segunda-feira, 2 de maio de 2011

Primeira vacina contra esquistossomose terá tecnologia 100% nacional


Para a pesquisadora da Fiocruz e médica Miriam Tendler, 
a vacina será um investimento social de impacto global.

O Brasil será o primeiro país a desenvolver uma vacina contra a esquistossomose, doença que acomete cerca de 200 milhões de pessoas no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). A substância, desenvolvida com tecnologia 100% nacional, foi descoberta no início da década de 1990 pela médica e pesquisadora titular da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Miriam Tendler. Desde então, já apresentou resultados positivos em testes com animais - 70% de imunização em camundongos - e, ainda em 2011, será testada em humanos. Além de estar se mostrando eficaz para promover a imunização contra casos de esquistossomose, a vacina também poderá evitar casos de outras doenças causadas por helmintos, como a fasciolose, doença do gado de corte que tem um parasita causador semelhante ao da esquistossomose. O estudo contou com recursos da Faperj, por meio do edital Apoio ao Estudo de Doenças Negligenciadas e Reemergentes, além de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).

Como em qualquer outra vacina, a técnica consistiu em utilizar um antígeno - substância que estimula a produção de anticorpos - para fortalecer o sistema imunológico do potencial hospedeiro contra o ataque do parasita. No caso, foi a proteína SM-14, obtida pelo grupo de pesquisadores da Fiocruz e colaboradores coordenado por Miriam Tendler, a partir do próprio Schistosoma mansoni, o parasita causador da esquistossomose. Proteína essencial para a sobrevivência do parasita, a Sm-14 é propriedade intelectual da Fiocruz e faz parte de um grupo conhecido como fatty acid-binding proteins (proteínas ligadoras de ácidos graxos). "No início dos anos 1990, a SM-14 foi eleita pela OMS como um dos seis antígenos prioritários para o desenvolvimento da primeira vacina contra a esquistossomose, ao lado de quatro propostas americanas, que não foram para frente, e de uma francesa, que não tem a mesma abrangência que a nossa, pois é restrita à esquistossomose", conta.

Reprodução - De acordo com a coordenadora do projeto, a versatilidade da utilização do antígeno é o grande diferencial da proposta brasileira. A proteína SM-14 pode servir como base para a produção de vacinas que atuem contra diversas doenças causadas por helmintos. "Estamos na fase final do desenvolvimento de uma vacina anti-helmíntica bivalente, ou seja, capaz de prevenir duas doenças, a esquistossomose, doença humana de grande importância social, e a fasciolose, que acomete rebanhos em todo o mundo", explica Miriam Tendler. O próximo passo, no entanto, é ampliar ainda mais a abrangência da vacina para torná-la multivalente. "Já temos em vista adaptá-la para que também possa prevenir outras doenças causadas por helmintos, como a hemoncose, que afeta bovinos e ovinos", completa. 

A possibilidade de abrir o leque, tornando a vacina um produto da indústria veterinária em um futuro próximo, ajudou a impulsionar, indiretamente, o desenvolvimento da substância também para humanos. Uma parceria que envolve o licenciamento da exploração de patentes foi fechada entre a Fiocruz e a indústria brasileira Ourofino Agronegócio. "Estamos às vésperas da realização de testes de segurança da vacina em humanos, que deve durar cinco meses. Depois dessa etapa, será importante que a vacina transponha os limites da academia e seja produzida em escala industrial, para entrar no mercado", avalia. "Será a primeira vacina desenvolvida com tecnologia totalmente brasileira. Isso dará ao país autonomia para prevenir a esquistossomose, adotando a prevenção como medida prioritária, e não apenas o tratamento. Será uma vitória nacional e um investimento social de impacto global", conclui Miriam Tendler.

Fonte: Agência Faperj

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