quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Criaturas e criadores de Gaia



Carolina Borges


Os habitantes racionais de Gaia podem e devem ser divididos em duas categorias: as criaturas e os criadores.

Criaturas remetem aqueles seres onde o adestramento e a domesticação da subjetividade pelas mass mídia, instituições atuantes no poder - nas esferas religiosa, econômica, governamentais - exerce forte influência nos hábitos, modo de vidas, pensamentos e desejos. As criaturas costumam acreditar em um Deus monoteísta e responsável pela felicidade e condução de suas vidas. O poder dado à esse Deus inacessível e transcendental possui características mórbidas, na medida em que o impulso instintivo, criador, as capacidades de pensar, criticar e produzir, inerentes à espécie humana são massacradas e substituídas pelo medo, a crença em outra vida, e pelo pecado humano de existir. Desde que a humanidade iniciou suas práticas tecnológicas deixando para trás a vulnerabilidade perante a natureza - que a hierarquia adentrou sob os pensamentos humanos dando início aos interesses de manutenção do poder por poucos.
 
Desde então o adestramento e a domesticação da subjetividade da massa humana para a manutenção dos interesse de poucos vem sendo utilizada, e dentre as suas estratégias cabe destacar, o grandioso projeto ocorrido há 2004 anos atrás pelo império que detinha o poder. Entre as ações estava a criação de um Deus transcendente, extremamente poderoso com capacidades onipotentes e onipresentes de controlar a vida dos seres vivos. 

Com o advento do monoteísmo, foi sendo gerada e fabricada as criaturas. Seres incapazes de discernimento e com forte tendência a preguiça e a acomodação. A potência da criatividade e do pensamento foram substituídos por crenças e penitências e a instituição criadora do projeto - atualmente sediada na Itália com pisos e construções em ouro - há 2004 enriquecendo e adquirindo mais poder. 

Grandes estratégias foram sendo realizadas para a manutenção da domesticação. As transformações culturais e as novas tendências de comportamento foi e é o foco dessas instituições para a adaptação e sucesso do projeto. Os líderes desses projetos - porcos sentados na morbidez - são seres ambiciosos, capazes de ações surpreendentes para a manutenção do poder. 

Atualmente utilizam das mass mídia como ferramenta de ação. O cinema, a música, a produção de pop stars, o turismo, produtos consumíveis - camisetas, adesivos, chaveiros - foram incorporados nas atividades. 

Um Deus monoteísta com capacidade de gestão na vida em Gaia, é o responsável pela apatia generalizada das criaturas. 

Já a categoria dos criadores, pode ser definida como seres anômalos, habitantes da passagem, agem como anjos dos caos, exercendo suas capacidades criativas e impedindo que a unanimidade da morbidez das criaturas prevaleça. Utilizarei de Nietzsche na conceituação dos criadores. " Os criadores fazem bem aos sentidos: são talhados em madeira dura, delicada e cheirosa ao mesmo tempo. Só encontram sabor no que lhes são salutar; seus agrados, seus prazeres cessam, onde a medida do salutar é ultrapassada. Inventam meios de cura para injúrias, utilizam acasos ruins em seus proveitos, o que não os mata os fortalecem. São um princípio seletivo, muito deixa de lado. Honra na medida em que elege, concede, confia". 

A intensidade atravessa seus cotidianos, hedonistas, amantes do acaso, das experimentações, das alteridades, detentores do poder de ação das suas vidas, conectados com o novo, criam modos de vidas, valores; imorais e éticos por naturezas. 

A questão das diferentes categorias dos seres racionais de Gaia remetem também ao futuro da humanidade. 

Século XXI, humanidade pesquisa vidas e inteligências artificiais, nanotecnologia, transhumanismo, pós humanismo, robótica, protética, clonagem, transgênicos, e dentro deste panorama é inevitável reflexões da utilização das pesquisas para uso e manutenção do poder. 

Já é pressuposto que as criaturas executam funções sob o comando e interesses das instituições econômicas. Burocratas, operários, funcionários públicos, donas de casas, atores e apresentadores de televisão, estão com os dias contados. 

A evidência da semelhança entre as criaturas com os futuros robôs produzidos em séries é a indicação de que a "paisagem " será a mesma, porém com roupagens e estéticas diferentes, já que as criaturas irão ser substituídas por robôs mais eficientes e menos preguiçosos. 

Já os criadores - eternas anomalias do sistema - utilizarão a criatividade como recurso de sobrevivência, diferenciando-se dos robôs através da capacidade sensitiva, intuitiva de criar conceitos, modos de vida, pensamentos e alternativas de vida. Atuarão em Gaia com a capacidade da autonomia produzindo, arte, cultura, música e conhecimento. 

Para onde irão as criaturas executantes dos comandos de adestramento, em um futuro onde só haverá espaço para os robôs e os criadores ? 

Entramos na era da criatividade, já que a diferenciação para o exaustivo e universal acesso a informação será a capacidade criativa dos habitantes racionais de Gaia. 

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Carolina Borges, educadora multimídia, DJ, estudante da filosofia, de Nietzsche e Deleuze. Pesquisadora de cultura digital, colaborou com o Projeto Metáfora. Atuou no CIDEC ( Centro de Inclusão Digital e Educação Comunitária ) na Escola do Futuro (USP), para o projeto Acessa SP do governo do Estado de São Paulo, coordenou o Projeto Cinemação - exibição de curtas metragens na periferia de São Paulo. Graduada em economia pela universidade Mackenzie Escreveu roteiros para documentários, performances e curtas metragens. Editou o blog Ciberutopias.

http://www.ciberutopias.blogger.com.br





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