sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Inovação tem cenário favorável na indústria química brasileira

Especialistas alertam, no entanto, que há muito a avançar
Com a Lei de Inovação completando dez anos e novas linhas de fomento para P&D surgindo por parte do Governo Federal, como o Programa Inova Empresa, que planeja injetar R$ 32,9 bilhões em inovação nos próximos anos, o cenário para a indústria química brasileira é muito favorável. Essa foi a avaliação da gerente de tecnologia da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), Mariana Doria, durante o Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação 2014, realizado no Hotel Sheraton, no Rio de Janeiro, entre 8 e 9 de setembro.
Além dos novos recursos, a gerente também destacou as boas perspectivas na área do capital humano, já que profissionais altamente qualificados são essenciais para o setor. “Os novos centros de pesquisa aplicada que vão ser criados pelo Senai são um bom exemplo no campo da capacitação. Esses centros vão poder atender à indústria, já que a pesquisa na área química é muito cara e de alto risco. Ocorre ainda que o retorno é a médio e longo prazo, diferentemente de outros setores industriais. Como essas iniciativas são recentes, de dois anos para cá, então ainda vai demorar para tudo isto estar em prática e trazendo o retorno de fato para a inovação e a competitividade do setor”, opinou.
Outro ponto que vem merecendo a atenção do segmento é quanto a parceria com as universidades. De acordo com Mariana Doria a indústria química tradicionalmente sempre se auto financiou e fez sua própria pesquisa. “Hoje em dia as pesquisas estão cada vez mais multidisciplinares, então se você não busca parcerias não conseguirá desenvolver as tecnologias necessárias. No Brasil nunca houve muita parceria entre empresas e universidades, mas isso tem aumentado muito e hoje nós vemos nossas empresas, não só líderes, mas também as de médio porte, buscando parcerias com institutos de pesquisa tecnológica e universidades no País. Mas, ainda há muito espaço para crescer”, afirmou.
Momento de amadurecimento
Para Gerson Valença Pinto, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI), no Brasil as políticas públicas para inovação, vivem um momento de amadurecimento. Apesar da diminuição da representatividade da indústria no PIB e do desempenho da balança comercial, ele aponta que as políticas de inovação vêm ganhando relevância. “Hoje há um consenso sobre o papel fundamental da inovação no desenvolvimento econômico e industrial do país. Temos visto um engajamento significativo tanto do setor público, quanto do setor privado em alavancar a competitividade da indústria nacional por meio da inovação. Cresce o número de empresas que desenvolvem atividades de pesquisa e desenvolvimento de forma sistemática, e as agências públicas de fomento se reestruturam para operar mais recursos e de forma cada vez mais eficiente” disse.
Segundo Pinto, a agenda de fomento à inovação deve estar voltada ao aumento da competitividade das empresas inovadoras e suas cadeias produtivas para alavancar o crescimento sustentável da economia brasileira. Ele também destaca a disponibilidade de recursos, o que demostra um empenho do setor público com o investimento em inovação. “Além do Plano Inova Empresa lançado em 2012 e que se propôs a aplicar R$ 32,9 bi em projetos inovadores, a FINEP, uma das principais executoras deste plano, contratou R$ 6,6 bi em 2013 e tem como meta alcançar R$ 15 bi em 2014”, relatou.
É imprescindível que esta agenda de fomento à inovação esteja voltada para o aumento da competitividade das empresas inovadoras e suas cadeias produtivas. O impacto das políticas de inovação deve ser avaliado sob uma perspectiva de maturidade do ecossistema inovador. Indicadores como a % do PIB investida em inovação e o balanço público/privado deste investimento, são indicadores que vão explicitar o sucesso dessas evoluções e sua efetividade em alavancar a produtividade e o crescimento sustentável de nossa economia.
Próximo passo
A evolução desse processo depende, de acordo com Gerson Pinto, da construção de um ambiente jurídico seguro com marcos legais bem estabelecidos, devendo ser elemento central na agenda pública de inovação. “Esse ambiente deve estimular o investimento privado em inovação, a contratação de mão-de-obra especializada, e a cooperação da indústria com a academia e institutos de aplicação, favorecendo o desenvolvimento de P&D pré-competitiva e a transferência de tecnologia para as cadeias produtivas”, explicou.
Por outro lado, ele faz um alerta quanto à postura das empresas privadas. “O setor privado precisa se comprometer com o investimento sistemático em atividades de P&D e incorporar, contábil e financeiramente, estratégias de negócio ancoradas em inovação. Além disso, a organização do setor privado e os canais de diálogo abertos entre as empresas e o governo (ANPEI, MEI…) precisam ser mantidos e aprimorados para que possamos ter um ecossistema articulado, capaz de lidar com a complexidade de suas interações e fortalecer as políticas de inovação e seus instrumentos”, revelou.
Movimento empresarial pela inovação
A diretora de inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Gianna Cardoso Sagazio lembrou que desde 2008 existe uma mobilização organizada pelas empresas denominada MEI – Movimento Empresarial pela Inovação. “São lideranças advogando pelo aumento e aprimoramento da inovação no país, pelo desenvolvimento de um marco legal, por projetos estruturantes em P&D, pela internacionalização, entre outros aspectos”, explicou. De acordo com ela, o grupo do MEI está preparando um documento para ser entregue aos candidatos à Presidência da República, para que a inovação avance no Brasil. “É uma agenda da inovação para o aprimoramento das políticas públicas”, adiantou.
Alexandre Cabral, diretor do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) abordou algumas dificuldades na relação entre a academia e o setor empresarial. Para ele, cada parte já entendeu que é melhor jogarem juntos, mas há gargalos que precisam ser vencidos. “Na área da química para a saúde, por exemplo, não há um setor que cuide em passar os resultados alcançados na bancada do laboratório, que são em gramas, para uma escala de toneladas. Essescale up é importante”, ressaltou.
Segundo ele, é necessário construir uma carteira de instrumentos específicos para essa área. “Precisamos de novos instrumentos desenhados para isso. Essa é uma lacuna também na área de fármacos, que pode levar até uma década para colocar o produto na fase de uso”, opinou.
Outro desafio apontado por Cabral foi a questão dos preços dos produtos inovadores. “A empresa pode ser inovadora na criação, mas ser conservadora para os negócios. A questão dos preços é um desafio que não deve passar por uma regulação de governo. Somos lentos e ruins no que se refere a isso”, revelou.
(Edna Ferreira / Jornal da Ciência)

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