quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Crise reduz gastos mundiais com inovação


Investimento caiu 3,5% em 2009 no mundo, segundo estudo da Booz & Company. As mil companhias que mais investem em pesquisa e desenvolvimento (P&D) em todo o mundo reduziram em 3,5% seus orçamentos em 2009 por conta da crise econômica. No total, as empresas gastaram US$ 503 bilhões na criação de novos produtos e serviços no ano passado, ante US$ 521 bilhões em 2008.

Essa é a primeira queda nos investimentos registrada desde que a consultoria americana Booz & Company começou a medir o volume de recursos aplicados pelas maiores empresas, em 2000.

Roberto Leuzinger, diretor da consultoria na América do Sul, explica que apesar da redução dos orçamentos, o cenário de investimento em P&D no mundo é promissor. Ocorre que o corte nessa área foi menor do que o realizado em outros departamentos das companhias.

Segundo Leuzinger, a redução de despesas administrativas e dos investimentos em bens de capital chegaram a 5,5% e 17,5%, respectivamente. "O corte menor em P&D significa que as empresas avaliam esse investimento de forma estratégica, com visão de longo prazo", afirma ele.

Apesar da queda em valores absolutos, os investimentos em P&D subiram como percentual do faturamento das empresas: de 3,46% para 3,75% do total.

O fenômeno aconteceu diante de um cenário de queda de 11% no faturamento das companhias, um reflexo da crise econômica. Segundo a Booz & Company, as mil empresas que compõem o levantamento venderam US$ 13,4 trilhões em 2009 comparado a US$ 15,1 trilhões no ano anterior.

A amostra selecionada pela consultoria para compor o estudo representa aproximadamente 48% de tudo o que foi aplicado em pesquisa e desenvolvimento em todo o mundo em 2009, um total de US$ 1,06 trilhão.

Entre os setores com maior volume de investimentos em inovação destacaram-se novamente os de computação e eletrônicos (com 27% do total), saúde (22%) e automobilístico (15%). Junto à área de software e internet, o segmento de saúde foi um dos que mais se destacou em termos de crescimento, segundo Leuzinger.

O setor automobilístico, por outro lado, apresentou uma das maiores quedas. Afetadas pela redução nas vendas no mercado americano e japonês, as montadoras reduziram drasticamente seus investimentos e com isso perderam posições no ranking.

A Toyota, que em 2008 foi a primeira colocada da lista geral, investiu 19,77% a menos em 2009 e caiu para a 4ª posição. A Ford passou do 8º para o 20º lugar, com orçamento praticamente um terço menor nesse período. A General Motors (GM) saiu de 5ª para 11ª colocação, com 25% de recuo.

Na dança das posições entre as dez companhias com maiores orçamentos, se sobressaíram companhias como Roche, GlaxoSmithKline e Samsung. A Roche assumiu a liderança do ranking , com aumento de 11,63% e orçamento de US$ 9,12 bilhões. A Glaxo e a Samsung conseguiram se posicionar entre as dez primeiras.

A Microsoft, que em 2008 estava na 4ª lugar, subiu duas posições, tendo aumentado em 10,36% seus investimentos. A companhia tomou o lugar da Nokia que, por ter reduzido seu orçamento em 0,99%, passou para o 3º lugar.

Por região, o maior volume de recursos foi aplicado por empresas baseadas na América do Norte - cerca de 38% do total. A Índia e a China foram as únicas áreas geográficas com alta nos investimentos: 41% no período de um ano. O Japão apresentou recuo de 10%.

De acordo com Leuzinger, a expectativa é de que os investimentos em pesquisa e desenvolvimento voltem a subir em 2010: "Mesmo com a Europa e os Estados Unidos ainda passando por dificuldades, as empresas já superaram o período mais nebuloso."

Leuzinger diz, contudo, que as empresas devem se preocupar mais com a qualidade e menos com a quantidade de dinheiro investido em P&D. Para ilustrar esse ponto de vista, o executivo cita o exemplo da Apple. Apesar de ser a 81ª em valores gastos em P&D, a companhia foi escolhida como a mais inovadora por executivos ouvidos na pesquisa. "O que gera benefício é o investimento que tem coerência com a estratégia da companhia", diz Leuzinger.

Cresce participação do Brasil

O Brasil ganhou duas representantes no ranking das mil empresas que mais investem em pesquisa e desenvolvimento no mundo. À lista, que tradicionalmente trazia nomes como Vale, Petrobras e Embraer, juntaram-se em 2009 a distribuidora CPFL Energia e a desenvolvedora de software Totvs.

A CPFL Energia entrou no ranking da consultoria americana Booz & Company ocupando a posição de número 789. Em um ano, o volume investido pela companhia em P&D praticamente dobrou, passando de US$ 40 milhões para US$ 70 milhões. Já a Totvs ampliou seu orçamento para US$ 60 milhões em 2009, ante US$ 35 milhões no ano anterior, o que lhe garantiu a 993ª colocação.

Apesar de ter aumentado sua representação em número de empresas, o Brasil perdeu espaço no total de dinheiro aplicado em P&D. Com queda de 9,3% nos orçamentos (quase três vezes mais do que a média global, de 3,5%), o país passou a representar 0,38% dos investimentos mundiais na área, com US$ 1,9 bilhão. Em 2008, o total era de 0,41%.

Segundo Roberto Leuzinger, diretor da consultoria para a América do Sul, o resultado do país foi impactado pela redução nos investimentos da Petrobras e Embraer. A Petrobras encolheu em 20% seu orçamento de P&D, o que fez com que a companhia caísse 31 posições na lista, para o 151º lugar. A Embraer, por sua vez, teve uma redução de 27% e passou de 624ª para 847ª colocada. A Vale reduziu seus investimentos em 5%, caindo duas posições, para o 103º lugar.

Leuzinger diz acreditar que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de investimentos em P&D. O executivo destaca, entretanto, que o país está em uma posição interessante à frente de países emergentes como Rússia e Índia, os quais disputam um espaço de maior destaque na economia global. (Gustavo Brigatto)

Fonte: Valor Econômico

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