quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Inovação: Números escondem uma realidade ainda pior, diz Protec


O presidente da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, é mais radical do que o economista David Kupfer ao criticar o comportamento da indústria brasileira no quesito inovação. Para ele, o resultado da Pintec esconde uma realidade ainda pior.

"A Pintec confunde inovação com modernização." Para Nicolsky, o crescimento da taxa de inovação expresso na pesquisa do IBGE decorre da compra de máquinas mais modernas pelas empresas. "Elas não inovam. Compram um equipamento mais moderno com inovação incorporada", disse.

Nicolsky acha que no Brasil os estudantes querem ser inventores ao estilo professor Pardal, o famoso personagem de Walt Disney, sempre debruçado sobre uma revolucionária descoberta científica. "Os estudantes querem fazer ciência e só vão para as empresas como prêmio de consolação", afirmou.

Para ele, que durante muito tempo trabalhou em empresas, o próprio sistema de incentivos, começando pelas subvenções da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), é mais voltado para a academia. A maior prova, segundo Nicolsky, foi que quando o edital de subvenções de 2010 introduziu exigências que bloqueavam o acesso a empresas de origem acadêmica, houve forte redução no número de interessados.

O presidente da Protec considera que inovação é algo bem mais simples do que a busca por inventos mirabolantes. "É melhorar de alguma forma o seu produto ou o seu processo para tornar o produto melhor e mais barato", resume.

Tanto Nicolsky como Kupfer consideram que está faltando no sistema de incentivos brasileiros mais estímulo para que as empresas assumam o risco, que é alto, de pesquisar. A concessão de financiamentos, mesmo baratos, por exemplo, seria um caminho pouco produtivo, a não ser que acompanhada de mecanismos de compartilhamento da possibilidade grande de fracasso inerente a toda pesquisa.

O economista Antonio Barros de Castro, também professor da UFRJ, ex-presidente do BNDES, reconhece que entre os estudiosos da temática da indústria no Brasil "ninguém se entusiasmou" com o resultado da Pintec. Segundo ele, o mais impressionante é que na 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, realizada em maio deste ano, "ficou evidente que o Brasil vem acumulando forças para um possível desejado ingresso na economia do conhecimento".

Entre os sinais desses esforços, ele enumerou o aumento da verba do MCT "de US$ 600 milhões para US$ 2 bilhões em uma década" e a multiplicação de órgãos, tanto na esfera federal como na estadual e na municipal, voltados para o incentivo à busca da inovação.

"Sessenta por cento dos gastos com inovação na América Latina vêm do Brasil", resume Castro, que acrescenta: "Os resultados, porém, são bastante modestos". Ele acha que o furacão China inibe o apetite inovador do empresário e sugere, como vem fazendo há muito tempo, que o Brasil busque adensar as cadeias produtivas em áreas nas quais pode ser líder, como o petróleo em águas profundas e o etanol. (Chico Santos e Heloísa Magalhães)

Fonte: Valor Econômico

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