terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Planos de cooperação entre Brasil e Reino Unido


Com o objetivo de incrementar as cooperações entre Brasil e Reino Unido em pesquisas sobre doenças tropicais, um grupo de 30 cientistas dos dois países iniciou nesta segunda-feira (21) o UK-Brazil Tropical Medicine Workshop, em São Paulo. O evento de dois dias, organizado pela Fapesp e pelo Consulado Britânico em São Paulo, integra a Parceria Brasil-Reino Unido em Ciência e Inovação. A realização foi solicitada pela Academia de Ciências Médicas (AMS, na sigla em inglês) do Reino Unido.

De acordo com Robert Souhami, secretário de relações exteriores da AMS, o objetivo central do evento é discutir a fundo os mecanismos de financiamento da ciência nos dois países e propor maneiras para torná-los mais eficientes na promoção de cooperações de pesquisa sobre doenças como malária, leishmaniose, esquistossomose e doença de Chagas. Ambos os países têm excelência científica nessa área.

"O workshop envolve discussões sobre ciência na área de medicina tropical, mas o objetivo principal é identificar áreas nas quais as colaborações poderiam ser melhoradas ou desenvolvidas, além de entender como funcionam os mecanismos de financiamento de ciência no Brasil e no Reino Unido - e como esses mecanismos podem ser melhorados para atingir a máxima eficiência no contexto da pesquisa colaborativa", disse Souhami.

Segundo ele, a iniciativa do workshop surgiu a partir da necessidade de aumentar a presença da América Latina na Rede de Ciência e Inovação, criada pelo governo britânico em 2000. Com base em consulados britânicos espalhados em mais de 20 países, a rede se encarrega de desenvolver colaborações científicas entre o Reino Unido e outros países, em diversas áreas do conhecimento.

"Quando olhamos o mapa da Rede de Ciência e Inovação, vemos que a maior parte dos consulados onde ela se baseia está na União Europeia e, por razões históricas, nos países que fizeram parte das ex-colônias britânicas ao longo da história. Mas existe um grande vazio na América Latina. O único consulado no continente que integra a rede é o de São Paulo", disse Souhami.

De acordo com o cientista, a intenção de aumentar as parcerias na região - em especial no Brasil - justifica-se pelo contínuo crescimento da pesquisa científica latino-americana em termos de qualidade e quantidade.

"Nos últimos 20 anos vimos um crescimento incrível da produção científica em países como Argentina, México, mas especialmente no Brasil, onde ela dobrou entre 2003 e 2008. A ciência brasileira atingiu um patamar de importância inegável e seria uma loucura se o Reino Unido não estivesse preocupado com o aumento das colaborações entre os cientistas dos dois países", disse Souhami.

Por sediar a representação da Rede de Ciência e Inovação no Brasil, a cidade de São Paulo foi escolhida como ponto de partida para a expansão das colaborações e identificou que no campo de ciências biomédicas a AMS seria o parceiro ideal para essa tarefa.

De acordo com Souhami, a AMS representa o mais alto nível de ciências biomédicas no Reino Unido em diversas áreas da pesquisa biomédica. A academia tem 900 membros escolhidos com base em mérito científico em uma seleção muito competitiva.

"Dentro dessa equipe altamente qualificada, temos cerca de 50 cientistas que trabalham com doenças infecciosas. Muito deles já estão envolvidos com estudos em parceria com pesquisadores brasileiros. Como também se trata de um problema de grande importância para o Brasil, achamos que esse seria o tema ideal para focar o workshop e iniciar a discussão sobre a expansão das colaborações", disse.

De acordo com um levantamento feito pela Embaixada Britânica no Brasil, o país é o maior produtor mundial em pesquisa para as áreas de Medicina Tropical e Parasitologia, sendo responsável, respectivamente, por 18,4% e 12,3% da produção global nessas áreas. O Reino Unido, por outro lado, é o segundo país do mundo em termos de qualidade e impacto das pesquisas desenvolvidas nas áreas médicas e clínicas.

Segundo Souhami, o workshop tem foco na discussão sobre os mecanismos existentes para viabilizar as cooperações entre os dois países. "O objetivo é entender como utilizar esses mecanismos da melhor forma e explorar ao máximo esse potencial de colaboração. Estamos discutindo, por exemplo, maneiras muito interessantes de financiar jovens pesquisadores em conjunto", afirmou.

Além de identificar possibilidades de projetos de pesquisa conjuntos, colaborações, alternativas de financiamento e intercâmbio para treinamento de pessoal, o workshop tem o objetivo de identificar os obstáculos atuais para as colaborações e apontar áreas de interesse comum para pesquisa.

"Queremos identificar as complementaridades entre as áreas de excelência dos dois países. Logo nas primeiras discussões pudemos apontar áreas muito promissoras para colaborações científicas. Por exemplo, percebemos que as pesquisas sobre o Plasmodium vivax estão se tornando cada vez mais importantes para os cientistas brasileiros. Na cooperação com a Indonésia, o Reino Unido tem muitos estudos sobre esse tema. Está claro que o Brasil deveria fazer parte desses estudos" declarou. (Fábio de Castro)

Fonte: Agência Fapesp

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