quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Interface da educação com inovação


O tema é pauta de audiência realizada no Senado.

O sucesso escolar de estudantes da cidade de José de Freitas (PI), que alcançaram notas melhores depois de participar de um projeto piloto de informatização da educação pública, poderá repetir-se nos 40 municípios do País que contam com os piores resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A proposta foi apresentada pelo senador Wellington Dias (PT-PI) em audiência pública realizada nesta quarta-feira (10/8) sobre o tema, promovida pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado. Audiência foi acompanhada por Beatriz Bulhões Mossri, representante da SBPC no Congresso Nacional.

Autor do requerimento para a realização da audiência, cujo tema foi "A interface entre a educação brasileira e as inovações tecnológicas", Wellington Dias recordou que José de Freitas, um município de pouco mais de 30 mil habitantes, tinha um dos piores índices no Ideb antes da implantação do projeto piloto, em conjunto com o Grupo Positivo e acompanhado pela Fundação Carlos Chagas e pelas universidades federais do Piauí e do Rio Grande do Sul. Depois da iniciativa, segundo informou, conseguiu ultrapassar a média nacional do Ideb.

"Parece um investimento elevado e é. Mas, quando a gente calcula o custo da repetência e da evasão escolar, é muito mais barato. Temos hoje aproximadamente 700 municípios brasileiros puxando para baixo a avaliação escolar. Quero que o Brasil seja nivelado. Por isso, sugiro que façamos em 40 municípios, inicialmente, o que fizemos em José de Freitas", afirmou Dias.

Segundo o diretor comercial do Grupo Positivo, Ruy Rocha Loures, o projeto foi desenvolvido em 11 escolas públicas e atingiu cerca de 2 mil alunos de 1ª a 5ª série. Foram envolvidos 30 diretores, 150 educadores, 11 monitores pedagógicos e 2 coordenadores. Os profissionais receberam mais de 600 horas de capacitação.

Os resultados foram significativos. Em 2007 o IDEB do município foi de 3,3. Já em 2009 subiu para 4,4, acima da média nacional. Outro ganho importante foi a inclusão digital de crianças e adultos.

Quando o projeto começou, 50% dos professores não sabiam usar os computadores. Na comparação das escolas que integraram o projeto com as demais do município, a Fundação Carlos Chagas constatou que houve um ganho no aprendizado da língua portuguesa e da matemática. Até a evasão escolar diminuiu.

Para Loures, com o uso de tecnologia educacional de qualidade toda a comunidade caminha rumo à erradicação da miséria e para um futuro melhor. Em um município tão pobre, relatou, foi possível identificar como os pais dos alunos perceberam que a educação era o "único caminho para que os filhos viessem a melhorar de vida".

Recursos Humanos - O segundo vice-presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Jesualdo Pereira Farias, observou que o Brasil hoje se destaca no cenário internacional entre os 12 países que mais produzem ciência.

Ele ressaltou, no entanto, a necessidade de as universidades federais serem dotadas dos recursos humanos necessários ao acompanhamento de processos de inovação tecnológica. Segundo o professor, muitos pesquisadores ainda encontram dificuldades para requerer patentes e não conhecem o marco legal relacionado à inovação.

A velocidade do processo de inovação mundial foi lembrada pelo superintendente da área de universidades da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Victor Hugo Gomes Odorcyk. Ele observou que muitos dos produtos que usaremos dentro de 10 anos ainda nem foram inventados. Por isso, chamou atenção para a necessidade de aperfeiçoar e acelerar a formação de recursos humanos para o setor. "Existe um descompasso entre a velocidade da tecnologia e a velocidade da formação de nossos recursos humanos", alertou.

O País vive hoje um paradoxo: de um lado, um número cada vez maior de postos de trabalho desocupados; de outro, um enorme contingente de pessoas desempregadas por não terem sido preparadas para utilizar as novas tecnologias.

O problema também está no aparelho formador, acredita. O Brasil tem hoje entre 135 a 140 mil doutores, sendo que 2/3 foram formados a partir de 1996. Entre 1996 e 2004 foi quando houve a maior velocidade de formação desses doutores, depois diminuiu o ritmo. Atualmente forma-se cerca de 12 mil doutores/ano.

Contudo, o Brasil não está longe dos outros BRICS no que se refere ao número de doutores. Proporcionalmente à população, temos o mesmo número de doutores do que a China. Só que cerca de 80% desses doutores estão nas universidades ou ainda em formação, 11% estão na máquina pública e cerca de 6% na indústria. Quanto à desconcentração de doutores já houve melhora, mas ainda tem que haver mais esforços para atrair doutores para a Região Norte e para o interior do Nordeste.

Centros de Excelência - Durante o debate, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) ponderou que, além da tecnologia contribuir para a qualidade da educação, a educação também é essencial para se criar inovação. Não há uma economia sólida sem inovação radical, sem novos produtos. Por isso, ele sugeriu a criação de um Sistema Nacional do Conhecimento, com centros de alta tecnologia, a exemplo do ITA/Embraer e da Embrapa. Na visão dele, o Brasil tem que investir em novos centros, mas, nada disso acontecerá se não tivermos ensino superior de alta qualidade. Em sua opinião, a melhoria de qualidade não é uma exigência apenas para o ensino básico. As universidades, disse ele, também têm que se modernizar.
(Com informações de Beatriz Bulhões Mossri e da Agência Senado)

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