quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Especialistas criticam perdão a produtores que desmataram


Participantes do Seminário Código Florestal: Aspectos Jurídicos e Científicos, realizado na Câmara dos Deputados ontem (22), sustentaram que a "espinha dorsal" das alterações do Código Florestal é o perdão de punições aos produtores rurais que desrespeitaram os limites de reserva legal e de áreas de preservação permanente (APP) - são faixas de terra ocupadas ou não por vegetação nas margens de nascentes, córregos, rios, lagos, represas, no topo de morros, em dunas, encostas, manguezais, restingas e veredas. Essas áreas são protegidas por lei federal, inclusive em áreas urbanas. Calcula-se que mais de 20% do território brasileiro estejam em áreas de preservação permanente. As APPs são previstas pelo Código Florestal. Os casos excepcionais que possibilitam a intervenção ou supressão de vegetação em APP são regulamentados pelo Ministério do Meio Ambiente).

No evento promovido pela Frente Parlamentar Ambientalista, o coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, ressaltou que o principal problema do substitutivo do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ao Projeto de Lei 1876/99, não é a redução da reserva legal ou das APPs. Segundo ele, pelo menos na Amazônia poucos produtores ainda têm o que desmatar. "O que se discute é anistia a quem já desmatou", sustenta.

Também para o deputado Ivan Valente (Psol-SP), o que pretendem os defensores da aprovação rápida do novo código é "livrar da ilegalidade aqueles que desmataram ilegalmente". O parlamentar espera que o governo não ceda às pressões para votar o texto antes do prazo final para a averbação da reserva legal, área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas.

O tamanho da reserva varia de acordo com a região e o bioma: Na Amazônia Legal: 80% em área de florestas, 35% em área de cerrado, 20% em campos gerais; Nas demais regiões do País: 20% em todos os biomas, em julho deste ano.

Empréstimos - O ex-secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobiano, sustenta que toda essa discussão "decorre de uma questão clara, o (atual) Código Florestal está sendo cobrado onde ele mais é eficiente, no bolso". Ele explicou que produtores inadimplentes com as normas ambientais não conseguem mais empréstimos agrícolas.

O diretor do Instituto por um Planeta Verde, Gustavo Trindade, explica que o texto de Rebelo passa a considerar atividade rural consolidada qualquer atividade realizada em área de preservação permanente até 22 de julho de 2008. Nessa data, segundo esclarece, foi publicado o decreto com as sanções para proprietários que deixassem de averbar reserva legal.

Com essa alteração, segundo o especialista, ficam suspensas cobranças de multas e sanções administrativas a proprietários rurais que desrespeitaram a lei.

Debate - O diretor do Greenpeace reclamou que, no debate sobre seu substitutivo, Rebelo ouviu 391 pessoas. Desse contingente, segundo ele, apenas 4% eram pesquisadores e 6%, representantes de ONGs. Os 90% restantes seriam produtores rurais e governo. "Espero que essa legislatura tenha mais respeito pelo meio ambiente", disse.

O deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ) acredita que o contexto atual é favorável ao debate mais aberto da reforma do Código. Ele lembrou que desde a aprovação do texto na comissão especial, em 2010, surgiram fatos novos, como "a campanha de Marina Silva, que recebeu mais de 20 milhões votos, 20% do eleitorado".

Sirkis ressaltou ainda que a então candidata à presidência Dilma Rousseff assumiu o compromisso de vetar "os aspectos mais criminosos do texto". "Hoje vamos encarar a discussão em outro contexto, em outras condições, com um grau de ideias e alternativas".

O líder do PV, deputado Sarney Filho (MA), também comemorou a reabertura da discussão em torno da mudança do Código Florestal. "Saímos de uma declaração do presidente recém-eleito da Câmara de que em março colocaria o relatório em votação de qualquer maneira e agora já admite constituir uma câmara de negociação", sustentou.

Fonte: Agência Câmara

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