quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Elétricas já veem ameaça à internet por fio de energia

As distribuidoras de energia estão descontentes com as novas regras da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que permitiu ontem a oferta de banda larga pelos fios elétricos.


Conhecida como PLC (Power Line Communication), essa tecnologia faz com que o sinal da internet transite com a energia pelos cabos elétricos até chegar às tomadas. Ali, um aparelho específico separa os dois sinais.


As companhias elétricas acusam a Aneel de ter cedido às pressões da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que quis favorecer as tecnologias de ADSL (principal tecnologia de banda larga das teles) e o cabo, prejudicando o PLC.


Isso porque, pelas novas regras da Aneel, as distribuidoras de energia serão obrigadas a abrir uma oferta pública, caso haja algum interessado em utilizar a sua rede elétrica para vender banda larga em PLC. Ganhará quem oferecer o maior preço. A decisão da Aneel determina ainda que 90% da receita gerada por esse "aluguel" de rede seja usada para abater o preço das tarifas. A concessionária elétrica ficaria com 10% da receita.


Prevendo a aprovação do PLC, diversas elétricas já tinham aberto subsidiárias de telecomunicações para escapar dessa regra e colocar no caixa toda a receita gerada.


Orlando Cesar de Oliveira, coordenador de PLC da Copel Telecom, acusa a Aneel de aprovar o PLC de uma forma perigosa. "Pelos fios vão transitar a energia e o sinal da internet", diz. "Qualquer deslize nessa rede cometido por terceiros pode prejudicar a oferta de energia da concessionária."


Para ele, a Aneel está obrigando que as redes das elétricas sejam compartilhadas, uma decisão que, segundo Oliveira, contraria os padrões internacionais. "Nenhum país do mundo adotou esse modelo por uma questão de segurança da rede", diz. "Além disso, nem a Anatel conseguiu promover o compartilhamento de redes entre as teles, e vamos começar fazendo logo no setor elétrico?"


Wanderley Maia, gerente de rede de energia da Infovias, a subsidiária de telecomunicações da Cemig, afirma que o repasse de 90% dos lucros poderá encarecer o PLC ao consumidor. "Não esperávamos que esse índice fosse tão alto", diz. "Além disso, ainda não sabemos como será esse compartilhamento. Se uma empresa não tem condições técnicas de ofertar o produto, a rigor, não deveria interferir na rede elétrica."


São esses os pontos que ameaçam o surgimento comercial da banda larga pela rede elétrica no país. "Essas limitações podem tornar o PLC menos competitivo que as demais tecnologias de banda larga disponíveis pelas operadoras de telecomunicações", diz Oliveira, da Copel Telecom.


Procurada, a Aneel não deu retorno até o fechamento desta edição.


Desde que a Anatel liberou o PLC, em abril, as elétricas começaram a entrar com pedidos na agência para abertura de empresas de telecomunicações. Pelo menos dez solicitações estão em andamento.


Para as teles, essa competição pode ser agressiva, já que o PLC permite a oferta de banda larga com pelo menos 10 Mbps garantidos (sem limite mínimo de 10% na velocidade) a um preço até 50% menor que o dos planos convencionais das teles.


Por outro lado, as teles poderiam alugar a rede das companhias elétricas e levar a internet a municípios sem cobertura. Pelas regras da Anatel, elas são obrigadas a levar a infraestrutura de banda larga a todos os municípios. O problema é que elas só têm interesse comercial em 62% deles. A rede elétrica seria uma alternativa porque está presente em 98% dos domicílios.


Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, considera que as teles não estão interessadas no PLC. "Elas cabearam a maior parte dos municípios e devem prestar seus serviços em sua própria rede." Para ele, a oferta de PLC será um negócio das companhias elétricas.


Testes - Cemig (MG), Copel (PR), AES Eletropaulo (SP) e Celg (GO) já realizaram testes do PLC e, neste momento, estudam modelos de negócios.


Em Minas, a Cemig está pronta para lançar seu produto nos municípios atendidos pela concessionária. Essa oferta será feita pelas Infovias, subsidiárias da Cemig, no início de 2010. Em Goiás, o serviço também começa no próximo ano a partir da capital Goiânia. Lá, o preço deverá ser 30% menor que o das teles convencionais.


Fonte: Édison Freitas Siqueira

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