quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Eventos extremos e acelerados


O inverno severo do Hemisfério Norte, a onda de calor em Moscou em meados do ano, as inundações no Paquistão. Os eventos climáticos extremos que assombraram 2010 vão tornar-se mais frequentes nas próximas décadas, segundo prognóstico divulgado na quarta-feira (1/12) pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM).

Os sinais de um quadro descontrolado no futuro são evidentes. A um mês de seu fim, 2010 já é considerado o mais quente desde o início das edições de temperatura. E os próximos anos deverão ser ainda piores, com ondas de calor escorchante.

Os cientistas explicam que mesmo ondas de frio extremo, como a que agora volta a afetar parte da Europa, podem estar associadas ao aquecimento global. Em sua análise, a OMM admite ser "impossível dizer se um ou outro desastre natural foi 'causado' por mudança climática".

Ainda assim, a instituição alerta que "o cenário atual será provavelmente alterado pela maior concentração de gases-estufa na atmosfera".

Em entrevista durante a 16ª Conferência do Clima, em Cancún, no México, o diretor do Programa de Investigação do Clima Mundial da OMM, Ghassam Asrar, pediu para que os países priorizem o desenvolvimento de sua infraestrutura para que, assim, resistam melhor aos eventos extremos.

Estas ações impediriam, por exemplo, a morte de 1.500 pessoas no Paquistão, devido a uma série de inundações ocorridas em agosto. O Brasil é uma vítima em potencial das intempéries provocadas pelo aquecimento global. Em outubro, a consultoria britânica Maplecroft criou um ranking de vulnerabilidade às mudanças climáticas. O país ficou na 81ª posição, classificado como "alto risco", entre os 170 listados.

- Haverá mudanças notáveis nos parâmetros climáticos do Brasil nos próximos 30 anos, como o nível de precipitações, temperatura e umidade - adverte o analista Matthew Bunce, um dos responsáveis pelo estudo. - As regiões ao leste do país são mais expostas aos riscos da mudança climática, devido à sua suscetibilidade histórica a inundações e seca.

Apenas 30% do território do país está exposto a mudanças altas ou extremas, mas isso equivale a uma área onde mora uma grande parcela da população. O acirramento dos eventos extremos fez o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) rever as estatísticas divulgadas, três anos atrás, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

O órgão, vinculado à ONU, previa que os termômetros brasileiros avançariam até 4 graus Celsius na Amazônia em 2100.

- Agora admitimos que, no Norte do país, a temperatura pode crescer 5 graus, e, no Sul, até 3 graus - explica o climatologista José Marengo, do Inpe.

- Uma série de episódios nos motivou a rever os prognósticos. Por exemplo, 2010 termina como o ano mais quente da série histórica, mesmo sem um fenômeno natural de grande porte. Afinal, o El Niño foi incomparavelmente mais fraco do que em sua última aparição, em 1998.

É evidente que a ação humana tem a sua responsabilidade neste recorde. Até meados do século, a temperatura média subiria mais de 3 graus em boa parte do país, desencadeando uma série de transformações. A caatinga passaria por um processo de desertificação. A Floresta Amazônia vai se retrair. O bioma passaria por secas rigorosas, com extinção de diversas espécies. As queimadas facilitariam a expansão de doenças respiratórias.

O Sul, por sua vez, sofreria com mais precipitações, tornando-se mais exposto a enchentes e deslizamentos em centros urbanos. (Renato Grandelle)

Fonte: O Globo

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