sexta-feira, 29 de julho de 2011

Futuro de estudos gerou cisão, diz Nicolelis

 
Para neurocientista criador de instituto em Natal, grupo dissidente defendia pesquisas sem um objetivo médico.
 
O neurocientista Miguel Nicolelis atribuiu seu rompimento com um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), com quem trabalhava havia anos, a divergências sobre as linhas de pesquisa que deveriam ser prioritárias para a equipe. "Certas áreas desenvolvidas por esse grupo não vinham de acordo com as nossas pesquisas no IINN [Instituto Internacional de Neurociências de Natal]", disse ontem na capital potiguar.

"Estamos trabalhando com mecanismos básicos de interação de células, buscando novas terapias para cuidar de pacientes neurológicos. Essa área não estava alinhada com o outro grupo."

Sob o comando do ex-diretor científico do IINN, Sidarta Ribeiro, os dissidentes passaram a trabalhar na implantação de outra instituição, o Instituto do Cérebro, na própria UFRN. Ribeiro atribuiu a cisão a problemas de gestão e institucionais entre a universidade e o IINN.

Nicolelis nega. "Eu só estranho que uma divisão que é absolutamente profissional tenha criado esse auê todo, porque, para nós, [o rompimento] é uma coisa comum."

"Eu tenho 50 anos, 30 anos de carreira, 200 trabalhos publicados. Eu não saí atirando", disse. "Eu já tive parcerias feitas, já trabalhei com prêmios Nobel, já fiz parcerias que tive de terminar. Mas parcerias científicas, na minha opinião, terminam com cavalheiros, duas pessoas sentando numa mesa e dizendo: 'Olha, foi muito bom'."

Nicolelis negou ter agido de forma autoritária. Afirmou que nunca restringiu o uso de equipamentos do IINN e o acesso às instalações. "Somos uma empresa privada. Temos questões de segurança, segredos profissionais, propriedade intelectual, equipamentos e uma série de normas a serem seguidas."

Aparelhos - Nicolelis disse ainda que os equipamentos retirados do IINN e entregues à UFRN valem R$ 232,48 mil. "Eles não estavam mais em uso no nosso instituto, e ficamos absolutamente satisfeitos de poder colaborar para o início das operações do Instituto do Cérebro", declarou.

Para o cientista, a cisão não terá impacto nas atividades de pesquisa do seu instituto. "Já estamos recrutando cientistas. "Mantemos parcerias com Suécia, Suíça, Alemanha, França, Chile e Estados Unidos", disse. A proposta de fazer adolescentes paraplégicos andarem até a Copa do Mundo "continua de pé", declarou.

A Folha apurou que, para o grupo da UFRN, Nicolelis teria "recuado" ao evitar ataques mais incisivos a eles.

Novo grupo não deve ficar com os equipamentos da parceria - A transferência da gestão dos equipamentos do grupo do neurocientista Miguel Nicolelis para a nova equipe de pesquisadores do biólogo Sidarta Ribeiro é impossível.

A informação é de Roberto Vermulm, diretor da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). A instituição efetuou a compra dos equipamentos, por R$ 3 milhões, em um convênio de 2006. Com a cisão dos dois pesquisadores, relatada pela Folha, Ribeiro solicitou à Finep que migre a gestão dos equipamentos do IINN (Instituto Internacional de Neurociências de Natal), de Nicolelis, para o Instituto do Cérebro.

O principal argumento é que esse instituto, que fica na UFRN e é dirigido por Ribeiro, reúne os cientistas que deixaram o IINN - e parte das pesquisas em andamento. "Não há razão para que a gente mude o convênio. Se a gente decidir parar o projeto, ele para. Mas transferência de convênio não existe", disse Vermulm à Folha.

"Nossa relação é institucional. Se a instituição quiser mudar o coordenador do convênio, a Finep avaliará. Mas mudar o convênio de instituição é impossível."

Dinheiro pode ser público ou privado - O instituto de Nicolelis é administrado por uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), a Associação Alberto Santos-Dumont para Apoio à Pesquisa. Esse status jurídico permite que doações de empresas à associação possam ser descontadas do Imposto de Renda. O órgão é privado e já recebeu doações, em valores não divulgados, da família de banqueiros Safra, e verbas de órgãos federais de fomento, como a Finep e a Capes.
 
Fonte: Folha de São Paulo
 

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