terça-feira, 12 de julho de 2011

Embrapa sugere marco regulatório para uma economia verde


O Cerrado Brasileiro, que despontou como uma fronteira agrícola a partir da década de 1970, deve ser a mola propulsora que levará o Brasil a tornar-se uma potência mundial agrícola, ambiental e energética (renovável) nos próximos anos. 

A opinião é do presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Pedro Antonio Arraes Pereira, em conferência sobre Cerrado: água, alimento, energia e pesquisa agropecuária, no primeiro dia da 63ª Reunião Anual da SBPC, em Goiânia. Ele alerta, entretanto, para a necessidade de o País criar um marco regulatório da "economia verde" e avançar mais na implementação de ciência e tecnologia (C&T) para evitar novos desmatamentos no campo.

Pereira lembra que a produtividade de grãos do Cerrado nos últimos dez anos vem superando a média nacional, em decorrência do acesso à ciência e tecnologia (C&T) e da implementação de políticas públicas favoráveis de fomento ao campo. Sem dar detalhes dos investimentos de C&T aplicados exclusivamente no Cerrado, Pereira mencionou que os recursos atuais investidos em ciência e tecnologia agrícola representam 0,12% do total de 1,6% investido hoje no setor de C&T do Brasil. A expectativa do presidente da Embrapa é de que os recursos em C&T cresçam para 3% do PIB em curto prazo. 

Na última década, informa Pereira, a produtividade do milho no Brasil atingiu em média 3,5 mil por hectare, enquanto a do Cerrado foi de 12 mil. A da soja, a principal commodity agrícola cultivada no Brasil, principalmente em Mato Grosso, atingiu 2,6 mil no País, abaixo da produtividade de 3,9 mil por hectare apurados no Cerrado.

Ao mesmo tempo em que destaca os avanços agrícolas obtidos no Cerrado nos últimos anos, que ajudou a alavancar as exportações do agronegócio e o abastecimento de alimentos internamente, Pereira menciona também o impacto negativo da exploração agrícola sobre o meio ambiente. "Tudo na vida tem seu lado positivo e negativo. Não há almoço de graça", disse. 

Marco regulatório para a economia verde - Para o presidente da Embrapa é necessário ser criado um marco regulatório voltado para a economia verde nacional que contemple regras para a certificação de produtores rurais que adotam a prática de sustentabilidade nas propriedades agrícolas. "A agricultura será a indústria do futuro e pode ser a propulsora da descabornização de nossa economia", declara ele. Hoje a agricultura representa 40% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para ele, a adoção de políticas corretas pode garantir a produção de alimentos alinhada à sustentabilidade no campo, mesmo na agricultura irrigada. Pereira acredita que chegará o momento de Brasil cobrar o custo da água irrigada utilizada das bacias hidrográficas, seguindo os padrões mundiais.

O desafio da agricultura brasileira é manter a atual extensão de terra cultivada e alavancar mais a produtividade pela implementação da tecnologia, mesmo que o País tenha capacidade de aumentar em 100 milhões de hectares a área cultivada de grãos principalmente pela recuperação de áreas degradadas. 

Nas últimas semanas a Conab divulgou a estimativa de área plantada da atual safra (2010-2011) de aumento de 4,4%, passando de 47,4 milhões de hectares, na safra anterior, para 49,5 milhões de hectares. A produção agrícola é estimada em 165 milhões de toneladas de grãos, um aumento de 8,6% sobre a safra anterior. 

Diante do aquecimento climático, a Embrapa tem realizado simulações para viabilizar a produção de culturas agrícolas resistentes a um eventual aumento de temperatura de até 5 graus nos próximos anos. A estatal fechou um acordo com o Japão em que prevê a incorporação de novos genes de tolerância à seca. Será incorporado o gene japonês Dred em culturas agrícolas como arroz, milho, soja e trigo cultivados no Brasil. 

Embrapa e SBPC criticam viés ideológico no Código Florestal
Para o presidente da Embrapa, o novo texto do Código Florestal tem um viés ideológico e não tem um embasamento técnico sobre os impactos no campo. Ele chama a atenção para a necessidade de o País avançar no atual texto para evitar novos desmatamentos das florestas. "Hoje o Brasil já tem área suficiente para ser o celeiro agrícola do mundo", disse. 

Com opinião semelhante, José Antonio Aleixo, secretário da SBPC e pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, voltou a criticar o texto do código por não considerar o papel da Ciência. "É muita política investida no Código Florestal", reitera Aleixo, que coordenou a conferência sobre Cerrado: água, alimento, energia e pesquisa agropecuária, no primeiro dia da 63ª Reunião Anual da SBPC, em Goiânia, ontem (11).

A SBPC enviou nos últimos dias uma carta ao Senado Feral em que pede que o novo texto do Código Florestal seja avaliado pela Comissão de Ciência e Tecnologia (C&T) da casa. Em março, a SBPC já havia divulgado um estudo em que mostra os impactos do texto do Código Florestal. "As mudanças propostas não atendem à realidade brasileira a longo prazo nem ao agronegócio, nem ao Meio Ambiente. Se alguém perde é o País", disse Aleixo. 
(Viviane Monteiro)


Fonte: Jornal da Ciência

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