terça-feira, 20 de setembro de 2011

Produção de conhecimento conjunto entre países do Mercosul ainda é insuficiente


Fragmentação das redes e o próprio crescimento do bloco são algumas das razões apresentadas pelos palestrantes do 12º Congresso Internacional do FoMerco.

A produção de conhecimento nas áreas de ciência, tecnologia e educação e seu compartilhamento entre os países do Mercosul ainda está aquém do esperado. Essa foi uma das conclusões apresentadas no 12º Congresso Internacional do Fórum Universitário Mercosul (FoMerco), que aconteceu de 14 a 16 setembro na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O FoMerco é uma rede acadêmica de Universidades Sul-Americanas que se reúne anualmente para discutir e analisar as implicações, as trajetórias, os problemas e os avanços relativos ao processo de integração do Mercosul. Fundada há 12 anos, esta associação civil, sem fins lucrativos, está aberta à adesão e participação das instituições de ensino superior (IES) ou órgãos acadêmicos que se dediquem plena ou parcialmente a atividades relacionadas com o Mercosul e a integração latino-americana.

O congresso contou com a participação de representantes de universidades do Brasil (como Uerj, UFRJ, UFF e UFPE-ALAS), Argentina (Universidad de Buenos Aires) e Venezuela (Universidad de los Andes). Os participantes discutiram temas como as "vivências latino-americanas" e fizeram um balanço dos 20 anos do Mercosul.

Williams Gonçalves, do curso de especialização em História das Relações Internacionais da Uerj, que atualmente é professor convidado na Universidade de Rosário, na Argentina, destacou os programas criados pelos ministérios de educação dos países e ressaltou que o intercâmbio está criando "um legado acumulado de valor extraordinário e inestimável". "Nos últimos anos, vejo um aumento significativo de brasileiros fazendo não só pós-graduações, mas também graduações na Argentina", exemplificou.

Redes - Por sua parte, Ingrid Sarti, cientista política da UFRJ, membro da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), também participou do balanço de duas décadas do bloco e, apesar de admitir que atualmente "há muitos colegas e estudantes circulando", acredita que a produção de conhecimento poderia ser intensificada. "Temos poucos uruguaios e paraguaios participando, por exemplo. E as dificuldades não são especificas, são decorrentes da expansão do bloco e da expansão do próprio FoMerco", explica.

A professora acredita que "em termos de produção de ciência, tecnologia e educação, estamos mal, porém, estamos melhor que no ano passado. Estamos mal no sentido de que há uma enorme fragmentação. A produção em redes funciona, mas não conseguimos uma conexão entre elas, que atuam quase em paralelo. As redes estão virando GTs (Grupos de Trabalho) em vez dos GTs virarem redes", detalha.

Entretanto, Sarti sublinha alguns avanços, como a criação da Universidade Federal da Integração Latino Americana (Unila) no ano passado, em Foz do Iguaçu - cidade estratégica entre Brasil, Argentina e Paraguai. A cientista política foi membro da comissão de implantação da instituição. "Ela tem como desafio não só se consolidar tradicionalmente, mas também consolidar um novo conceito de universidade, com método novo de produção de conhecimento". Sarti também destacou a criação de conselhos da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). "São estruturados de maneira diferente do que são as instituições do Mercosul. Eles têm muito mais autonomia e a possibilidade de pensar questões e propor soluções no meio regional", justificou.

A professora também acredita que o FoMerco se encontra "num ponto de inflexão" porque se expandiu muito "e tem que renovar suas propostas de articulação, as propostas de todas suas universidades". A expansão, não só do Fórum, mas também do bloco, teria contribuído para a fragmentação das redes. "Temos estudantes e colegas de todos os lugares, não só do Mercosul, e isso faz com que tenhamos que repensar uma forma de tornar a rede de comunicação mais efetiva, agregando mais todos os interesses representados em torno da questão da integração", concluiu. (Clarissa Vasconcellos)

Fonte: Jornal da Ciência

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