quarta-feira, 10 de junho de 2009

Indústria Farmacêutica que Descobre Fármacos: Produção de mitos ou medicamentos de fato?



Por Lúcia Beatriz

Publicado recentemente no Brasil, pela Editora Record, o famoso livro - "A verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos /The Truth About the Drug Companies"- é um convite à reflexão sobre os tortuosos métodos utilizados pela indústria farmacêutica norte-americana para manipular o governo, profissionais de saúde e a opinião pública, com objetivo de preservar o lucro de seus interesses comerciais.

Escrito, em 2004, pela médica Marcia Angell, ex-editora-chefe doNew England Journal of Medicine, o livro utiliza ironias e metáforas para desconstruir mitos criados pelos grandes laboratórios farmacêuticos. Com minúcias, a autora descreve a forma como instituições, que aparentemente deveriam ser imparciais, são cooptadas para trabalhar a favor do setor.

Para escrever o livro, Dra. Angell se fundamentou em documentos oficiais, artigos acadêmicos e reportagens de jornais e revistas de relevo internacional. Todas as suas denúncias possuem um embasamento científico. Ao mesmo tempo em que aponta os problemas, Marcia Angell apresenta propostas de como a indústria farmacêutica pode ser reformulada.

"Medicamentos de imitação" - é assim que a autora classifica os novos fármacos que são apenas variações de medicamentos anteriores. Dra. Angell revela ainda que marketing farmacêutico é leviano ao anunciar a superioridade destes produtos, visto que, como os ensaios clínicos exigem apenas que os novos medicamentos sejam comparados com placebos (pílulas de açúcar), não há parâmetros científicos para se comprovar o progresso clínico tão proclamado.

Segundo a autora, ao oposto do que os grandes laboratórios afirmam, a maioria das pesquisas para a descoberta de um novo medicamento são realizadas em Instituições Acadêmicas, pequenas empresas de biotecnologia e nos Institutos Nacionais de Saúde. E estes, por sua vez, são financiados com recursos públicos, ou seja, dos contribuintes, que pagam duplamente pelos medicamentos: no ato da compra e da pesquisa.

Em seu livro, Dra. Angel revela que os laboratórios farmacêuticos precisam ocultar a origem "pública" de seus medicamentos, para desviar a atenção de seus maiores gastos, que são referentes ao marketing e administração. Informações importantes a respeito dos números da indústria farmacêutica são mantidas sob sigilo, principalmente porque o custo com P&D, por ser dedutível do imposto de renda, é inflado por outras atividades.

Segundo Márcia Angell, o mito do P&D* é melhor forma encontrada pela indústria farmacêutica para justificar os altos preços dos medicamentos e o conseqüente monopólio das patentes. Devido à crise da inovação, atualmente os laboratórios farmacêuticos contratam "exércitos" de especialistas para vasculhar instituições acadêmicas e pequenas empresas de biotecnologia em busca de medicamentos para licenciar.

PROPOSTA: Aprovar uma legislação que exija uma auditoria na "caixa-preta" dos custos da indústria farmacêutica que descobre fármacos para a concessão de novas patentes.

* Pesquisa e Desenvolvimento


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