quinta-feira, 27 de maio de 2010

Brasileiro produz tanto lixo quanto o europeu

Estudo em 364 cidades mostra que o país já se aproxima dos Estados Unidos, o campeão


O brasileiro já produz a mesma quantidade de lixo que um europeu. A melhoria do poder de compra dos brasileiros está fazendo com que a população do país gere cada vez mais lixo inorgânico, como embalagens, ao mesmo tempo em que a implantação de programas de coleta seletiva e os níveis de reciclagem não crescem na mesma medida.

A média de geração de lixo no Brasil hoje é de 1,152 kg por habitante por dia, padrão próximo aos dos países da União Europeia, cuja média é de 1,2 kg por dia por habitante. Nas grandes capitais, esse volume cresce ainda mais: Brasília é a campeã, com 1,698 kg de resíduos coletados por dia, seguida do Rio, com 1,617 kg/dia, e São Paulo, com 1,259 kg/dia.

Além disso, o volume de lixo cresceu 7,7% em 2009 - foram 182 mil toneladas/dia geradas em 2009, ante 169 mil toneladas/dia no ano anterior. Os dados fazem parte do estudo "Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2009", que será divulgado hoje, no Rio.

Coleta seletiva não acompanha ritmo

Os programas de coleta seletiva dos municípios brasileiros não acompanham o ritmo da produção de lixo no país. Embora a geração de resíduos tenha crescido 7,7% entre 2008 e 2009, o número de municípios com iniciativas de coleta seletiva avançou apenas 1,2% no período. Em 2008, 55,9% das cidades brasileiras tinham programas; em 2009, eram 56,6%.

"As atividades de coleta seletiva de materiais recicláveis parecem ter chegado a um ponto de indefinição. Pouco mais da metade dos municípios tem iniciativas nesse sentido ou estimulam tais atividades, mas esse índice não avança na mesma medida que a geração de resíduos", diz Carlos Roberto Silva Filho, diretor executivo da Abrelpe, entidade que reúne empresas de coleta de lixo. Segundo ele, projetos voluntários são apenas uma solução parcial para o problema.

Silva observa, no entanto, que a geração de lixo é menor justamente nas capitais que possuem programas bem-estruturados de coleta seletiva, como Porto Alegre, que está abaixo da média nacional na produção diária de resíduos por habitante.

Enquanto o brasileiro na média produz 1,152 kg por dia, o porto-alegrense gera 1,073. Curitiba, que também tem coleta seletiva eficiente, produz 1,195 kg por habitante/dia, média ligeiramente superior à nacional. "Ao separar os resíduos, o cidadão presta atenção no lixo que produz. E esse é o primeiro passo para reduzir", afirma.

Reciclagem

Apesar da estagnação no número de municípios que praticam a separação dos resíduos, o Brasil manteve posições avançadas na reciclagem de alguns tipos de materiais, como latas de alumínio (91,5% de reciclagem, o mais alto índice do mundo), plástico PET (54,8%, só perdendo para o Japão), vidro (47%) e papel (45%).

Na avaliação de André Vilhena, diretor executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), entidade que apoia cooperativas de catadores e programas de reciclagem nas empresas, o Brasil avançou de forma significativa nos índices de reciclagem de materiais. "São altos quando comparados a outros países. Isso mostra que estamos no caminho certo", diz Vilhena.

Segundo ele, a aprovação da lei nacional de resíduos sólidos deve fortalecer a cadeia da reciclagem, ao propor um marco regulatório para que prefeituras, empresas e consumidores tenham responsabilidades compartilhadas na gestão do lixo. "Para avançar ainda mais, precisamos fortalecer o papel dos catadores com maior investimento das prefeituras e empresas na organização de cooperativas, ampliando a eficiência e melhorando aspectos de qualidade e segurança do trabalho. A lei nacional vai ajudar muito neste aspecto."

Para Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da fabricante de embalagens Tetra Pak, as indústrias que usam resíduos como matéria-prima já enfrentam dificuldades. "A coleta não atende a demanda das fábricas. Está faltando de PET a embalagens cartonadas."

Fonte: O Estado de SP/Jornal da Ciência

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