sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Unidade de conservação tem queimada e gado mesmo após operação Boi Pirata



Ocupantes da Floresta Nacional do Jamanxim - uma das unidades de conservação campeãs em queimadas na Amazônia - haviam sido notificados para retirar os animais. Segundo o Greenpeace, os incêndios seriam provocados para abrigar novos pastos.

Seis meses depois do fim da operação Boi Pirata na Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará, uma grande quantidade de gado foi flagrada pastando ao lado de uma área queimada em uma das maiores Unidades de Conservação da Amazônia. A Boi Pirata foi criada justamente para expulsar o gado dessas unidades.

Ocupantes de área equivalente a quase oito vezes o tamanho da cidade de São Paulo haviam sido notificados a retirar todo o gado da reserva. Mas ele estava pastando dentro da Unidade de Conservação ao lado de novas áreas de queimadas - provocadas para abrigar novos pastos, avalia André Muggiati, coordenador do Greenpeace.

Na semana passada, a Flona do Jamanxim teve seu território sobrevoado por uma equipe da ONG ambientalista. As fotos a que o Estado teve acesso foram feitas durante o sobrevoo. O gado estava mais ao centro, distante das fronteiras da floresta.

A Flona do Jamanxim é uma das unidades de conservação campeãs em queimadas na Amazônia, segundo boletim da ONG, baseado em dados dos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Entre o final de julho e o dia 22 de agosto, foram detectados 885 focos de incêndio na Jamanxim.

"O gado deveria ter sido todo retirado", reagiu nesta quinta-feira Rômulo Mello, presidente do Instituto Chico Mendes, responsável por administrar as unidades de conservação do País. A presença de gado na reserva federal depois da passagem da operação Boi Pirata, segundo ele, é mais um lance do conflito que envolve a sobrevivência da reserva. "Há um confronto entre o estado e ocupantes da Flona", observou.

Na Flona do Jamanxim há uma guerra de números sobre o que se passa no local. O presidente do sindicato rural de Novo Progresso, Agamenon Menezes, disse que há mais de 100 mil cabeças de gado no interior da reserva. "Tiraram apenas umas 350 cabeças, o restante ninguém tirou não, é tudo fantasia", disse Menezes, que também é representante da Federação de Agricultura e Pecuária do Pará.

No balanço da operação Boi Pirata no Jamanxim, iniciada em julho de 2009, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) contabilizou a retirada de 100 mil cabeças de gado, de forma voluntária, pelos proprietários. A apreensão de gado teria alcançado mil cabeças.

Nesta quinta-feira, o Ibama insistiu que o principal objetivo da operação foi atendido. Em um ano, o desmate na unidade caiu 93%. "Apesar da presença de gado remanescente, o desmatamento estancou", disse Bruno Barbosa, coordenador-geral de fiscalização.

Apesar dos problemas para consolidar e fiscalizar a área de proteção ambiental na Flona do Jamanxim, o presidente do Instituto Chico Mendes revelou que o governo quer criar mais 1,5 milhão de hectares em novas unidades de conservação na Amazônia até o fim do ano.

A extensão supera o tamanho da Jamanxim. Representa quase dez vezes a cidade de São Paulo. "Problemas não podem servir de desculpa para não criar novas unidades. O que não virar reserva vai se transformar em pasto", justificou Mello. Ao mesmo tempo, projetos de lei no Congresso propõem a extinção de várias unidades já criadas. Censo do instituto no Jamanxim mostra que a área da reserva ainda é ocupada por posseiros, grileiros e proprietários legítimos de terras.

Floresta foi criada em 2006

Com mais de 1,3 milhão de hectares, a Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará, foi criada no início de 2006, ano do assassinato da freira Dorothy Stang, em meio aos conflitos por terras no Estado. Com a criação da Flona, o governo queria barrar o avanço do desmatamento em uma das principais fronteiras na Amazônia.

Quatro anos depois da implementação da reserva, o governo ainda não pagou indenizações aos ocupantes e os limites da Flona estão sendo novamente discutidos.

O governo admite encolher em 10% o tamanho da reserva, mas adiou o desfecho da negociação para depois das eleições, revelou o presidente do Instituto Chico Mendes, Rômulo Mello.

A operação Boi Pirata teve uma nova edição, a terceira, há dois meses, no município de Macelândia, em Mato Grosso. O Ibama não prevê nova operação na Flona do Jamanxim.

Fonte: O Estado de SP

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