o senhor ficasse no ministério. O senhor se sentiu constrangido em algum momento, pensando se ela queria realmente que ficasse?

Conhecendo a presidenta como eu conheço, eu convivo com ela há cinco anos, posso te garantir que uma coisa é ouvir a opinião, e ela fez questão de frisar que a opinião do presidente conta e pesa, mas eu tenho certeza de que a presidenta Dilma não tomou nenhuma decisão por constrangimento. Sobretudo no meu caso. Eu estou há sete anos no MEC, cinco e meio como ministro e eu já me programava para voltar para São Paulo.

- Os críticos dizem, em relação aos ministérios compostos por Dilma, que as escolhas foram feitas para pouco tempo. O senhor pretende ficar os quatro anos?

Eu não entendo que as coisas funcionem assim. Em primeiro lugar, mudança ministerial é a coisa mais corriqueira do mundo em qualquer governo. Quantos ministros da Educação completaram um único mandato? Quatro, antes de mim. Eu estou no terceiro. Já estou na conta da exceção. Eu opero por projeto e não por calendário. O que está em pauta e qual o tempo de maturação do projeto é a dinâmica do governo que vai determinar.

- E o senhor esperava ter recebido mais apoio do PT para a sua permanência no cargo?

Eu acompanhei isso pelos jornais. Isso nunca aparecia de maneira clara. Os comentários eram sempre anônimos e é muito difícil especular sobre essa questão. Não chegou ao meu conhecimento uma objeção de alguém, com nome e sobrenome. Isso não aconteceu em 2006, nem agora.

- O senhor foi cogitado para concorrer ao governo de São Paulo, não foi? Desistiu? O senhor não tem interesse nesse caminho?

Foi mais especulação. Não fiz nenhum movimento para isso. Minha atenção nunca ficou voltada para isso. Nunca raciocinei nessas bases. Estou reiniciando um trabalho e acredito que a educação é um pouco incompatível com eleição. Particularmente, não acho uma combinação feliz. Não sinto isso como necessidade. (Priscilla Borges)

Fonte: IG