segunda-feira, 9 de novembro de 2009

MOEDA CORRENTE: PERSPECTIVAS


Ivanaldo Xavier


        A entrada de um novo ano sempre traz muitas esperanças para os brasileiros. Não é a toa que se diz que o brasileiro tem como profissão a esperança. Do mês de janeiro até meado do ano, o brasileiro vai vivendo, não apenas com o que o presente lhe dá, mas com o que o futuro poderá lhe trazer.



        Entretanto, como o hoje é sempre presente e o amanhã nunca deixará de ser o futuro, o brasileiro vai suportando a vida com o que o salário lhe permite comprar, mas não perde a esperança. Afinal, o ritual de passagem de ano alimenta sempre a sua alma, com esse, que é o seu alimento principal: a esperança.



        O salário não importa! Hoje ele corresponde a mais de cem dólares e no futuro pode valer 200. O que importa realmente é a nossa moeda corrente: perspectiva. A perspectiva de dias melhores, que certamente virão no futuro. Os noticiários da televisão trazem notícias ruins todos os dias, mas para o profissional da esperança os noticiários não têm nenhum valor, pois somente trazem notícias do passado e como diz o cancioneiro, amanhã, vai ser outro dia.



        O brasileiro sonha um dia poder entrar no supermercado, encher o carrinho de compras e chegar ao caixa, enfiar a mão num saco cheio de perspectivas e pagar. Qual foi o valor das compras? 20 perspectivas! ...E isso ele tem de sobra. Seria o dia mais feliz de sua vida, uma vez que a fartura da mesa traria um semblante diferente no rosto da mulher e dos filhos, já fartos de tanta miséria.



        Mas quando passa o meio do ano, começa uma nova fase da vida. Aquele ano que está para terminar não lhe oferece mais o combustível, matéria-prima da moeda corrente em seu mundo de miséria: a esperança. Então, ele começa a se virar como pode e passa a cunhar a sua moeda com a esperança de um novo ano que se aproxima.



        Assim, o brasileiro já começa o ano devendo. Devendo esperança para si mesmo. Mas vem a passagem de ano e todas as dívidas de esperanças são pagas, pois uma nova carga chega com todos os abraços e desejos dos parentes e amigos e novas moedas de perspectivas são cunhadas para serem usadas no ano novo que está começando. 




        Triste será o dia que o brasileiro acordar e procurar no armário algum alimento para os filhos e não encontrar. Olhar para a mulher e ver que uma lágrima lhe escorre do rosto e feito uma tromba d’água vem arrastando todos os fios de esperança que ainda restavam naquele semblante e ao enfiar a mão no bolso não encontrar a sua moeda real, mas apenas a certeza de que lhe restam, praticamente, 25 dias para que um novo salário lhe seja pago.



        Esta é a triste realidade. Taí!... a realidade deveria ser o Real desse mundo de fantasias no qual o brasileiro vive cunhando as suas perspectivas com a esperança do dia-a-dia. A realidade corrói o valor da perspectiva e deixa a esperança mais escassa e por consequência, deixa também o brasileiro mais pobre a cada dia que passa. Mas o que passa é passado e o passado, nesse caso, não importa. O que importa é o futuro, e é lá que existe a esperança, o nosso precioso metal, com o qual cunhamos as nossas perspectivas que nos permitem viver a realidade do hoje.



Então, só nos resta desejar muitas esperanças para o ano novo que já se aproxima.



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