quinta-feira, 14 de julho de 2011

Diálogo entre inovação e educação


Para especialistas, escolas precisam adotar a cultura empreendedora para 
acompanhar mundo inovador.

Diante dos novos desafios que se apresentam para a área de inovação, as escolas nacionais, do ensino fundamental ao universitário, precisam adotar a cultura empreendedora nas salas de aulas. Esse foi o tema da conferência 'Inovação Tecnológica e Universidade: Papel dos Parques Tecnológicos, Empresas Juniores e Incubadoras', realizada ontem (13), na 63ª Reunião Anual da SBPC, em Goiânia (GO).

Luís Afonso Bermúdez, diretor do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (CDT/UnB), vê necessidade de as universidades adotarem um novo padrão de inovação e de uma cultura empreendedora em sala de aula. "O cenário global está mudando e o atual 'clichê' sobre inovação das universidades não vale mais", enfatizou Bermúdez, que dividiu a mesa de debate com Ana Lúcia Vitale Torkomian, secretária adjunta de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec) do Ministério da Ciência e Tecnologia, e Leverson Lamonier, coordenador setorial de Inovação Tecnológica da Confederação Nacional de Jovens Empreendedores (Conaje).

Lamonier chamou a atenção para a necessidade de estimular a cultura empreendedora em todas as camadas do ensino e não especificamente no ensino superior. "Temos de estimular o conhecimento empresarial em todas as áreas do ensino - fundamental, médio e universitário", defendeu. Ele acredita que o brasileiro tem o "espírito" empreendedor, mesmo diante da falta de estímulos.

Citando dados do Ibope, Lamonier informou que 70% dos universitários brasileiros iniciam a faculdade com o interesse de criar os próprios negócios. Porém, acrescenta ele, apenas 3% conseguem torna-se empreendedores, seja por falta de estímulos ou por falta de conhecimento. Lembrando da alta taxa de mortalidade das empresas no Brasil, ele defende o aumento da implementação de incubadoras de empresas para estimular a inovação tecnológica. "Sabemos que cai para 20% a taxa de mortalidade de empresas que passam pela incubação", mencionou Lamonier.

Cooperação - Ao concordar com Lamonier, Ana Lúcia, da Setec, defendeu a cooperação entre governo, universidades e empresas. Acrescentou que as incubadoras já são "excelentes instrumentos" para a promoção "de transbordamento" do conhecimento da universidade para o ambiente empresarial. Ela destacou a importância do Sistema Brasileiro de Tecnologia (Sibratec) do MCT como uma das principais ferramentas de articulação e aproximação de institutos de pesquisas com o setor empresarial. O Sibratec tem como objetivo apoiar o desenvolvimento tecnológico do setor empresarial nacional.

Ana Lúcia acrescentou que a Lei de Inovação, de 2005, assinada pelos ministérios da Educação (MEC), do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e MCT, prevê a obrigatoriedade da implementação de um núcleo de inovação e tecnologia nas universidades federais. Antes mesmo de essa medida ser formalizada há seis anos, a secretária recordou que as universidades públicas já possuíam núcleos, mas houve um aumento considerável de novas unidades após a criação da Lei. Segundo afirmou, hoje existem cerca de 180 centros de inovação instalados em várias universidades federais do Brasil.

Ainda assim, Ana Lúcia reconhece que o grande gargalo hoje está justamente na transformação de conhecimento obtido nas universidades em riquezas para a sociedade. E acrescentou a necessidade de "refinar" a Lei de Inovação para estimular mais a inovação nas universidades.

Novo marco regulatório para universidades - Durante o debate, Bermúdez defendeu a implementação de novos modelos de gestão e de um marco regulatório para o setor. Dessa forma, ele engrossou o coro de especialistas e acadêmicos que defendem uma nova legislação para todo o setor de ciência e tecnologia, capaz de acompanhar a evolução do segmento nos últimos dez anos, principalmente.

No caso de gestão nas universidades públicas, Bermúdez defendeu a adoção de paradigmas que alavanquem a inovação nas universidades para atender, cada vez mais, às necessidades da população. Ele criticou a ausência de produção nacional na área de saúde. "Nossos equipamentos médicos são todos importados".

Bermúdez citou como um exemplo bem sucedido o Programa de Empresas Júnior, criado há 25 pela UnB, para promover oportunidades de negócios para os alunos, sob a orientação de docentes de várias áreas. "Ser apenas uma universidade pública é muito ideológico hoje", disse ele, que defende o avanço do atual modelo universitário.

No que se refere ao novo marco regulatório, Bermúdez diz ser necessário acabar com a burocracia das universidades, cujo principal gargalo ocorre na área de Recursos Humanos. Para ele, os concursos públicos para contratação de professores qualificados são realizados de acordo com normas que não condizem com as necessidades reais. "É preciso criar regras específicas para contratação de pessoal nas universidades", sugeriu. (Viviane Monteiro) 

Fonte: Jornal da Ciência

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