segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Brasil planeja frota nuclear


A Marinha do Brasil está planejando uma formidável frota de seis submarinos nucleares e mais 20 convencionais, 15 novos e cinco revitalizados. Com seus torpedos e mísseis, será a mais poderosa força dissuasória do continente nos termos do Paemb, o Plano de Articulação e Equipamento da Marinha. A meta é de longo prazo, só será atingida em 2047. O custo estimado de cada navio de propulsão atômica é de 550 milhões.

O primeiro deles, incluído no ProSub, o Programa de Desenvolvimento de Submarinos, já em andamento, sairá por 2 bilhões, valor composto pelos custos de transferência de tecnologia e outras capacidades (como a de projetar os navios) por parte do estaleiro francês DCNS. As outras unidades estão cotadas apenas pelo preço de construção, no novo estaleiro de Itaguaí, no litoral sul do Rio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita as obras em dezembro.

O núcleo industrial será instalado ao lado da nova base da Força de Submarinos. Os dois projetos estão sendo executados pelo grupo Odebrecht. A empresa também vai produzir os submarinos.

Os modelos convencionais estão divididos em lotes. Um, formado por 15 novos S-Br. Os primeiros quatro são versões do tipo Scorpéne, porém cerca de 100 toneladas mais pesados e cinco metros mais longos, para dar mais conforto à tripulação e aumentar a autonomia. O outro grupo é integrado pelos navios que a Marinha usa atualmente. Todos são leves e vão ser modernizados: quatro da classe Tupi, de tecnologia alemã, e um Tikuna, a evolução dessa série que recebeu aperfeiçoamentos originais criados por engenheiros da Marinha.

Concretamente, o que está em execução é o ProSub, envolvendo os quatro submarinos Scorpéne comprados em 2008. O primeiro desse lote será entregue no segundo semestre de 2016. Os outros três sairão de Itaguaí até 2021. O recebimento do modelo nuclear ocorre entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022.

O contrato total vale 6.790 bilhões, abrangendo fornecimento amplo de tecnologia, incluindo o casco e sistemas não-atômicos do navio de propulsão nuclear. O documento principal foi assinado em dezembro de 2008. A negociação dos contratos adicionais consumiu nove meses, saiu em setembro de 2009. O adiantamento inicial de R$ 100 milhões foi formalizado há pouco mais de um ano.

O cronograma das obras civis estende-se até 2015. Está no estágio básico, o movimento de terras às margens da BR-101, onde começam a surgir as fundações da Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas, Ufem.

A fatura da infraestrutura é de 1.868.200.00 a favor da Construtora Norberto Odebrecht, majoritária no CBS, Consórcio Baía de Sepetiba, formado pela DCNS da França e pela Marinha do Brasil, que detém o direito de veto. As áreas envolvidas somam 980 mil metros quadrados, dos quais 750 mil m² na água.

O acesso ao conjunto se dará por um túnel escavado em rocha de 850 metros de comprimento e uma estrada exclusiva de 1,5 quilômetro. Haverá 2 píeres de 150 metros cada um e três docas secas (duas cobertas) de 170 metros. No total, serão 27 edifícios. A dragagem passa de 6 milhões de metros cúbicos. O plano da obra prevê a geração de 700 empregos diretos.

Pronta, a instalação poderá dar apoio técnico a uma frota de 10 a 20 submarinos, e terá capacidade para construir duas unidades novas simultaneamente. Um dos prédios, destinado ao procedimento de troca do reator do navio nuclear ou do combustível, será alto, equivalente a 16 andares. Os submarinos vão circular, por meios próprios no local, movimentando-se por uma zona molhada com 340 mil m².

O ProSub implica a integração de diversos cronogramas. Um deles, o do domínio completo do ciclo de enriquecimento do urânio usado no reator dos modelos nucleares, está concluído. A fábrica de gás de urânio está pronta e realizando ensaios de operação. Fica em Iperó, a 130 km de São Paulo, no Centro Aramar, da Marinha. A produção de 40 toneladas por ano pode ser ativada a partir de dezembro.

O presidente Lula quer inaugurar as instalações. No mesmo local o pavilhão do LabGene, para abrigar o reator do Sn-Br - já pronto e desmontado, avaliado em US$ 130 milhões - segue em ritmo acelerado. (Roberto Godoy)

Fonte: O Estado de SP

EUA e China se confrontam na área de energia


Estados Unidos e China encontraram na tecnologia e produção de energia solar e eólica um novo campo de confronto. Embora os chineses estejam na dianteira, pressionados pela demanda em expansão por eletricidade e pela necessidade de reduzir emissões de gases poluentes, o governo americano pretende incentivar essa área principalmente por sua capacidade de geração de empregos locais.

Nessa competição, os dois países dirigem ameaças de uma disputa emblemática na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os subsídios concedidos ao setor.

Em meados de janeiro, o Departamento de Comércio americano deve concluir uma investigação sobre subsídios e outros incentivos contrários às regras da OMC supostamente concedidos pela China aos seus exportadores de produtos vinculados à geração de energia eólica e solar, de baterias avançadas e de veículos elétricos. A China lidera a produção mundial em todos esses itens e, da mesma forma como os EUA, também prepara uma ação na OMC contra a política americana para o setor.

Em outubro, quando a investigação do Departamento de Comércio foi aberta, a taxa de desemprego nos EUA continuava em 9,6%. Na ocasião, o secretário de Comércio, Ron Kirk, assinalou que esse é um setor vital para os EUA. "A tecnologia verde será o motor gerador de empregos no futuro. Este governo está comprometido em assegurar o campo de ação de trabalhadores americanos, de negócios e de empreendedores nessa área."

Em um recente estudo comparativo, Richard Campbell, especialista em Política Energética do Serviço de Pesquisa do Congresso americano, mostrou que a China tem hoje capacidade de gerar, anualmente, 5.000 megawatts de energia eólica e 300 megawatts de energia solar. No seu plano estratégico, esses potenciais deverão se elevar para 30 mil e 1.800 megawatts, respectivamente, até 2020. Trata-se de uma capacidade adicional equivalente a um terço da geração brasileira em 2009.

Nos planos do Departamento de Energia dos EUA, a capacidade de geração de energia eólica deve saltar de 9.922 megawatts, em 2009, para 61 mil megawatts em 2030. A energia solar foi fonte de 8.775 megawatts gerados em 2008 no país, dos quais 800 megawatts por meio de painéis fotovoltaicos.

O setor é visto nos EUA como a mais nova fronteira tecnológica, ao lado da informática, e fonte de novas indústrias e serviços. Em repetidos discursos, o presidente americano, Barack Obama, mencionou a capacidade de esse segmento gerar empregos que dificilmente serão exportados - em especial, à China - no futuro.

Atraso

Na corrida para impulsionar o setor, os EUA estão bem mais atrasados que a China, segundo o estudo de Campbell. Com uma política industrial agressiva, Pequim conseguiu desenvolver no país uma sofisticada indústria de turbinas para geração eólica e de painéis voltaicos, além da produção de peças e partes. Tornou-se líder mundial do setor.

Antes de 2005, com a Lei de Energia Renovável, ambos os segmentos já recebiam subsídios e incentivos fiscais, que foram engordados com a legislação. Os consumidores pagam um adicional de US$ 0,029 por quilowatt/hora para financiar as subvenções ao setor de energia renovável.

Sujeito à lógica de mercado, ao contrário da China, os EUA têm nos altos custos os principais obstáculos ao desenvolvimento do setor. Mesmo com maioria democrata, Obama não conseguiu a aprovação do Senado ao projeto de lei de Energia Limpa e Segurança Americana. (Denise Chrispim Marin)

Fonte: O Estado de SP

Em crise, magistério atrai cada vez menos


Com a professora de História doente, e sem que a escola conseguisse substituto, o jeito foi os alunos fazerem as vezes de professor: em julho de 2009, três alunos do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Ernesto Faria deram aula dessa disciplina para colegas que estavam no 1º e no 2º ano.

A falta de professores que atinge os ensinos fundamental e médio é um problema que começa nos bancos das universidades, onde os alunos não querem mais se formar como professor.

Um levantamento dos últimos censos escolares do Inep mostra que, de 2005 a 2008, caiu 12,4% o número de concluintes de cursos superiores de "formação de professores de matérias específicas" - o item, no censo escolar, que abriga licenciaturas como as de Português, Matemática, Química e Física.

Se eram 77.749 em 2005, foram para 68.128 em 2008 - ano que viu 817 alunos concluírem cursos de "formação de professores em Português", enquanto o de Direito formou 85 mil, e cursos de Administração, 103 mil.

O dado vai ao encontro de números da Fundação Carlos Chagas que dão conta de que, em média, 70% dos alunos que entram em cursos de licenciatura desistem antes de completá-lo.

Diminuiu ainda o número dos que entram nas faculdades para cursá-los: de 2005 a 2009, o número de alunos ingressando nesses cursos caiu 23,7% na rede privada e de 11,4% na rede pública, segundo o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp). Nesse período, o número total de matrículas em cursos de licenciatura nas redes pública e privada também caiu 8,1%.

- Já seria preocupante se esse número não tivesse crescido, mas caiu. E isso porque temos déficit de professores, não excesso - sublinha Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp.

O déficit de professores, apenas da 5ª série do fundamental ao 3º ano do ensino médio, é de 246 mil no país. O quadro é mais crítico em Física, Química, Matemática e Biologia.

Para os professores que permanecem na carreira, fica a sobrecarga. Segundo dados do Inep, do Ministério da Educação, 753,8 mil professores no país na educação básica (redes pública e privada) davam aula para cinco ou mais turmas em 2009. No ensino médio, 72.241 lecionam para dez ou mais turmas.

Uma professora para 12 turmas

Professora de História, Wânia Balassiano, de 45 anos e há 25 na rede estadual, tem 12 turmas na Escola Estadual Ernesto Faria, outras cinco numa escola particular e ainda dá aulas em casa:

- Fico sobrecarregada, já adoeci e sei que a qualidade da aula seria melhor com menos turmas. A carreira não é valorizada, o estado não incentiva que a gente faça mestrado, os salários são baixos. Amo o que faço, mas a sensação é que escolhem o magistério porque não têm coisa melhor para fazer.

Ou porque não acham algo melhor. Estudo da Fundação Carlos Chagas em 2009 mostra que 68% dos alunos que cursam licenciatura vêm de escolas públicas.

- A maioria não conseguiu passar para outra carreira. E os melhores não vão para a sala de aula, preferem fazer mestrado - diz Mozart Ramos, do movimento Todos pela Educação.

- Minha turma começou com 20 alunos. Hoje somos cinco - conta Rodrigo Barreto, no 3º período da licenciatura de Letras da Uerj.

Em outro setor da universidade (Física), João Pedro Brasil, de 20 anos, faz licenciatura, mas também bacharelado, como outros cinco colegas. Fazendo apenas licenciatura, só conhecem na turma Sofia de Castro, de 19:

- Já fui monitora de colégio e vi que dar aula era o que queria - diz ela. Perguntada sobre quanto imagina ganhar, responde: - É melhor não pensar.

Entrave maior para a valorização da carreira, o salário tem piso nacional que não chega a R$ 1.100 para 40 horas semanais. Mas esse valor não está sendo aplicado por muitos governos porque a lei está sob análise do Supremo Tribunal Federal, após estados entrarem com pedido de revisão do texto.

- Não adianta falar em salário ideal quando a gente não consegue implementar nem o mínimo - observa Paulo Corbucci, pesquisador de educação do Ipea.

Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Roberto Leão defende que os problemas não sejam atacados de forma isolada:

- Professor precisa de plano de carreira, escolas com estrutura e a chance de se atualizar.

Secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda admite que "houve desinteresse muito grande pela carreira", mas aponta ação para valorizá-la:

- A criação de um piso nacional, que trouxe também tempo mínimo obrigatório para o professor se dedicar à reciclagem.

Pilar diz ainda que o MEC prevê 300 mil vagas para a Plataforma Freire, um programa para professores que já estavam dando aula mas não tinham formação adequada. Até agora, há cem mil - um terço - inscritos. (Alessandra Duarte e Carolina Benevides)

Fonte: O Globo