sexta-feira, 1 de julho de 2011

Diversidade do cerrado é tema de conferência


Farmacêutico da USP vai mostrar como substâncias presentes em organismos do bioma podem ser aproveitadas e auxiliar na sustentabilidade da região.

As plantas e microrganismos do cerrado produzem uma gama enorme e variada de substâncias naturais, das quais muitas podem ser aproveitadas para o desenvolvimento de medicamentos ou outros produtos de interesse comercial. Esse é um dos aspectos dessa região brasileira, que o farmacêutico Fernando Batista da Costa pretende mostrar em sua conferência Bioma do cerrado: diversidade química a serviço da sustentabilidade, a ser proferida durante a 63ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento será realizado de 10 a 15 de julho de 2011, na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO).

Doutor em química orgânica, com ênfase em química de produtos naturais, Costa é especialista no assunto. Desde 1997, ele e seu grupo de pesquisas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP), pesquisam plantas, em especial as da família do girassol e, na grande maioria, oriundas do cerrado, além de alguns microrganismos retirados delas ou do solo. "Nosso objetivo é investigar a natureza e a função de seus constituintes químicos, denominados 'metabólitos secundários'", diz. "Estudamos também como esses metabólitos podem ser aproveitados de forma racional, no contexto da bioprospecção."

Em sua conferência na Reunião da SBPC, Costa vai ressaltar a importância desse trabalho, isto é, de estudar a riqueza presente em plantas e microrganismos do cerrado brasileiro do ponto de vista farmacêutico, medicinal e biológico, tendo a química como pano de fundo. "A química, nesse contexto, refere-se às substâncias presentes nesses organismos do cerrado", explica. "Além disso, pretendo mostrar na conferência que os resultados desse tipo de investigação são importantes para a sociedade e, consequentemente, que o cerrado deve ser preservado e ao mesmo tempo pode ser explorado, porém de modo sustentável."

Banco de dados - As pesquisas de Costa e seu grupo renderam até agora o isolamento de mais de uma centena de produtos naturais, um quarto deles descritos pela primeira vez na literatura científica. Foi elaborado ainda um banco de dados com suas estruturas químicas e bibliotecas de substâncias puras e de extratos vegetais, que estão disponíveis para pesquisas futuras. Além disso, muitos deles foram testados em diferentes sistemas biológicos, tais como animais de laboratório, células animais e humanas, enzimas, insetos, parasitas e microrganismos.

Com isso, foi possível conhecer um pouco sobre suas atividades biológicas e farmacológicas, bem como discutir sobre suas possíveis funções ecológicas e fisiológicas. Alguns dos compostos estudados revelaram ter importância farmacêutica ou com potencial de aplicação em outras áreas. "Assim, podemos concluir que a diversidade química do bioma do cerrado tem importância para vários setores, tais como o farmacêutico, agroquímico, de cosméticos, de alimentos, estando, portanto, a serviço da sustentabilidade", diz Costa.

A importância do trabalho da sua equipe não está, no entanto, apenas na possível aplicação prática de suas descobertas ou na geração de produtos. As pesquisas possibilitam também entender um pouco mais sobre o funcionamento da natureza, como, por exemplo, sua fisiologia e sua história evolutiva. "Não podemos nos esquecer que é por meio dessa diversidade que podemos formar recursos humanos qualificados, com competência suficiente para explorar ainda mais esse potencial, de forma a propagar o conhecimento e revelar novas aplicações que ainda poderão surgir" diz o pesquisador.

Em outras palavras, de acordo com Costa, conhecer a diversidade química do cerrado dá condições de explorar e ao mesmo tempo preservar esse importante bioma, para que gerações futuras possam suprir algumas de suas necessidades. "Infelizmente tem se dado pouca atenção ao cerrado, o segundo maior bioma brasileiro, disperso em uma considerável área geográfica do País, com característica única no mundo e que vem sendo continuamente devastado", lamenta. "Mas, felizmente a SBPC tomou uma sábia decisão ao escolher esse bioma como tema central para sua reunião anual."

Serviço - A palestra do farmacêutico Fernando Batista da Costa, será realizada no dia 11 de julho, das 10h30 às 12h00, no campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG). A entrada é franca. A 63ª Reunião Anual da SBPC contará com 148 atividades, entre conferências, mesas-redondas, simpósios e encontros, além de 67 minicursos e cinco sessões de pôsteres. Boa parte dessas atividades abordará o tema principal do evento: "Cerrado: Água, Alimento e Energia". Haverá ainda uma exposição de ciência e tecnologia, entre outras atividades paralelas.

Veja a programação completa em: www.sbpcnet.org.br/goiania/home/.

Fonte: Ascom da SBPC

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