quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Fonte alternativa atenuará gasto com térmica


O aumento da capacidade de geração de energia elétrica por fontes alternativas - biomassa, eólica e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) - e a antecipação do início da operação da usina de Santo Antônio, no rio Madeira, para dezembro de 2011, devem diminuir em R$ 4 bilhões o gasto com geração térmica no país até 2019.

A economia representa uma redução de 7,8% contra um cenário sem as fontes alternativas, segundo levantamento da consultoria Excelência Energética com base no Plano Decenal de Expansão de Energia 2019, da Empresa Pesquisa Energética (EPE). Isso porque, diferente das térmicas, essas usinas não requerem compra de combustível.

"Quando as usinas termelétricas são chamadas a operar, o gasto com combustível leva o preço da energia para patamares de R$ 600 o megawatt/hora, muito acima do preço das demais fontes, como a eólica, que foi vendida a R$ 130", diz Erik Rego, diretor da Excelência Energética.

Apesar dessa economia, o gasto com energia termelétrica continuará subindo, com um crescimento médio de 5% ao ano. De 2010 a 2019, o estudo estima que devem ser gastos R$ 49 bilhões com a operação de térmicas. Sem as fontes alternativas, a despesa seria de R$ 53 bilhões.

Em dez anos, a geração de energia térmica deve crescer 100%, o que vai representar um aumento de participação na oferta total do sistema de 4,6% para 6,4%. O plano decenal de energia, ainda em consulta pública, prevê que a entrada de novas usinas a gás encerra em 2014, e a óleo, em 2013. A geração de energia elétrica por fontes alternativas crescerá 146% até 2019, com sua representatividade no sistema passando de 8% para 13%. A hídrica, por sua vez, cresce apenas 41% no período, e tem sua participação reduzida de 84% para 78%.

O movimento já era esperado, pois com a construção de usinas hidrelétricas a fio d'água (sem reservatórios), a tendência é haver maior necessidade de acionamento de outras fontes principalmente no período seco do ano (de maio a outubro).

O impacto sobre o custo da geração de energia térmica começará em 2012, com queda de 12%, reflexo da antecipação da usina hidrelétrica de Santo Antônio, com geração de 2.140 megawatts (MW) médios.

A partir de 2013, a queda se acentua para um patamar de 20% com a entrada das fontes alternativas contratadas nos últimos leilões realizados em agosto. São 1159 megawatts (MW) médios de energia gerada a partir de PCHs, eólicas e biomassa a entrar no sistema a partir de 2013, gerados por 70 centrais eólicas, 12 termelétricas à biomassa e 7 (PCHs), um investimento de R$ 9,7 bilhões.

A redução no custo de geração térmica, porém, não deve representar alívio para os consumidores. A previsão, segundo Erik Rego, diretor da Excelência Energética, é de que o custo para o consumidor atendido pelas distribuidoras cresça entre 25% a 30% acima da inflação até 2015.

De 2015 a 2019, sem a perspectiva de entrada em operação de novas termelétricas, a expectativa é de que o custo fique estável. "Essa evolução não considera o valor dos investimentos, o que significa que o impacto sobre as tarifas deve ser ainda maior", diz Rego.

Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE, o uso das térmicas não deve ser visto como algo negativo. "A energia termelétrica faz parte do nosso sistema elétrico. Se ela é mais cara na geração, por conta do gasto com combustível, as demais têm os gastos com o investimento, que também influencia na tarifa", diz ele.

Segundo o planejamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a participação das hidrelétricas na capacidade instalada do sistema elétrica passará dos atuais 74% para 70% em 2019. O peso das térmicas por sua vez, crescerá de 14% em 2010 para 15% em 2019. A diferença é preenchida pelas fontes alternativas - de 10% para 13%, sendo que a nuclear permanece com 2% de representatividade.

Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, entidade que representa os grandes consumidores de energia, diz que o que interessa para a indústria é ver o preço final do insumo, o que envolve não só o custo da geração. "Além do combustível, temos o custo da transmissão, com a geração de energia em locais distantes, a venda de energia hidrelétrica mais barata no leilão sustentada por um preço maior no mercado livre ", diz o dirigente. Segundo ele, o setor está preocupado com o aumento de custo.

Flávio Neiva, presidente da Abrage, associação dos geradores de energia, critica a opção do governo em investir em usinas sem reservatórios. Segundo ele, essa escolha significa a redução da garantia fixa das hidrelétricas e a necessidade maior de uso de fontes mais caras. "Utilizar reservatórios traz vantagens como enfrentar períodos de hidrologia desfavorável e aproveitar outros usos, como o turismo", diz. (Samantha Maia)

Fonte: Valor Econômico

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