terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Jornalismo Indecente


por Mirian Meliani

Tudo bem. Pode ser que o presidente mais popular que o Brasil já teve dentro e fora do país talvez não seja essa maravilha toda. Ele é mesmo cafona, fala errado e expõe sem vergonha o que, de fato, o Brasil e todos nós somos. Não nascemos na França, não temos a Torre Eiffel, só a ponte estaiada com o nome do Sr. Frias.

O Lula é a cara do Brasil, sim. Quem gosta, gosta. Quem odeia, odeia.

Mas tudo tem limites. Em 1989, quando o sr. Fernando Collor de Mello (e Roberto Marinho) jogou no horário eleitoral a história da Sra. Miriam Cordeiro e acabou ganhando as eleições, a imprensa não se indignou muito com o uso de uma história pessoal, de forma grosseira e repleta de ressentimentos, para fins eleitorais dos mais espúrios. Só um pouquinho.

Recentemente, a imprensa noticiou um filho, resultado de um caso extra-conjugal do ex-presidente FHC, depois de 18 anos, com muito respeito e parcimônia, após alguns anos da morte de D. Ruth Cardoso. Corretíssimo (não deveriam fazer com o operário Lula e também com o intelectual FHC, mas fizeram com o Operário, são palavras includidas pelo Edson Lima, não da Mirian). Melhor seria que nem agora fosse notícia, para que a imprensa brasileira parecesse suíça e, assim, pudessemos dizer que nossas empresas de comunicação são realmente responsáveis.

Muito bem. O caderno Brasil da edição de 27/11/2009 da Folha de S. Paulo é de uma vulgaridade tal, de uma manipulação tão chinfrim, que qualquer estudante de comunicação daria risada e diria que é impossível ser tão primário assim. Mas a verdade, aqui, é surreal mesmo.

A pretexto de criticar o filme recém-lançado sobre a vida de Lula, a Folha ocupou o caderno Brasil quase inteiro para desconstruir, deliberadamente, a vida pessoal do presidente em exercício. Belo serviço à democracia! Parece a velha tradição de 1964.

Deram espaço a um velho desafeto, que usa uma página nobre do Caderno Brasil, inteira (!!!), em uma construção de texto nefasta, de uma vulgaridade tal e com uma leviandade tão grande que eu me pergunto, sinceramente: o que levou a Folha a publicar uma coisa dessas? Qual o objetivo disso? Aonde eles querem chegar???

Senhores Clóvis Rossi, Eliane Cantanhede, Gilberto Dimenstein, pelo amor de Deus, me expliquem o que é isso. Se isso for um jornalismo responsável, pluralista e apartidário, então realmente eu não sei o que é jornalismo. Deve ser o novo nome para "não podemos deixar esses caras ganharem a eleição de novo, custe o que custar".

Se será bom para o país que o PT ganhe as eleições? Tenho minhas dúvidas. Esse partido, como todos os demais, PSDB incluidíssimo, virou um balaio de gatos para oportunistas. Mas não quero que o vencedor das eleições seja determinado pelos interesses e gostos pessoais dos senhores donos da Folha e da Veja. Tenham a decência de fazer um debate com um mínimo de compostura e sem desestabilizar o país. Que o melhor vença. Vamos jogar limpo. A propósito: vocês também vão expor supostas denúncias contra a conduta pessoal de FHC a partir de depoimentos de velhos desafetos políticos e pessoais, agora que saiu o documentário sobre o Cebrap? Crítica de cinema é isso...

O meu dinheiro, a Folha não recebe mais. Vou cancelar a minha assinatura, rompendo um hábito de mais da metade da minha vida, de acordar e ler esse jornal durante o café da manhã. Já faz tempo que isso começou a ficar com um sabor amargo, pois o jornal que, durante tantos anos, parecia moderno, responsável e realmente comprometido a ajudar o Brasil a superar suas mazelas, prefere manipular grosseiramente sua edição de acordo com interesses pessoais de seus donos. Que se sustentem, então. Isso é liberdade de expressão.


Convido a todos a fazer o mesmo.

Jornalista Mirian Meliani

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