segunda-feira, 31 de maio de 2010

Melhoria do ensino reduz desigualdade, apontam especialistas


É preciso melhorar o sistema de ensino no Brasil para que as desigualdades sociais sejam reduzidas e haja mais inclusão social, avaliaram na sexta-feira (28) os participantes de plenária sobre o tema, na 4ª Conferência Nacional de CT&I Luiz Davidovich, físico e secretário-geral do evento, lembrou que os cientistas e a comunidade acadêmica não podem resolver todos os problemas, que, muitas vezes, têm a ver com a adoção de políticas públicas corretas para reduzir a lacuna que existe entre os menos e os mais favorecidos.

"Às vezes, ficamos muito preocupados que coloquem muito peso nas costas da comunidade científica em relação a essas questões. Questões de políticas públicas, e que são importantes, extravasam o âmbito da ciência", disse. Um exemplo citado por ele é sobre a assistência educacional às crianças de até 3 anos. 

Para Davidovich, essa assistência é fundamental para "determinar o horizonte, o futuro dessas crianças." Segundo ele, existem estatísticas, com números levantados em outros países, que mostram que uma intervenção nessa faixa de idade muda o rumo do cidadão, reduzindo a taxa de criminalidade e aumentando a chance de acesso ao ensino superior. 

"Então, essa é uma questão que independe da ciência e tecnologia", disse. Por outro lado, ele destaca que é importante a ciência atuar em conjunto com as tecnologias sociais, que procuram estimular novos tipos de empreendimentos. Para ele, é importante que a inovação não ocorra apenas nas empresas clássicas, mas também em novos setores como cooperativas e empreendimentos sociais e populares. 

"Em outras palavras, procura-se também conceber novos tipos de empresa, com inovação, mas que não participem de um processo de exclusão social e que apresentem perspectivas para um novo modelo de organização social", observa. Nesse aspecto, ele defende mudanças, por exemplo, no ensino de ciências, não da forma como é feito em muitas escolas, apenas com o quadro de giz, mas que permita ao estudante vivenciar as experiências. 

Outro problema que acaba se refletindo na inclusão é a falta de uma escola boa e eficiente para todos. Davidovich lembra que, nas comunidades carentes, os pais analfabetos, ao descobrirem que os filhos já leem, ficam satisfeitos e acham que é o suficiente para uma ocupação no mercado de trabalho. No entanto, há uma discriminação entre as escolas dessas comunidades e as escolas das classes média e alta. "Não basta a criança aprender a ler e ser enviada ao mercado de trabalho. 

Ela tem de aprender a perguntar, questionar, interrogar a natureza". Davidovich também acredita que é preciso investir mais na formação dos professores. Ele sugeriu que haja um maior envolvimento de todos nessa questão, do Estado e do próprio mundo acadêmico, principalmente nas instituições públicas. 

Na plenária sobre o papel da ciência, da tecnologia e da inovação na redução das desigualdades sociais e na inclusão social como consequência da democracia e da cidadania, foi mostrado que a nota mínima para entrar, em uma universidade, no curso de medicina, é 8,3, enquanto para os candidatos à licenciatura de física e matemática, é pouco mais de 3. "Ora, esses serão os professores e educadores das nossas crianças, os formadores das nossas crianças. Entram no vestibular com média 3. É um paradoxo que foi resolvido em outros países", afirmou. 

O especialista chegou a comparar esse cenário a um regime separatista como o apartheid, em que há dois grupos: um que é beneficiado com educação de qualidade e outro que recebe uma educação de baixa qualidade. "Se não mudarmos isso, o país não terá um forte protagonismo internacional. Vem de séculos [essa realidade], da escravidão, da segregação social e precisa de dez a 20 anos [para ser resolvida]. Deve ser iniciada logo [uma mudança desse quadro], para que, daqui a 20 anos, não tenhamos mais essa segregação". 

De acordo com a professora Maria Alice Rezende de Carvalho, do Departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, é importante transformar a ciência em algo que tenha valor para o cidadão comum. Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), Maria Alice disse ainda que não se pode separar ciência e tecnologia que, constitutivamente, estão associadas à democratização da sociedade. Ela citou como exemplo a difusão da informação, que precisa de uma tecnologia específica e está cada vez mais desenvolvida. 

O próprio processo de formação de acervos envolve ciência, observou. "Sem informação é impossível dar prosseguimento aos desejos e entender de que maneira esses desejos podem ser realizados por meio de cursos e de uma formação específica", disse. Maria Alice também destacou a educação como de fundamental importância nesse processo de inclusão e na redução das diferenças sociais e econômicas. "A Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação pretende que a ciência seja uma linguagem do mundo e que ela traga, de fato, melhoria para a qualidade das condições de vida das grandes massas brasileiras". 

Entre os aspectos importantes para que isso ocorra, a professora citou a melhoria da qualidade de vida em todos os níveis e a possibilidade de transformação das inovações sociais, que estão na base da sociedade, encontrarem caminhos para a difusão desse conhecimento. Para a presidente da Anpocs, é importante também que comunidades que, muitas vezes, têm saberes empíricos, venham a ser também produtoras de conhecimento. 

Fonte: Daniel Lima (Agência Brasil)

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